Aqui no MDC, B Fachada é um artista que dispensa apresentações. Com três LP’s e
seis EP’s lançados em nome próprio, Fachada
já cimentou bem o seu nome na “cena”, sendo uma das figuras grandes da “Nova
Música Portuguesa”. Hoje, em dia de aniversário do Música Dot Com, vamos
falar do seu mais recente trabalho, Deus, Pátria e Família, EP
distribuído gratuitamente na internet em Junho deste ano.
Não é a primeira vez que escrevo sobre
um trabalho de Fachada, como alguns
de vós devem saber. Por isso, não deve ser nenhuma surpresa a minha admiração
pela obra deste verdadeiro “bardo suburbano”, que é, a meu ver, um dos melhores
artistas nacionais da actualidade. Por isso, peço desculpa pela minha abordagem
de fanboy, mas a verdade é que Deus,
Pátria e Família conseguiu conquistar-me por completo.
Para quem se lembra, o disco anterior de
B Fachada foi B Fachada É Pra Meninos,
lançado em Dezembro do ano passado, e contava com um rol de canções falsamente
infantis, que sob a “capa” de uma sonoridade Indie Pop mais acessível, escondia letras maduras e reflexivas. Em Deus,
Pátria e Família, porém, Fachada
mostra-nos apenas uma canção, de 20 minutos, que preenche todo o EP, com
uma Pop mais adulta e agarrada ao
piano, e com letras que fazem lembrar FMI (1982), de José Mário Branco, com letras bem amargas, directas e
interventivas.
Dividida em quatro partes (duas das
quais se repetem, formando uma espécie de ciclo), Deus, Pátria e Família
vai alternando, ao longo dos seus 20 minutos, entre ritmos mais efusivos e
mexidos, partes mais “sonhadoras” e contemplativas e fases mais lentas,
baladeiras e intimistas, dando ao registo uma dinâmica que impede que a faixa
se torne repetitiva, ou aborrecida.
Ao nível das letras, prato forte de B Fachada, assistimos, como já referi,
a temas bastante directos e interventivos, que podem ser interpretados com um
olhar mais “político”, especialmente quando se tem em conta a crise que o nosso
país atravessa. Também no campo lírico se sente uma certa alternância, aqui
entre um lado mais crítico e “bruto” contra Portugal, e uma faceta mais
esperançosa e terna.
Ao nível da produção, cujos créditos são
divididos entre Fachada e Eduardo Vinhas , ouve-se um tratamento mais
cru do que em B Fachada É Pra Meninos, o que condiz com o sentimento geral do
EP, algo que me agrada muito. Confesso que isto, aliado a tudo o que já referi
anteriormente, faz com que este Deus, Pátria e Família seja, para
mim, uma obra imaculada, e talvez o melhor EP que eu ouvi este ano.
Resumindo, Deus, Pátria e Família é
um EP de excepção, com uma canção de 20 minutos que prima pela falta de falhas.
Com letras duras e incisivas habilmente criadas, B Fachada envereda por um caminho diferente de tudo o que fez
anteriormente, mostrando que este é um artista que se reinventa constantemente,
atributo muito raro nos dias que correm. Agora, resta aos fãs de Fachada aguardar que o seu quarto
longa-duração seja lançado, algo que deve acontecer ainda este ano. Até lá,
ficamos com este belíssimo EP.
Nota
Final: 5/5 (para os EP’s, o sistema de notas é
diferente)
João Morais
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