terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Roque Popular

Formados pelas mãos do veteraníssimo Jorge Cruz, em conjunto com outros nomes “sonantes” da música alternativa nacional, como Bernardo Barata e João Gil (dos Feromona), ou B Fachada (que abandonou o grupo este ano), os Diabo na Cruz são, indubitavelmente, um dos mais interessantes projectos que despontaram em Portugal nos últimos anos. Depois da estreia com o muito aclamado Virou!, em 2009, o grupo lançou a 23 de Abril deste ano o seu segundo LP, Roque Popular, e é dele que vamos falar hoje.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 39

Não há muito para dizer acerca da 39ª edição da Mixtape da Semana, além disto: é random, é caoticamente diversa e traz-vos uma colecção de 10 canções tremendamente apelativas e que vão, decerto, fazer com que a vossa semana se torne um bocadinho melhor. Enfim, é só carregar no play e sentir a música a puxar.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Swimming Pools (Drank) Kendrick Lamar
·         Atlas Battles
·         Don’t Let the Man Get You DownFatboy Slim
·         Monks Frank Ocean
·         Brother Sport Animal Collective
·         Stanley Kubrick Alvin Band
·         I’m Writing a Novel Father John Misty
·         Out of Touch Lotus Plaza
·         Station Russian Circles
·         Mama Taught Me Better Black Rebel Motorcycle Club


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 38

Depois de uma semana de interregno (sabem como é, a vida académica e as suas vicissitudes), a Mixtape da Semana está de volta para a sua 38ª edição, e com ela traz 10 magníficas canções para vos encher o coração. Desde Daniel Johnston a Radiohead, passando por Jorge Cruz ou The Strokes, esta é uma playlist totalmente random mas com músicas que vale a pena ouvir.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Heaven The Walkmen
·         Helplessness Blues Fleet Foxes
·         True Love Will Find You in the End Daniel Johnston
·         Crest The Antlers
·         Baby’s Wearing Blue JeansMac DeMarco
·         Entre Iguais Jorge Cruz
·         Vision of Division The Strokes
·         Apple Blossom The White Stripes
·         Não Pratico Habilidades B Fachada
·         Videotape - Radiohead


sábado, 1 de dezembro de 2012

Três EPês #3

Illusion Poor Moon [27 Mar]
- Vindos de Seattle e formados em 2012, os Poor Moon são um side-project de Casey Wescott e Christian Wargo, ambos membros dos Fleet Foxes, aos quais se juntam também Ian e Peter Murray. Assinados pela Sub Pop, verdadíssima editora norte-americana, este quarteto pratica um Folk que, apesar de demonstrar parecenças com a “nave-mãe” de Wescott e Wargo, não se limita a ser uma fotocópia ou um offshoot da sonoridade dos Fleet Foxes. Com um tom intimista, despido e que por vezes evoca influências do Blues e do Country, este Illusion traz-nos um conjunto de 5 canções bucólicas e belas. Um excelente EP, que abre certamente o apetite para Poor Moon, o homónimo LP que o grupo lançou a 28 de Agotso.
Pontos altos:
- Once Before
- Widow
Nota Final: 4.2/5

Undersea The Antlers [24 Jul]
- Sucedendo a Burst Apart (2011), este Undersea mostra uma grande continuidade com o trabalho demonstrado no quarto LP do grupo de Peter Silberman, trazendo de novo uma sonoridade Dream Pop etérea e relaxante que contrasta com a penumbra e a tristeza de Hospice, magnum opus da banda nova-iorquina e que data de 2009. No entanto, à semelhança de Burst Apart, este quarto EP do grupo também peca por uma grande inconsistência, que se vai sentindo ao longo do registo e que lhe retira o brilho e lhe confere uma incoerência muito pouco lisonjeira. Apesar de este não ser um mau EP, confesso que (e correndo o risco de ser apelidado de saudosista) à medida que vou ouvindo as mais recentes obras dos The Antlers, cada vez mais sinto saudades dos tempos de Hospice e da sua depressão bela e certeira.
Pontos altos:
- Endless Ladder
- Crest
Nota Final: 3.1/5

