Boa noite, caros leitores. Após uma interrupção prolongada, o Música Dot Com volta hoje pra vos trazer a avaliação, não de um álbum recente, mas sim de um disco que me marcou especialmente, e que escolhi devido ao fim recente da banda que o gravou: falo de “De Stijl”, dos White Stripes. Para quem não sabe, este grupo tornou-se, ao longo dos anos, um dos meus projectos musicais favoritos, e por isso, em jeito de tributo, irei falar-vos do meu disco favorito daquela que era a banda principal de Jack White. Iniciemos, pois então!
Para começar, devo já avisar: este disco não tem grandes singles. Não tem um “Seven Nation Army” ou um “Icky Thump”. Mas tem a alma, a força e a rebeldia suficientes para conquistar verdadeiros amantes da música (como eu). Apesar de não ser tão cru como o seu antecessor (“The White Stripes”, de 1999), “De Stjil” ainda mantém muito do Lo-Fi que está presente no primeiro disco. A produção pode ser um pouco mais polida, mas não é “limpa” o suficiente para tapar a “sujidade” do Punk Blues de Detroit, o que me agrada muito. No disco, consegue-se ouvir um misto entre baladas acústicas de fácil digestão e canções pujantes, cheias de força e com grande rebeldia no som, num balanço que não é fácil de atingir, mas que aqui Jack White consegue na perfeição. Músicas como “Little Bird”, “Let’s Build a Home” ou “Hello Operator”, cheias de vitalidade, conseguem dar-nos a volta ao estômago, tal é energia que trazem, enquanto que “Apple Blossom”, “Sister, Do You Know My Name?” e “I’m Bound to Pack It Up” trazem uma certa calma que nos relaxa, e nos deixa numa “zona de conforto” que nos leva a ficar surpreendidos quando estas músicas mais calminhas acabam e começa mais uma grande malha.
Em termos de género, é fácil descrever o álbum: uma mistela de Blues americano com Punk primitivo e de garagem, junto a uma ética DYI que torna as coisas muito simples, e até, diria eu, um toquezinho de inspiração de Beatles (eu, como grande fã dos Fab Four, tento sempre ouvi-los em todo o lado. Manias minhas). A bateria de Meg White, já se sabe, é muito simples e básica, mas é sólida o suficiente para chegar aonde é necessário. A guitarra de Jack White é muito mais solta e variada, e consegue ultrapassar em larga escala o que é o “mínimo”, mostrando que Jack é um grande guitarrista, com solos de cortar a respiração, misturados com riffs cheios de potência que nos deixam “à beira da cadeira”.
Se quiserem ouvir este disco, e não sabem por onde começar, recomendo-vos já três das minhas músicas favoritas do álbum: “You’re Pretty Good Looking (For a Girl)”, que abre o disco de forma magistral, “Death Letter”, a cover do cantor Son House, nome de referência do Country Blues americano, e “Let’s Build a Home”, uma faixa muito rápida de 1 minuto e 58 segundos, mas que consegue fazer as delícias de quem gosta de música rápida e servida sem rodeios. Se ouvirem estas canções e gostarem, estou certo que acharão em “De Stijl” um álbum de referência.
Em suma, “De Stijl” é, para mim, um dos poucos álbuns que posso considerar totalmente perfeitos. Pode não ser o álbum mais conhecido ou o mais aclamado da discografia dos White Stripes, mas a mim enche-me as medidas e a cada vez que o ouço, sinto que estou a ouvir algo de muito especial. A notícia do fim dos White Stripes deixou-me triste, mas pelo menos, nós, os fãs da banda e de música em geral temos em discos como este uma forma de ultrapassar essas “dores”.
João Morais
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