quarta-feira, 9 de março de 2011

The King of Limbs

Boa noite a todos. Após uma “pausazinha” de Carnaval,o MDC está de volta, com a review do mais recente disco duma banda muito especial: os Radiohead, e o seu “The King of Limbs”. Se bem se lembram, um álbum novo dos Radiohead foi visto pelo Música Dot Com como uma das grandes expectativas para 2011. Será que os ingleses conseguiram manter-se à altura do desafio dum novo disco? Vejamos.

Falemos primeiro da forma como este disco nos chegou às mãos. “The King of Limbs” trocou, sem dúvida, as voltas a toda a gente, ao nível do anúncio, promoção (ou falta dela, neste caso) e distribuição. Apesar de agora já não ser virtualmente grátis, como foi “In Rainbows”, “TKoL” ainda segue uma linha bastante irreverente no que toca à comercialização da música. Com o anúncio do disco a ser feito na Segunda-Feira, dia 14 de Fevereiro, marcado para 19, Sábado seguinte, e adiantado para a Sexta-Feira, dia 18, os Radiohead conseguiram surpreender toda a gente. Apesar de eu ter dito que esperava um novo álbum deles ainda este ano, devo confessar que não estava à espera que fosse lançado desta maneira, e tão cedo. Por isso, posso dizer que foi um choque para mim. No entanto, mais do que o choque, veio a surpresa. As modalidades de compra, divididas entre compra digital simples (MP3 ou WAV) e uma edição “jornal” com disco em vinil é algo que me intriga. O que será, em concreto, a edição em “jornal”? Bem, isso só o tempo dirá. Contudo, uma coisa é certa: os Radiohead chegaram a um ponto de segurança notável, onde conseguem fazer a sua música, e sem alarido, “libertá-la” para os fãs a ouvirem. E é aqui, no “ouvir”, que está o mais interessante do disco: a música em concreto.

À primeira “vista”, consegue-se fazer logo uma observação fácil: o álbum é curto. 8 músicas são pouco para uma banda que já nos habituou a discos com um comprimento considerável. No entanto, com os Radiohead, já se sabe: a qualidade está acima da quantidade, e este disco é a prova viva disso. Apesar de todos os rumores que circulam por aí duma “segunda parte” de “The King of Limbs”, a verdade é que se estas 8 faixas são tudo o que temos, então não estamos mal servidos. E nestas 8 faixas, encontramos uns Radiohead que contrariam o que se esperava deles. Enquanto que “In Rainbows” foi um regresso a uma música mais “orgânica” e “terra-a-terra”, com instrumentos mais “normais” para uma banda Rock, “The King of Limbs” mostra novamente um som mais etéreo e sonhador, reminiscente de “Kid A” e “Amnesiac”. Pode-se dizer, por isso, que “TKoL” mostra uma ruptura com a sonoridade de “In Rainbows”, se bem que se podem notar alguns pontos de contacto (especialmente na secção rítmica).

Analisando com mais cuidado, devo dizer que o álbum, no geral, agradou-me, apesar de “The King of Limbs” não ser de audição fácil. Como já é costume com os Radiohead, a primeira vez que ouvi o disco foi um pouco confusa. Apesar de não ter desgostado, não morri de amores pelo álbum. No entanto, despertou em mim uma curiosidade que me fez ouvir de novo, e encontrar texturas sonoras que me fizeram adorar o disco (a forma como a bateria e o baixo jogam entre si, ou as influências Jazz estão dentro destas “texturas” maravilhosas que escapam a um ouvido mais distraído). Por volta da terceira audição, rendi-me às evidências: os Radiohead são mestres naquilo que fazem. No entanto, devo confessar uma desilusão: falta um pouco mais de Jonny Greenwood neste disco. A guitarra dele, apesar de presente, não se faz ouvir com tanta intensidade em “TKoL” como se fez escutar em “In Rainbows”, e isso é uma pena, porque ele é um dos melhores guitarristas da actualidade.Contudo, o álbum tem muitas coisas boas que conseguem apagar esta lacuna.

Nas faixas iniciais (“Bloom”, “Morning Mr Magpie”, “Little by Little” e “Feral”) conseguimos ouvir “drumbeats” loopados, à boa moda de “15 Step” (o tal ponto de contacto), mas que aqui dão-nos uma sensação de ansiedade, que é, aliás, um dos temas que mais consegui captar deste álbum. Após este início mais mexido, passamos a “Lotus Flower”, o single de estreia do disco, e que é, de longe, a canção mais “acessível” do álbum. É “catchy” o suficiente para nos pôr a trautear a canção pouco depois de a termos ouvido. Uma faixa simples e eficaz. Depois passamos às músicas que eu menos gostei no disco: “Codex” e “Give Up the Ghost”. Não quero com isto dizer que são más, porque não são, mas parecem um pouco deslocadas, numa altura em que o ritmo do disco estava em claro “crescendo”. Isto alia-se ao que eu tinha dito sobre a tal “ansiedade”: ficamos com a expectativa que o disco desemboque numa “bomba”, mas esta nunca chega. E depois, assistimos a um corte no ritmo que mata esta intensidade que o disco poderia ter. A meu ver, há aqui um problema de estrutura, que poderia ter sido mitigado com uma outra ordem nas canções, que permitisse ao disco “crescer” livremente sem entraves. Uma falha do disco, a meu ver, e que pesa no meu veredicto final. Apesar de tudo, o disco acaba em grande, com “Separator” a dar-nos a sensação que algo fica por dizer, com umas enormes reticências a pairarem no horizonte. É nisto que os Radiohead são bons: a despertarem em nós coisas que não esperávamos vindas dum disco e música. Se é certo que “The King of Limbs” tem os seus pontos menos bons, este não é um deles, muito pelo contrário.

Em suma, os Radiohead assinam em “The King of Limbs” um álbum que é a “cara deles”. Com uma clara progressão para territórios que cada vez mais quebram as barreiras do género, Thom Yorke e companhia afirmam-se como uma das bandas mais relevantes do nosso tempo. Apesar das falhas, “The King of Limbs” não deixa de ser um bom disco, que recomendo, especialmente aos fãs da banda, que vão encontrar “familiaridades sonoras desconhecidas” (uma contradição tipicamente “Radiohead-esca”) neste álbum. Espero é que não demorem muito a lançar mais álbuns, porque um disco tão curto não chega para matar saudades.

Nota Final: 8,4/10

João Morais

1 comentário:

  1. escreves num tom extremamente informal mas compensas com o teu vasto conhecimento musical, (quem rima sem querer bla bla bla)
    amén

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