domingo, 25 de novembro de 2012

Zammuto


Apesar de ter começado a lançar discos a título individual ainda no ano 2000, Nick Zammuto só começou a ganhar notoriedade depois de formar, juntamente com Paul de Jong, um dos grupos mais experimentais e sui generis da última década, os nova-iorquinos The Books. Após a separação do duo, anunciada este ano, o norte-americano enveredou de novo pela carreira solitária, lançando a 3 de Abril o seu terceiro LP (e primeiro pós-The Books), o homónimo Zammuto, álbum que vai estar em análise hoje aqui no MDC.

Quem está familiarizado com a carreira e o trabalho dos The Books sabe bem que, ao longo dos anos, estes foram desenvolvendo um estilo muito próprio (e quase impossível de catalogar e etiquetar por críticos e fãs, diga-se de passagem), baseado numa técnica de “sound collage” imersa numa Folk misturada com Electronica, produzindo resultados muito crus, experimentais e extremamente originais.

Pois bem, foi com isso em mente que parti para este Zammuto, esperando que o norte-americano reproduzisse essa abordagem na sua reacesa carreira a solo. Porém, a verdade é que aquilo que encontrei na minha primeira audição deste LP deixou-me totalmente espantado; apesar de manter o espírito experimental e irreverente que tem demonstrado ao longo do seu percurso, com este Zammuto o artista traz-nos uma sonoridade muito sua e bastante diferente daquilo a que nos habituou nos The Books.

A primeira coisa em que se nota neste Zammuto é o facto de a abordagem em forma de “manta de retalhos” sonora desvanecer quase por completo, sendo substituída por uma sonoridade mais próxima da música dita “convencional”. As canções têm estruturas mais definidas, a guitarra e os sintetizadores assumem o protagonismo outrora dado aos samples (que aqui são raros) e o baixo e a bateria substituem as “secções rítmicas” dos The Books compostas por brinquedos e bugigangas. É certo que o estilo continua a estar bem situado na mistura da Folk com os trejeitos da Electronica, mas a verdade é que este LP aproxima-se muito mais dos Animal Collective de Sung Tongs do que dos The Books de The Way Out (2010).

Nos vocais, no entanto, o estilo patenteado dos The Books volta ao de cima e Nick Zammuto vê-se a percorrer de novo territórios bem familiares. As vozes, quando não são produzidas por um aparelho de “text-to-speech”, passam muitas vezes pelo vocoder ou pelo auto-tune (que aqui distorce e computadoriza, em vez de corrigir ou mascarar defeitos), dando ao disco um aspecto muito robótico. Quanto às letras, quando inteligíveis, mostram uma abordagem bastante abstracta e que aposta nos jogos de palavras e nas expressões com múltiplos significados. Na produção, vemos que este LP nos traz uma estética que, apesar de ser mais polida do que nas obras dos The Books, retém um certo pendor Lo-fi que dá ao disco uma grande angularidade e rudeza.  

Quanto aos defeitos deste Zammuto, confesso que não tenho muitos argumentos para utilizar. No entanto, é certo que está presente neste LP uma evidente inconsistência que se vai sentindo de forma pontual, aliada à presença de algumas canções menos cativantes, o que acaba por afectar a performance geral do registo. Tirando isso, é seguro afirmar que este é um disco sólido e que mostra um lado animado e colorido da música experimental.

Na hora de apontar peças favoritas, as minhas escolhas recaem na “saltitona” Yay, na densa F U C-3PO, na pujante Zebra Butt, na esquizofrénica Weird Ceiling e na agridoce Full Fading, tudo peças que, a meu ver, demonstram um grande valor. Por outro lado, as desinspiradas Idiom Wind, Too Late to Topologize e Harlequin acabam por ser as canções de que menos gostei e que falharam em me agarrar.

Em suma, com este Zammuto o músico nova-iorquino Nick Zammuto faz um reboot ao seu percurso a solo e mostra-nos uma nova abordagem e uma nova visão. Mantendo algum do legado dos The Books, Zammuto consegue, ainda assim, subverter tudo o que poderíamos esperar dele e apresentar-nos um disco bastante experimental que, não recusando a música Pop, brinca com as suas barreiras e apresenta-se como desafiante. É certo que tem alguns pontos menos bons, mas no geral, este Zammuto é uma aposta ganha quando se está à procura de um álbum animado, excitante e inovador.

Nota Final: 8.2/10

João Morais

Sem comentários:

Enviar um comentário