Letur-Lefr John Frusciante [17 Jul]
- Ex-guitarrista dos Red Hot Chili Peppers, barco de onde ajuizadamente saltou antes do naufrágio, John Frusciante decidiu dedicar-se de novo à sua carreira a solo, lançando como aperitivo de PBX Funicular Intaglio Zone (11º disco de estúdio do artista, lançado a 25 de Setembro) este Letur-Lefr. Pautando-se por uma abordagem muito experimental, Letur-Lefr traz-nos uma colecção de 5 peças que, ao contrário do que se poderia esperar do virtuoso guitarrista, estão muito longe do Rock e aproximam-se muito de territórios como a Electronica, a Synthpop ou até o Hip-Hop. Apesar de, aqui e ali, a guitarra ainda aparecer, a verdade é que o verdadeiro foco deste EP vai para a vasta utilização de sintetizadores, drum machines e samples, que dão a este registo o aspecto de uma collage de beats e sons diversos. Apesar de mostrar alguma inconsistência na sua segunda metade e de se apresentar algo desconexo, este Letur-Lefr deixou-me muito curioso para ouvir o seu “irmão mais novo”, pois mostra um John Frusciante nunca antes visto.
Pontos altos:
- In Your Eyes
- 909 Days
Nota Final: 3.8/5

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 37

Para fechar Novembro em beleza, a 37ª Mixtape da Semana traz-vos mais uma playlist criada aqui pelo Música Dot Com para vos animar os dias vindouros. Desta vez, a temática é a Electronica francesa e algumas das melhores faixas que ela já criou. Com nomes incontornáveis como o pioneiro Jean Michel Jarre, os ilustríssimos Daft Punk ou grande parte do plantel da Ed Banger Records, esta Mixtape promete pôr o vosso cérebro a trabalhar e as vossas pernas a dançar!

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Oxygène IV Jean Michel Jarre
·         Hun Mr. Oizo
·         Walkman SebastiAn
·         Pacific Coast Highway - Kavinsky
·         Music Sounds Better with You Stardust
·         Pedrophilia Busy P
·         Phantom Justice
·         Cassius 99 Cassius
·         Sexy Boy Air
·         Fresh Daft Punk


domingo, 25 de novembro de 2012

Zammuto


Apesar de ter começado a lançar discos a título individual ainda no ano 2000, Nick Zammuto só começou a ganhar notoriedade depois de formar, juntamente com Paul de Jong, um dos grupos mais experimentais e sui generis da última década, os nova-iorquinos The Books. Após a separação do duo, anunciada este ano, o norte-americano enveredou de novo pela carreira solitária, lançando a 3 de Abril o seu terceiro LP (e primeiro pós-The Books), o homónimo Zammuto, álbum que vai estar em análise hoje aqui no MDC.

Quem está familiarizado com a carreira e o trabalho dos The Books sabe bem que, ao longo dos anos, estes foram desenvolvendo um estilo muito próprio (e quase impossível de catalogar e etiquetar por críticos e fãs, diga-se de passagem), baseado numa técnica de “sound collage” imersa numa Folk misturada com Electronica, produzindo resultados muito crus, experimentais e extremamente originais.

Pois bem, foi com isso em mente que parti para este Zammuto, esperando que o norte-americano reproduzisse essa abordagem na sua reacesa carreira a solo. Porém, a verdade é que aquilo que encontrei na minha primeira audição deste LP deixou-me totalmente espantado; apesar de manter o espírito experimental e irreverente que tem demonstrado ao longo do seu percurso, com este Zammuto o artista traz-nos uma sonoridade muito sua e bastante diferente daquilo a que nos habituou nos The Books.

