Boa noite a todos. Eu sei que é pouco usual publicar posts com tão poucos dias de intervalo, mas devido ao elevado número de álbuns por analisar (e que se estão a acumular cada vez mais), decidi pôr mãos à obra. Hoje, falamos de um lançamento mais recente: “Wasting Light”, o sétimo álbum de originais dos americanos Foo Fighters. Depois de um tremido “Echoes, Patience, Silence & Grace” (2007), será que a banda de Dave Grohl conseguiu lançar um bom disco? Vejamos
Para começar, devo dizer que, para mim, os Foo Fighters sempre foram uma banda interessante. A forma como Dave Grohl gravou (praticamente) sozinho o primeiro álbum da banda, “Foo Fighters” (o homónimo de 1995), sempre me fez admirar, de certa forma, este senhor do Rock. De grande baterista (e aí, é largamente reconhecido como mestre) passou a bom vocalista e guitarrista. A transição podia ter sido pior, mas Grohl lá se aguentou. Depois, formou a banda propriamente dita, que apesar dos dramas internos, conseguiu manter estabilidade ao nível da sonoridade. Os Foo Fighters são uma banda consistente, isso ninguém questiona. Podem nunca ter feito um álbum estrondoso, mas sempre nos entregaram discos dignos. (Mesmo “Echos, Patience, Silence & Grace”, para mim o pior disco da banda, não é um mau álbum, mas sim um LP mais fraco) Agora, Grohl e cia. entregam-nos este “Wasting Light”, álbum produzido por Butch Vig (para quem não conhece, é “só” quem produziu “Nevermind”), feito “à maneira antiga”, na garagem de Dave Grohl, repudiando o digital e primando pelo analógico. Logo aí, “marcaram pontos” comigo. Apesar de não ter nada contra o digital, creio que há uma certa magia no analógico, que me transmite mais emoção ao ouvir (manias, eu sei). Mas ao ouvir o disco, devo confessar que fiquei espantado, pela positiva. Apesar de não esperar um álbum mau, o LP superou as minhas expectativas. Vejamos, em detalhe.
Desde já, uma coisa é ponto assente: confirma-se aquilo que se tem dito; “Wasting Light” é um disco mais pesado do que os seus antecessores. Pode não ser por muito, mas a verdade é que está patente uma força e uma energia que dão ao álbum um teor mais “pesadito”. Para isso, contribuem, sem dúvida, canções como “Rope” (sem dúvida a minha favorita do disco) e “White Limo” (nunca vimos Dave Grohl gritar assim), que “cheiram” um pouco a Queens of the Stone Age, pela intensidade e pela potência. Para esse “peso”, contribui também o cumprimento da promessa feita por Grohl: não há, de facto, nenhuma “balada lamechas” (algo que o frontman da banda garantiu, através do seu Twitter). O mais próximo que temos disso é mesmo “Dear Rosemary”, que consegue ser bastante poderosa. De resto, temos canções mais tipicamente “Foo Fighterianas”, como “Arlandria”, “These Days” ou “Miss the Misery”, que não inovam muito em relação ao que já é cânone nesta banda.
Cânone são, também, as letras de “Wasting Light”. Nota-se que houve um bom trabalho neste departamento, por parte de Grohl, se bem que muitas das canções acabam por recorrer a frases-chavão da cultura Pop anglo-saxónica (assistimos a versos como “What’s in it for me?” ou “We’re going nowhere fast”, lugares-comuns da língua inglesa). Isto torna as letras previsíveis, e se bem que isso não me incomoda muito, reconheço que possa haver gente que fique escandalizada com isto. No entanto, devo realçar um par de músicas que têm letras particularmente interessantes: “I Should Have Known” e “Walk”, as duas últimas faixas do disco. A primeira é, a meu ver, uma clara homenagem a Kurt Cobain (apesar de Dave Grohl não confirmar isto, é evidente que as letras referenciam a situação de Kurt; esta tese é reforçada pela participação nesta música de Krist Novoselic, o baixista dos Nirvana), enquanto que a segunda está brilhantemente colocada como contra-ponto, com uma letra que fala de “recomeçar depois de cair”. Isto foi, para mim, um belo encerramento para o álbum, com duas canções com letras particularmente boas, e que de certa forma se complementam.
Porém, nem tudo são “rosas” neste disco. Uma das maiores críticas que se pode fazer a este álbum é, sem dúvida, a falta de inovação. É verdade que disse que o álbum parece estar um pouco mais pesado do que os anteriores, mas isso deve-se, a meu ver, da (boa) produção de Butch Vig, que soube equilibrar bem a balança entre o “polido” e o “sujo”. No entanto, isso só vem “tapar” a questão da falta de originalidade. Sejamos honestos, apesar de ser um bom álbum, “Wasting Light” não quebra as barreiras daquilo que esperamos que seja um CD dos Foo Fighters. E se por um lado é bom manter a identidade sonora, a verdade é que há muito que Grohl e companhia não se aventuram por espaço desconhecido. Não tirando mérito ao álbum, este é um ponto que devo destacar: a falta de coragem da banda em experimentar.
Resumindo, “Wasting Light” é um álbum muito bom. Pode ter falhas, e alguns momentos menos bons ( “Back & Forth” ou “A Matter of Time”), mas é no geral um disco bastante sólido, e muito proveitoso de se ouvir. Não esperem, no entanto, mudanças radicais no som da banda. Mas a verdade é que “Wasting Light” é mais uma prova que os Foo Fighters são muito bons naquilo que fazem. E nós gostamos disso. Que venham mais!
Nota Final: 8,7/10
João Morais
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