Os The Throne são um duo norte-americano de Hip-Hop formado por Kanye West e Jay-Z, dois artistas que dispensam apresentações. Com provas dadas nas suas carreiras, e com os seus mais recentes discos a terem sido bem recebidos pela crítica (Jay-Z com The Blueprint 3 e West com o maravilhoso My Beautiful Dark Twisted Fantasy), esta dupla decidiu juntar-se para um projecto conjunto, o disco Watch the Throne, que será hoje falado aqui.
Confesso-me fã, tanto de Kanye como de Jay-Z, que vêm ambos de LP’s muito bem sucedidos, tanto a nível comercial como crítico: My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) é, discutivelmente, um dos melhores álbuns do ano passado, e The Blueprint 3 (2009) é um claro regresso à “forma” de outros tempos de Jay-Z, depois de um período de discos menos bons. As expectativas para este Watch the Throne estavam, por isso, bem elevadas.
Contudo, quando ouvi este longa-duração, confesso que não pude deixar de me sentir um pouco desiludido. Apesar de oHip-Hop de “alta-costura” de ambos os artistas ainda estar lá, a verdade é que o disco, no geral, não me impressionou. Não posso dizer que é um mau álbum, mas verdade é que Watch the Throne, para mim, não passa da barreira do aceitável.
Ao nível da sonoridade, continuamos a ter aquele Hip-Hop fortemente produzido, com grande recurso a samples e batidas Dance Pop a que estes dois artistas já nos habituaram. Contudo, se na segunda metade do disco essa produção é de grande qualidade e consegue ser cativante, na primeira o som soa-me desinspirado e de nível bastante inferior, chegando a ser um horror de se ouvir em algumas canções.
Outro aspecto que notei neste Watch the Throne foi o uso do Auto-Tune, que está presente em muitos momentos do LP. E se bem que em canções como That’s My Bitch ou Murder to Excellence esse efeito fique bem, também é verdade que a meu ver “estraga” faixas com potencialidade, como a faixa de abertura No Church in the Wild ou Gotta Have It.
No que toca às letras, o mesmo problema que verifiquei na produção volta a surgir: se em algumas das canções estas são fortes e bem pensadas, noutras peças a escrita soa-me forçada, desinspirada e pouco sincera. Em grande parte do álbum,West e Jay-Z não passam de “gabarolas” que fazem questão de nos descrever a sua vida luxuosa, algo que chega a ser excessivo. Contudo, quando falam de temas como a paranóia que surge quando se está no topo (Why I Love You) ou de criminalidade violenta dentro da comunidade negra (Murder to Excellence), os rappers parecem honestos e sérios, algo que me agradou.
Entre as minhas faixas favoritas do disco encontram-se Why I Love You, que encerra muito bem o LP, That’s My Bitch, que consegue fazer passar um ambiente obscuro muito interessante, e aquela que é a meu ver a melhor de Watch the Throne, Murder to Excellence, onde as letras de cariz social e a sonoridade acelerada fundem-se criando uma canção excelente. Infelizmente, a qualidade destas (e doutras) boas canções vê-se diluída em peças a meu ver inferiores, como Lift Off, Otis ou Who Gon Stop Me.
Concluindo, Watch the Throne não seria um mau disco de estreia caso Kanye West e Jay-Z fossem completos desconhecidos. Contudo, o peso do legado que ambos carregam faz-se sentir, e este LP torna-se quase inadmissível para artistas deste nível. Se por acaso os The Throne continuarem, fico à espera de muito melhor, pois este álbum não me deixou convencido.
Nota Final: 5,7/10
João Morais
(Este texto foi originalmente publicado no Espalha Factos e pode ser visto aqui)
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