A primeira coisa em que se nota neste Zammuto é o facto de a abordagem em forma de “manta de retalhos” sonora desvanecer quase por completo, sendo substituída por uma sonoridade mais próxima da música dita “convencional”. As canções têm estruturas mais definidas, a guitarra e os sintetizadores assumem o protagonismo outrora dado aos samples (que aqui são raros) e o baixo e a bateria substituem as “secções rítmicas” dos The Books compostas por brinquedos e bugigangas. É certo que o estilo continua a estar bem situado na mistura da Folk com os trejeitos da Electronica, mas a verdade é que este LP aproxima-se muito mais dos Animal Collective de Sung Tongs do que dos The Books de The Way Out (2010).

Nos vocais, no entanto, o estilo patenteado dos The Books volta ao de cima e Nick Zammuto vê-se a percorrer de novo territórios bem familiares. As vozes, quando não são produzidas por um aparelho de “text-to-speech”, passam muitas vezes pelo vocoder ou pelo auto-tune (que aqui distorce e computadoriza, em vez de corrigir ou mascarar defeitos), dando ao disco um aspecto muito robótico. Quanto às letras, quando inteligíveis, mostram uma abordagem bastante abstracta e que aposta nos jogos de palavras e nas expressões com múltiplos significados. Na produção, vemos que este LP nos traz uma estética que, apesar de ser mais polida do que nas obras dos The Books, retém um certo pendor Lo-fi que dá ao disco uma grande angularidade e rudeza.  

Quanto aos defeitos deste Zammuto, confesso que não tenho muitos argumentos para utilizar. No entanto, é certo que está presente neste LP uma evidente inconsistência que se vai sentindo de forma pontual, aliada à presença de algumas canções menos cativantes, o que acaba por afectar a performance geral do registo. Tirando isso, é seguro afirmar que este é um disco sólido e que mostra um lado animado e colorido da música experimental.

Na hora de apontar peças favoritas, as minhas escolhas recaem na “saltitona” Yay, na densa F U C-3PO, na pujante Zebra Butt, na esquizofrénica Weird Ceiling e na agridoce Full Fading, tudo peças que, a meu ver, demonstram um grande valor. Por outro lado, as desinspiradas Idiom Wind, Too Late to Topologize e Harlequin acabam por ser as canções de que menos gostei e que falharam em me agarrar.

Em suma, com este Zammuto o músico nova-iorquino Nick Zammuto faz um reboot ao seu percurso a solo e mostra-nos uma nova abordagem e uma nova visão. Mantendo algum do legado dos The Books, Zammuto consegue, ainda assim, subverter tudo o que poderíamos esperar dele e apresentar-nos um disco bastante experimental que, não recusando a música Pop, brinca com as suas barreiras e apresenta-se como desafiante. É certo que tem alguns pontos menos bons, mas no geral, este Zammuto é uma aposta ganha quando se está à procura de um álbum animado, excitante e inovador.

Nota Final: 8.2/10

João Morais

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Curtas #5

Ghostory School of Seven Bells [28 Fev]
- Acarinhados por grande parte da crítica desde a sua estreia nos LP’s em 2008, com Alpinisms, os School of Seven Bells são, actualmente, uma dupla nova-iorquina composta por Benjamin Curtis e Alexandra Deheza, e apostam numa sonoridade Indie Pop pintada com inspirações vindas do Shoegaze e da Synthpop. Contudo, por mais que o hype se esforce por elevar aos panteões de 2012 o terceiro disco dos School of Seven Bells, a verdade é que este Ghostory revelou-se, na minha opinião, uma autêntica desilusão. Sensaborão, inconsistente e com muitos momentos mortos, este registo acaba por ser demasiado mediano e não justifica em nada o entusiasmo que se colocou à sua volta. É caso para dizer: “Don’t believe the hype”.
Pontos altos:
- The Night
- Scavenger
- When You Sing
Nota Final: 5.3/10

