quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2010 em Revista Parte 8 (e última)

E assim chegamos à oitava e última parte de “2010 em Revista”. Depois de sensivelmente um mês a passar os olhos pelo ano que está a terminar, consegui concluir esta verdadeira saga. E hoje, trago-vos quatro álbuns, os últimos a que faço review este ano. Espero que tenham gostado desta viagem que fizemos a este ano tão singular que foi 2010, e que se preparem para embarcar na última parte desta jornada. Comecemos, pois então.

Ariel Pink’s Haunted Graffiti – “Before Today” - E começamos com o senhor Ariel Pink e os seus Haunted Graffiti, o grupo que ele usa como suporte para as suas criações musicais. Este “Before Today” é já o 12º álbum de Ariel Pink (se bem que ele diz que é o seu primeiro, vá-se lá saber porquê. Excentricidades.), e trás algumas novidade na sonoridade de Ariel Pink. Não é uma total ruptura, mas o Freak Folk que se fazia sentir em outros registos desaparece aqui por completo. Mas para fazer uma descrição do álbum, pode-se fazer uma simples equação: Lo-Fi (sempre presente na obra de Ariel Pink) + Experimentalismo + Revivalismo Rock + Pitadas de Chillwave + traços de New Wave = “Before Today”. E devo dizer que esta equação não soa nada mal não senhora. Apesar de algumas músicas estarem abaixo da média (a faixa que abre o álbum, “Hot Body Rub”, pode ser um pouco dissuasora, mas se arriscarem e ouvirem o resto do disco, não vão sair desapontados), em geral o álbum está bem feito, soa bem ao ouvido, e tem poucos defeitos. Músicas como “Bright Lit Blue Skies” (uma cover duma canção clássica do Rock N’ Roll) ou “Revolution’s a Lie” (uma linha de baixo a soar a Post-Punk dos anos 70/80) fazem deste um dos discos obrigatórios de 2010.

Músicas obrigatórias:

- “Bright Lit Blue Skies”

- “Round and Round”

- “Beverly Kills”

- “Revolution’s a Lie”

Nota Final: 8,8/10

Joanna Newsom – “Have One On Me” – E prosseguimos com a cantautora (peço desculpa pelo neologismo, que se está a tornar frequente nas minhas reviews, mas eu gosto da palavra, e não posso fazer nada quanto a isso) californiana Joanna Newsom, que nos traz neste 2010 “Have One On Me”, o seu 3º disco de originais, e que segue a linha Indie Folk acompanhada de harpa e piano que tem vindo a ser usual nos seus discos. Devo dizer que Newsom não é de fácil entrada (muito por causa da sua voz “carismática”, chamemos-lhe assim), e eu sei isto muito bem porque a música dela simplesmente não me convenceu. Vou ser franco, não gostei do álbum. Aliado à voz pouco apelativa de Joanna, temos a repetição das músicas, com a mesma fórmula quase sem tirar nem pôr, e uma monotonia que é sentida por quase todo o disco. Apesar de ter algumas músicas engraçadas (“’81” e “Soft As Chalk”, por exemplo), 5 faixas que se aproveitem num álbum de 18 é uma obra de pouco mérito. O meu veredicto é que este é um álbum muito mediano, e que não merece o hype que as publicações de música lhe têm dado. Por isso, se não conhecem a obra ou não são fãs de Joanna Newsom, oiçam por vossa conta e risco.

Músicas obrigatórias:

- “’81”

- “Good Intentions Paving Company”

- “Soft as Chalk”

- “Kingfisher”

Nota Final: 4,8/10

Deerhunter – “Halcyon Digest” – Prosseguimos com os nova-iorquinos Deerhunter, banda de Indie Rock que assina em “Halcyon Digest” o seu quarto Longa Duração. Este disco tem vindo a ser apontado em algumas listas como o álbum do ano. Discordo dessa consideração, mas admito que esta é uma obra bastante boa. Contendo um Indie Rock vestido com roupas experimentalistas (que chegam a cheirar a Shoegaze e a Noise Rock em momentos), “Halcyon Digest” é um disco sólido, coerente e bem estruturado. Os Deerhunter criaram aqui um álbum repleto de músicas que fazem o pé bater e a cabeça abanar. Tirando algumas faixas menos conseguidas, este é um álbum para ouvir e voltar a ouvir, e que entretém em qualquer ocasião. Da minha parte, está aprovado, e esperemos que os Deerhunter fiquem connosco por muitos e bons anos, para continuarem a fazer boa música.

Músicas obrigatórias:

- “Memory Boy”

- “Desire Lines”

- “Fountain Stairs”

- “Coronado”

Nota Final: 8,4/10

Sufjan Stevens – “The Age of Adz” – E terminamos com um dos cantores mais populares do mundo Indie, o senhor Sufjan Stevens, o americano que nos trouxe álbuns memoráveis como “Michigan” ou “Illinois”, e que fez desta vez “The Age of Adz”, que corta com o trabalho mais recente, e volta às experiências electrónicas que fazem lembrar “Enjoy Your Rabbit”, deixando o Folk a que já tínhamos sido habituados totalmente de parte. Contudo, esta Electronica, apesar de ter algumas semelhanças, é diferente da do álbum de 2001. Podemos dizer que Sufjan, ao romper com o aclamado “Illinois”, mostra um desejo de evitar a repetição que eu admiro. No entanto, a primeira parte do disco foi, para mim, quase intragável. O experimentalismo aí presente tornou-se aborrecido pelo facto das canções serem muito compridas e repetitivas. Contudo, a segunda metade do álbum está pejada de genialidade. O brilhantismo de Sufjan que vimos em “Illinois” aparece aqui, em “The Age of Adz”, após uma “longa travessia no deserto” que dura quase meio álbum. Não quero com isto dizer que a sonoridade seja semelhante à do disco anterior (não é, nem um pouco), mas conseguimos encontrar pontos de contacto que nos fazem pensar: “este é um álbum do Sufjan Stevens”. Devo também referir a colossal “Impossible Soul”, faixa que fecha o disco, e que tem 25 minutos de duração, mas que, apesar do seu tamanho, consegue manter-se surpreendentemente fresca e renova-se a cada minuto que passa. No entanto, não devo deixar de lembrar que este disco é muito incoerente, e a segunda parte não consegue (por pouco) compensar a desilusão que foi a primeira. Espero que no próximo álbum, Sufjan tenha a lição bem estudada e nos apresente algo mais sólido.

Músicas obrigatórias:

- “Get Real Get Right”

- “Vesuvius”

- “I Want to Be Well”

- “Impossible Soul”

Nota Final: 7,2/10

E assim chega ao fim o nosso “2010 em Revista”. Como balanço, devo dizer que este ano foi bastante generoso no que toca à boa música. Tivemos lançamentos bastante bons, e que me deixaram absolutamente arrebatado. Claro que houve sempre alguns discos mais mauzinhos, mas nem sempre tudo corre pelo melhor, não é verdade? Agora, é esperar pelo Top 10 que sai amanhã, aqui, no Música Dot Com. Até lá!


João Morais

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