segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 29

Cores cinzentas, sons frios e gélidos e um uso extensivo de uma distorção crua e afiada, geralmente acompanhada por letras ricas em frustração, desespero e depressão. Foi com estas características que foi gerado, nos anos 70, o Post-Punk. Nascido nos bares e clubes de Nova Iorque, Londres e Manchester, juntamente com o Punk, o Post-Punk não conheceu grande popularidade nos primeiros tempos. Contudo, a verdade é que este género foi-se tornando, aos poucos, num dos mais importantes para a construção do Alternative Rock, e a sua importância e a dos seus pioneiros ainda hoje se sente, e muito, na música contemporânea.

Por isso mesmo, a 29ª Mixtape da Semana é dedicada a esta corrente musical e a alguns dos nomes que ajudaram a criá-la. Com nomes como Public Image Ltd., The Fall ou Pere Ubu, esta é mais uma playlist obrigatória.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Public Image Public Image Ltd.
·         Pink Flag Wire
·         Mongoloid Devo
·         The Classical The Fall
·         Sketch For Summer The Durutti Column
·         Damaged Goods Gang of Four
·         Friction Television
·         Final Solution Pere Ubu
·         A Forest The Cure


domingo, 2 de setembro de 2012

Sweet Heart Sweet Light

Foi das cinzas dos Spacemen 3, um dos grupos mais inovadores e originais da música psicadélica britânica, que nasceram em 1990 os Spiritualized, projecto fruto da mente conturbada de Jason Pierce (aka J. Spaceman). Um dos nomes mais aclamados do Space Rock e do Psychedelic Rock dos anos 90 e 00, os Spiritualized contam já com sete discos de estúdio. O mais recente, Sweet Heart Sweet Light, viu a luz do dia a 16 de Abril, e é sobre ele que vamos falar hoje.

Se não conhecem os Spiritualized, façam-me um favor: parem de ler esta review e arranjem maneira de ouvir Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space, magnum opus dos Spiritualized e um dos melhores discos da colheita de 1997. Após essa experiência, é muito provável que acabem por comungar da admiração que sinto pelos Spiritualized de Jason Pierce e compreendam o porquê de todos os discos do grupo serem esperados com grande entusiasmo pelos fãs. Sweet Heart Sweet Light não foi excepção à regra, e foi sem dúvida um dos álbuns mais antecipados para 2012. E a verdade é que, depois de o ter ouvido, não pude deixar de me sentir satisfeito. Apesar de não conseguir repetir a proeza do LP de 1997, à semelhança de todos os registos que os Spiritualized têm lançado, o sétimo trabalho do grupo de J. Spaceman cumpre as expectativas e apresenta-se como um grande disco.

Assumidamente mais Pop do que os seus antecessores, Sweet Heart Sweet Light é um disco que mostra um lado mais acessível do Psychedelic Rock dos Spiritualized, tal como foi admitido por J. Spaceman. No entanto, e apesar de ser notório que este álbum “entra” de forma mais rápida e escorreita nos ouvidos, não se pode dizer que este sétimo registo do grupo é um álbum “fácil” de se ouvir. Pelo contrário, as cacofonias sinfónicas, os ruídos à lá Noise, as distorções abrasivas e os efeitos psicadélicos continuam bem patentes na sonoridade dos Spiritualized e mantêm-se no papel de “contraponto” dos arranjos orquestrais grandiosos, dos ritmos épico, das partes mais Blues-y e dos coros Gospel; simplesmente existe aqui uma certa sensação de “leveza” nunca antes vista na obra dos Spiritualized.

Essa “leveza” transparece claramente para as letras de Jason Pierce, que assina em Sweet Heart Sweet Light algumas das suas criações mais upbeat e solarengas da sua carreira. Apesar de continuar a versar de forma ligeiramente depressiva sobre os mesmos temas (em poucas palavras: Deus, drogas, dor, morte, vida e amor), a verdade é que também existem pequenos rasgos de esperança e vitalidade na dialéctica de J. Spaceman, algo que nunca esperava ver e que honestamente me agradou bastante.

Ao nível da produção, é de notar um ligeiro aumento na clareza e aprumo do som, e que se traduz numa estética que vai jogando muito bem entre o “grão” das malhas mais Rock e o brilho imaculado das canções mais opulentas e épicas. Quanto à voz de Pierce, esta mantém-se no seu registo bem fino e grave, mas aparece de forma bem mais límpida e definida do que o costume. No geral, Sweet Heart Sweet Light traz alguma frescura, mas mantém bem patente a identidade muito própria da sonoridade dos Spiritualized.

No entanto, nem tudo é agradável nesta obra, e existem alguns defeitos que acabam por “manchar” o bom trabalho desenvolvido por J. Spaceman e companhia. A começar, está uma certa inconsistência que se vai sentido em certos momentos do álbum e que por vezes chega a retirar-lhe o ímpeto. Outro problema é o facto deste Sweet Heart Sweet Light acabar por depender de certos “mecanismos” que se tornaram clichés da música dos Spiritualized: a orquestra grandiosa, a relação muito sui generis com deus e as drogas e o psicadelismo pseudo-medicinal. Apesar de apreciar, e muito, a sonoridade do grupo, a verdade é que já se começa a sentir falta duma injecção radical de originalidade.

Quanto às melhores canções deste disco, a multifacetada Hey Jane, a agridoce Get What You Deserve, a cativante Get What You Deserve Now, a tocante Freedom ou a hipnotizante I Am What I Am são, a meu ver, pontos totalmente obrigatórios. Quanto às canções que menos me cativaram, Little Girl, Too Late e Life is a Problem são peças que na minha opinião revelam uma qualidade inferior à do potencial de J. Spaceman e que demonstram bem o problema da inconsistência acima referido.

Resumindo, ao sétimo álbum os Spiritualized continuam a apostar na receita que tão bem conhecem de Psychedelic Rock espacial com infusões de Gospel e Blues, e isso traduz-se num Sweet Heart Sweet Light que, apesar dos ligeiros twists, irá agradar os fãs mais “velha guarda” da banda. É certo que tem os seus maus momentos e que demonstra que a fórmula utilizada por J. Spaceman está a começar a ficar um bocado gasta, batida e sem surpresas. Porém, a verdade é que, no geral, Sweet Heart Sweet Light é um disco muito bom e isso é o que mais conta no final.

Nota Final: 8.0/10

João Morais