Sonik KicksPaul Weller [19 Mar]
- Um dos mais respeitados artistas da música britânica dos últimos 40 anos, Paul Weller chegou, aos 54 anos, a um estatuto que lhe dá a vantagem de já não ter de provar nada a ninguém. No entanto, se o desvanecer das pressões da opinião alheia pode ter os seus benefícios e permitir aventuras como o experimentalismo de Wake Up the Nation (2010), a verdade é que também pode deixar que algum laxismo e indulgência se instalem, como se pode assistir em Sonik Kicks. Não quero com isto dizer que o 11º disco a solo de Weller seja mau; pelo contrário, o seu Alternative Rock enérgico e bem pensado chegou a fazer-me, em algumas ocasiões, as delícias e até me fez lembrar em momentos a Britpop dos anos 90. Porém, a verdade é que, depois de bem pesados os pros e os contras, Sonik Kicks é um LP bastante desequilibrado e que não consegue fazer jus à carreira estelar de Weller nem suceder condignamente a Wake Up the Nation.
Pontos altos:
- Green
- That Dangerous Age
- Drifters
Nota Final: 6.3/10

Give You the Ghost Poliça [14 Fev]
- Vindos da cidade norte-americana de Minneapolis, no estado do Minnesota, os Poliça são um quinteto composto por Channy Leaneagh, Chris Bierden, Ben Ivascu, Drew Christopherson e Ryan Olson, estando no activo desde 2011. O 1º disco, Give You the Ghost, tem sido alvo de grande atenção por parte da crítica, especialmente depois do “apadrinhamento” por parte de Justin Vernon (líder dos Bon Iver), e traz-nos uma sonoridade Indietronica com claras influências da R&B. Contudo, apesar desta mistura poder parecer, à partida, algo de novo e original, a verdade é que a sonoridade do grupo neste LP acabou por me soar entediante e bastante vulgar. É certo que tem alguns pontos luminosos, mas no geral este Give You the Ghost é um álbum que não recomendo a ninguém.
Pontos altos:
- Violent Games
- Happy Be Fine
- Wandering Star
Nota Final: 2.7/10

Acousmatic Sorcery Willis Earl Beal [2 Abr]
- Com uma sonoridade que pode ser triangulada algures entre a penumbra do mundo de Tom Waits, o despojamento intimista de Daniel Johnston e o lo-fi de R. Stevie Moore, Willis Earl Beal é um artista norte-americano vindo de Chicago que lançou este ano o seu primeiro disco, Acousmatic Sorcery, depois de uma longa e tortuosa história de vida. Misturando Blues e Soul com um espírito de luta e sofrimento reminiscente das origens do Rock & Roll e com uma estética despida e muito DIY, o LP de estreia de Willis Earl Beal demonstra um grande experimentalismo na forma como conjuga a genuinidade da dor com a frieza abrasiva do sintetizador fantasmagórico e da guitarra desalinhada. Contudo, apesar da extrema originalidade do som de Acousmatic Sorcery, não posso dizer que me tenha convencido, pois apresenta-se como um registo extremamente desalinhado, confuso e que, apesar das promessas, nunca “concretiza” algo que me agarre verdadeiramente. Apesar disso, confesso que fico curioso para ver o que é que Beal tem para nos mostrar no futuro.
Pontos altos:
- Ghost Robot
- Swing on Low
- Angel Chorus
Nota Final: 5.0/10

Kill For Love Chromatics [26 Mar]
- Quarto disco dos norte-americanos Chromatics, Kill For Love mantém a linha conceptual que o grupo iniciou em Night Drive (2007) de juntar uma sonoridade Synthpop e electrónica dançável com influências vindas da Dream Pop e do Post-Punk. E, à semelhança do que se passou com o seu antecessor, este Kill For Love falhou em agarrar a minha atenção. O som pareceu-me demasiado vulgar e derivativo e as canções, no seu geral, pareceram-me tão aborrecidas nas suas estruturas e composições que não me conseguiram cativar nem um bocadinho. A isso junta-se também a vil afronta de terem feito uma ABOMINÁVEL versão de Into the Black, lendária canção de Neil Young, o que só serviu para incendiar na negativa os meus ânimos neutros em relação a este inócuo trabalho dos Chromatics. Salvo os pontos luminosos abaixo referidos, este Kill For Love não tem, para mim, uma pontinha por onde se pegar.
Pontos altos:
- Kill For Love
- The Page
- The River
Nota Final: 2.0/10

