terça-feira, 24 de maio de 2011

Zonoscope

Bom dia a todos. Hoje, o MDC decidiu começar a trabalhar cedo, para vos trazer a análise de mais um álbum da colheita de Fevereiro (mês prolífero, tenho vindo a constatar): ”Zonoscope”, dos australianos Cut Copy. Esta banda entrou na cabeça e no coração de imensa gente com os certeiros singles “Hearts On Fire” e “Lights & Music”, canções extraídas do seu segundo álbum, “In Ghost Colours” (2008), disco muito bem conseguido. Será que este “Zonoscope” consegue manter a qualidade a que o segundo álbum nos habituou? Vejamos.

Para começar, digo desde já que não deve ter sido tarefa fácil criar um sucessor digno desse nome ao álbum de 2008, “In Ghost Colours”. Tanto o público como a crítica aclamaram este registo vivamente, e isso é sempre um factor de pressão, pois o desejo de um artista é sempre superar-se a cada obra que lança (ou pelo menos tenho em mente ser esse o pensamento geral dos artistas). Se a estreia, “Bright Like Neon Love” (2004), era algo fácil de superar, o mesmo já não se pode dizer de “In Ghost Colours”, devido à identidade musical que criou e que passou a definir os Cut Copy. A mistura de diversos géneros e sonoridades, desde o New Wave à Psychadelia dos anos 60, passando pela Synthpop, tudo misturado com uma atitude muito Indie Rock dos anos 00 fez com que o disco soasse, se não a inovador, pelo menos a muito fresco.

Contudo, se a tarefa parecia homérica, a verdade é que Dan Whitford e companhia conseguiram responder muito bem ao desafio, lançando um disco que mantém tudo o que caracteriza os Cut Copy, e juntando mais algumas influências para o “caldeirão”. Essas novas sonoridades não estão muito visíveis ao ouvido mais distraído, mas o ouvinte mais atento consegue denotar algum Worldbeat digno de David Byrne/Talking Heads (especialmente em canções como “Need You Now”, a faixa de abertura, ou em “Pharaohs & Pyramids”, uma das minhas canções favoritas do disco), e até alguma influência da música experimental de bandas como os Animal Collective (Dan Whitford é fã confesso do grupo americano, e isso pode explicar porque é que canções como “Where I’m Going” ou “This Is All We’ve Got” me fazem tanto lembrar o quarteto de Baltimore). Na penúltima faixa, os Cut Copy até encenam uma aproximação ao Acid House, através de “Corner of the Sky”, uma canção feita claramente a pensar nas pistas de dança. E para terminar "Zonoscope", os australianos reservaram-nos uma maravilhosa súmula de tudo o que faz este disco: “Sun God”, que mistura tudo o que acima foi referido, numa grandiosa canção de 15 minutos, que remata de uma bela forma um grande disco.

É verdade que também existem algumas imperfeições, mas são felizmente uma raridade. Tirando o facto de duas canções serem menos do meu agrado (“Need You Now” , que a meu ver não abre com energia suficiente, e “Strange Nostalgia for the Future”, que apesar de ser uma faixa de transição entre duas músicas, não me pareceu ali bem colocado), o disco está muito sólido, e consegue-se facilmente ouvi-lo várias vezes, que nunca perde a magia.

Resumindo, “Zonoscope” é um grande disco, que soa muito bem e, com a chegada do Verão, se adequa bem ao calor e ao ócio da época. Apesar de não ser tão imediato quanto o seu antecessor (não encontrarão aqui nenhuma “Lights & Music”), consegue cativar o ouvinte a ouvir cada vez com mais atenção, e isso é sempre uma grande qualidade. O terceiro disco de originais dos Cut Copy é, assim, um LP extremamente sólido e bem composto, e não me espantaria nada se o víssemos figurar em muitos tops de fim de ano. Será que vai fazer parte do Top 10 do MDC? Veremos!

Nota Final: 8,8/10

João Morais

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