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 36

Chegando um bocadinho mais tarde do que o costume, a 36ª Mixtape da Semana traz-vos, ainda assim, a receita do costume: 10 canções para entreter os vossos ouvidos sedentos de boa música. Mais uma vez em modo “shuffle”, a playlist de hoje consegue, ainda assim, ter uma certa abrasividade que é comum a (quase) todas as peças. Uma Mixtape cinzenta para dias cinzentos.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Better Living Through ChemistryQueens of the Stone Age
·         How Long Must I Wait Dr. Dog
·         Shot By Both Sides Magazine
·         Doused DIIV
·         Minor Threat Minor Threat
·         So Far Away A Place to Bury Strangers
·         Agoraphobia Deerhunter
·         Chissy E Trust
·         Kerosene Big Black
·         Crime Time Pop. 1280


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Open Your Heart

Formados em 2008 em Brooklyn, capital oficiosa da música independente, os The Men são um dos nomes mais promissores da música alternativa norte-americana, algo que se deverá ao facto de terem animado meio mundo com o seu Alternative Rock com laivos de Punk, Noise e Post-Hardcore, entre outros géneros. Depois da tímida estreia com Immaculada (LP de 2010 de tiragem inicial limitada a 500 exemplares) e do seu sucessor, Leave Home (2011), o grupo lançou, a 6 de Março, Open Your Heart, disco de que vamos falar hoje.

Como já tive oportunidade de referir em ocasiões anteriores, uma das minhas (poucas) labels de estimação é, sem dúvida, a Sacred Bones Records, instituição Indie nova-iorquina em que confio quase cegamente e que tem no seu “plantel” um rol de artistas e bandas mui respeitável e interessante. Foi por isso mesmo que, ainda na (já) longínqua Primavera deste ano, tive a felicidade de “descobrir” os The Men e o seu terceiro álbum, uma das mais sólidas obras de 2012.

Para quem teve a oportunidade de ouvir em antemão Immaculada e Leave Home fica aqui o aviso: se estão à espera de encontrar em Open Your Heart o mesmo Noise Rock monolítico e pouco limado e não estão dispostos a conceder ao grupo espaço para variações e mudanças, este disco não é para vocês. Ao terceiro álbum, os The Men dão um passo de gigante na direcção duma sonoridade mais “aberta” e experimental, que junta ao Alternative Rock do quarteto sonoridades e inspirações vindas de géneros como o Surf Rock (no delay e reverb esporadicamente usados), Country (nas guitarras acústicas solarengas e campestres), Blues (em alguns versos de guitarra mais tradicionais e na parca utilização da lap steel guitar) e até Doo-Wop (nos raros coros femininos e nos riffs mais gingões).

A estas alterações estilísticas junta-se também uma mudança clara nas opções estéticas; apesar de os The Men ainda manterem uma forte componente Noise na maioria das suas composições e de estas ainda serem acima de tudo bastante sujas e cruas, a verdade é que também se nota um esforço na produção para fazer com que a sonoridade se torne mais acessível. Isso é notório na forma como o grupo alia a abrasividade da distorção com melodias e estruturas mais pop, algo que faz lembrar de certa forma os trabalhos de grupos como The Replacements, Hüsker Dü ou Yo La Tengo.

Ao nível das vozes, também é notório um “apaziguamento” dos ânimos dos vocalistas Mark Perro e Nick Chiericozzi. Apesar de ainda ser possível sentir algum angst na entrega vocal dos dois artistas, este está muito mais sublimado quando comparado com os gritos e vociferações presentes em muitas das faixas de Immaculada e Leave Home. Este refrear de emoções também é acompanhado no departamento lírico, onde os temas acabam por ser muito mais intimistas, dóceis e despreocupados do que nos discos anteriores.

No entanto, aquelas que são as maiores qualidades de Open Your Heart acabam por ser, de certa forma, os seus maiores defeitos: no “reverso da medalha” da heterogenia em larga escala está uma certa sensação de desalinho e de falta de balanço; a opção por uma via mais experimental e variada acaba por comportar também, infelizmente, uma certa perda de identidade pessoal; e o grande recurso a elementos estilísticos inspirados num revivalismo da sonoridade de outros grupos faz com que, em alguns momentos, os The Men acabem por ser um pouco derivativos demais. No entanto, a verdade é que estas imperfeições, no fim de contas, acabam por não retirar ao grupo o mérito deste belo disco.

Quanto aos destaques individuais deste Open Your Heart, sublinho a encorpada Oscillation, a veloz Please Don’t Go Away, a sincera Open Your Heart, a corrosiva Cube e a desarmante Ex-Dreams como os pontos mais positivos deste álbum. Pelo contrário, já a desinspirada Presence e a descabida Country Song aparecem, a meu ver, como as únicas faixas remotamente dispensáveis de todo este LP.

Em resumo, com este Open Your Heart os norte-americanos The Men demonstram, de forma quase paradoxal, uma maior maturidade na experimentação aliada a uma maior despreocupação com a estrutura e a coesão do disco. Filtrando inspirações de vários nomes já mencionados (e aos quais podemos facilmente juntar outros como Buzzcocks, Sonic Youth ou The Jesus Lizard), o grupo acaba por criar uma “manta de retalhos” bem variada e difícil de categorizar. É certo que este registo também tem as suas falhas e os seus momentos menos positivos, mas uma coisa é certa: Open Your Heart é a prova segura de que os The Men fazem aquilo que lhes dá na real gana. E nós estamos cá para os ouvir.

Nota Final: 8.6/10

João Morais

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 35 [Emanuel Graça]

Por esta altura o Emanuel Graça já não deve ser nenhum desconhecido para os leitores do MDC. Por isso, e porque me estava a apetecer descansar um bocadinho desta tarefa, decidi convidá-lo para elaborar mais uma playlist aqui para o blog. Desta feita, a 35ª edição da Mixtape da Semana é da completa responsabilidade dele, e é isto que o rapaz tem a dizer sobre as suas escolhas:

“Com uma selecção completamente “random”, esta playlist mostra-vos o que mais se tem ouvido por estas bandas nestes últimos tempos. Bastante ampla e ecléctica, com esta dezena de músicas é possível viajar desde a música abstracta e complexa dos Disco Inferno até ao Hip-Hop experimental de Flying Lotus, que lançou um dos meus discos favoritos de 2012 (Until The Quiet Comes). Destaco também a inclusão de Nick Drake e Tim Buckley nesta lista, para não falar do (para que me já me conhece razoavelmente bem) mui cliché Jeff Buckley.”

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         In Sharky WaterDisco Inferno
·         Time, Gentleman, Time Oxbow
·         Nothing Much to Lose My Bloody Valentine
·         ... And the World Laughs with You Flying Lotus (ft. Thom Yorke)
·         Things Behind the Sun Nick Drake
·         Song to the Siren Tim Buckley
·         Dream Brother Jeff Buckley
·         Panic The Smiths
·         Memories Can’t Wait Talking Heads
·         Threads This Will Destroy You


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Música Nova: JUBA

É engraçado ver como o mundo ainda nos consegue surpreender: numa altura em que estávamos todos à espera de novidades do prodígio do chillwave nacional Tropical Tobacco, o rapaz decidiu trocar-nos as voltas, ir buscar amigos (os Colour is a Common Mistake e João Isaac dos Super Clarks) e “criar” os JUBA. Sediado em Lisboa, este quarteto descreve a sua sonoridade como “Hindu Surf Riot”, uma belíssima mistura de Indie Rock com influências quentes do Surf Rock e muitos laivos de um psicadelismo trippy e despreocupado.

O primeiro resultado deste “cozinhado” chegou-nos no início de Outubro sob a forma de Lion King (vídeo acima), gravação “caseira” para o casting do Vodafone Mexefest, mas foi preciso esperar até ao dia 23 do mês passado para podermos ouvir, via Bodyspace, o primeiro single oficial do grupo: Bloodvessels. Produzida por Makoto Yagyu e Fábio Jevelim, a faixa foi lançada no Bandcamp do grupo no dia 25 e serviu para aguçar, e de que maneira, as expectativas em relação a estes rapazes. Agora resta-nos esperar que os JUBA dêem seguimento ao trabalho, de preferência ainda em tempo frio, para nos poderem aquecer no Inverno com os seus ritmos quentes e hipnóticos.

Para saberem mais sobre os JUBA e poderem ouvir/sacar Bloodvessels:


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 34

Na edição de hoje da Mixtape da Semana, e que é já a 34ª, voltamos a ter uma playlist completamente random e que é composta por algumas das músicas que mais andamos a ouvir nos últimos tempos. Misturando os clássicos com as novas tendências, esta é mais uma compilação a não perder, com o selo de qualidade MDC.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Never MeantAmerican Football
·         Massive WindowsThe Act of Estimating as Worthless
·         A Token of Gratitude The Radio Dept.
·         Tessellate Alt-J (∆)
·         Squirrel Song Shellac
·         Good Worker iamamiwhoami
·         Blitzkrieg Bop Ramones
·         Thank God for Sinners Ty Segall
·         Motoring TOY
·         Song About an Angel Sunny Day Real Estate

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mixtape da Semana // Week 33 [Ornatos Violeta]

Numa altura em que já vamos mais ou menos “a meio” dos concertos de celebração dos Ornatos Violeta, o MDC achou por bem dedicar uma playlist aquela que é, para muitos, uma das mais importantes bandas da música Pop portuguesa de sempre. Por isso mesmo, a 33ª edição da Mixtape da Semana é composta apenas por músicas da banda portuense e é “meio cão, meio monstro”, com cinco canções do primeiro disco do grupo (Cão!, de 1997) e cinco peças do segundo LP (O Monstro Precisa de Amigos, de 1999).

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Punk Moda Funk
·         Dia Mau
·         Homens de Princípios
·         Chaga
·         Débil Mental
·         O.M.E.M.
·         1 Beijo = 1000
·         Deixa Morrer
·         A Dama do Sinal
·         Fim da Canção


terça-feira, 23 de outubro de 2012

The Money Store

Projecto californiano formado por Zach Hill, Andy "Flatlander" Morin e MC Ride em 2010, os Death Grips são um dos nomes que mais burburinho tem gerado na indústria musical nos últimos tempos devido à irreverência que mostram no seu som, na sua postura e no seu marketing. Depois de uma mixtape lançada em 2011, Exmilitary, que lhes valeu um contrato com a Epic (subsidiária da Sony Music) e a atenção de muito boa gente na “comunidade alternativa”, o trio norte-americano comprometeu-se a editar este ano dois LP’s. O primeiro, lançado a 21 de Abril, tem o título de The Money Store e é dele que vamos hoje falar.

Apesar de não ter ficado totalmente rendido a Exmilitary (como as 3 pessoas que acompanharam as Curtas do final de 2011 bem sabem), admito que fiquei bastante interessado na invulgar mistura de Industrial e Noise com Hip-Hop dos Death Grips e que vi neles um grande talento e um tremendo potencial. Por isso mesmo não é de estranhar que The Money Store estivesse num lugar bem cimeiro da minha lista de discos mais esperados para 2012, algo que só foi exacerbado quando as primeiras canções do álbum começaram a surgir na internet.

Porém, por muito elevadas que estivessem as minhas expectativas, tenho de confessar que nada me preparou para a autêntica bomba que me rebentou no colo no momento em que The Money Store me passou pelos ouvidos pela primeira vez. Com os seus 41 minutos recheados de caos, rebeldia e experimentação absolutamente viciantes, o primeiro LP dos Death Grips arrebatou-me o coração quase por completo e depressa se tornou num dos discos mais rodados dos últimos meses aqui em casa (para grande infelicidade dos vizinhos). Resumindo, The Money Store é um dos meus discos favoritos deste ano.

Quem ouviu Exmilitary sabe que uma das suas características mais fortes foi a forma como fundiu uma agressividade sonora cega com uma incrível sensibilidade Pop para criar versos infecciosos e memoráveis. Em The Money Store, o que assistimos não é a uma alteração deste esquema mas sim à sua afinação: a abrasividade e a agressividade aparecem de forma mais forte e direccionada, e os refrães e os hooks são ainda mais catchy. Ao nível da produção, a cargo de Zach Hill e Flatlander, assistimos à mistura de vários samples e loops com instrumentação mais “analógica” (sobretudo bateria e sintetizadores), o que ajuda a dar ao disco o aspecto duma “colagem sonora” que, com a estética suja e crua, assume tonalidades muito negras e sombrias.

Quanto às letras, vemos em The Money Store uma composição por camadas: se à superfície temos MC Ride a encarnar um mero vagabundo violento, à medida que vamos mergulhando na lírica do disco vamos compreendo que, mais do que um mero delinquente, a personagem do álbum assume-se como uma espécie de “oráculo” das ruas que, para resumir, já viu e sofreu muita merda marada, desde crimes a brutalidade policial. Para além disso existem múltiplas referências à Pop culture actual (Lady Gaga ou WikiLeaks, por exemplo) que dão ao disco uma grande actualidade e uma dimensão de crítica social mordaz bem vincada. Isso, quando aliado à entrega vocal brutal e furiosa de MC Ride, dá a The Money Store uma força que vem não só da violência sonora mas também da violência do conteúdo conceptual, o que separa os Death Grips de quase tudo o que se faz actualmente no Hip-Hop.

No que toca aos defeitos, a minha única queixa a fazer a The Money Store é o facto de estarem incluídas no disco algumas faixas que, a meu ver, não se encaixam bem e que, por retirarem algum do ritmo ao álbum, podiam muito bem ser retiradas que daí não viria mal nenhum. Se não fosse esse problema, e uma ou outra aresta que poderia ter sido limada, e este The Money Store seria um LP perfeito e de excepção.

Quanto às escolhas de canções individuais, no rol das minhas favoritas incluem-se a demolidora The Fever (Aye Aye), a desconcertante Hustle Bones, a contagiante I’ve Seen Footage, a esquizofrénica Punk Weight e a viciante Hacker. Quanto às peças de que menos gostei, Lost Boys, Blackjack e Fuck That são tudo canções que, como já referi anteriormente, por mim poderiam nem estar presentes no disco.

Resumindo, com The Money Store os Death Grips vêm chocar grande parte da cena alternativa e afirmam-se como um dos mais interessantes, inovadores e thought provoking da música actual. Mesclando Experimental Hip-Hop com Noise, Industrial e uma atitude muito digna do DYI e do Punk, o trio norte-americano consegue, com o seu primeiro LP, esbater as fronteiras do Hip-Hop e alargar os seus alcances. É certo que não é um álbum perfeito e que, devido à sua aspereza e abrasividade, acaba por ser um “gosto adquirido” que não é facilmente entendível por todos. Mas a verdade é que, ainda que não chegue a toda a gente, The Money Store é um dos poucos álbuns que consegue abalar as fundações de um género por completo.

Nota Final: 9.0/10

João Morais

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mixtape da Semana // Week 32

A Mixtape da Semana traz-vos, para a sua edição número 32, uma playlist dedicada às músicas instrumentais. Sem letras e sem vozes (tirando os eventuais gritos e interjeições indistintas), esta colectânea irá com certeza fazer-vos levantar do chão e alegrar o vosso começo de semana.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Leaving Hope Nine Inch Nails
·         DMZ BADBADNOTGOOD
·         Day Four Explosions in the Sky
·         Sweet and Low Fugazi
·         Monsoon: Top to Bottom Portico Quartet
·         Saved by the Bell Miami Nights 1984
·         Pata Lenta Norberto Lobo
·         Raindance Lone
·         theseRIOTSareJUSTtheBEGGINING And So I Watch You From Afar
·         Oro y Sangre John Talabot