

Vindos do frio estado de Washington, os Death Cab for Cutie, de Ben Gibbard, são uma banda já bem conhecida dentro e fora da cena Indie Rock norte-americana. Começando em 1997, o grupo já assinou sete discos de estúdio, sendo o mais recente, Codes and Keys, que chegou às prateleiras das lojas de música em Maio deste ano, e que será hoje analisado pelo Música Dot Com.
Apesar de ter começado a ouvir a obra dos Death Cab for Cutie recentemente, reconheço que daquilo que ouvi, gostei, e muito. A sonoridade intimista e as letras tristonhas que povoam a maioria das canções do grupo podem não ser do gosto de todos, mas é certo que, a mim, atingem um ponto frágil no meu coração. Contudo, confesso que o sexto disco da banda, Narrow Stairs (2007), não foi muito do meu agrado. Por isso, este Codes and Keys tinha uma tarefa relativamente fácil para suplantar o seu antecessor.
Se em Narrow Stairs assistíamos a um certo “negrume” nos riffs e nas letras, com a guitarra a ter bastante destaque, neste Codes and Keys encontramos uma banda com uma sonoridade muito mais “luminosa” e com letras mais alegres, com o piano a roubar o “papel principal”. Ocasionalmente, também encontramos uma instrumentação mais orquestral, e de quando em vez, o sintetizador também decide aparecer, explorando a sonoridade electro-acústica característica do outro projecto de Gibbard, os agora abandonados The Postal Service.
A produção deste disco também corta com o anterior Narrow Stairs, que tinha uma sonoridade mais suja e crua. Pelo contrário, este Codes and Keys utiliza um som mais límpido. Admito, sou fã de LP’s mais crus, mas este só ficou a ganhar com esta produção, que encaixa bem com a disposição geral do álbum. Todos estes factores fazem com que Codes and Keys seja um disco de grande qualidade.
No entanto, existem alguns defeitos. Se é verdade que esta faceta mais feliz de Gibbard traz consigo um som mais luminoso, a verdade é que discos como Something About Airplanes (1998) ou Transatlanticism (2003) conseguiam criar uma maior ligação com o ouvinte, devido às suas canções intimistas e enternecedoras. Não digo que os Death Cab for Cutie devessem manter-se sempre no mesmo registo, mas a verdade é que por vezes, esta alegria soa “forçada”, quando a tristeza lhes saía muito mais naturalmente.
Outra questão é a da falta de consistência que às vezes se sente; enquanto que canções como Codes and Keys (a belíssima faixa-título) ou Doors Unlocked and Open estão cheias de energia e brilho, faixas como Home is a Fire (que abre mal o disco, na minha opinião) ou St. Peter’s Cathedral acabam por despertar indiferença em mim, devido à falta de algo que agarre a minha atenção.
Destaco pela positiva a vibrante Doors Unlocked and Open, a poderosa Underneath the Sycamore, ou a minha favorita, You Are a Tourist, o primeiro single a ser extraído deste Codes and Keys, e que prima pela sua beleza em estado puro. Pela negativa, devo referir, Home is a Fire, Unobstructed Views, e St. Peter’s Cathedral, que a meu ver impedem que este disco atinja um patamar mais alto de qualidade.
Concluíndo, Codes and Keys é, a meu ver, uma melhoria em relação a Narrow Stairs, mas a verdade é que a alegria que preenche este disco, apesar de soar bem ao ouvido, ainda está um pouco longe do pico de qualidade alcançado pela banda em tempos anteriores. Fico à espera que, no próximo disco, os Death Cab for Cutie consigam trazer-nos um álbum ainda melhor. Contudo, não ficamos mal servidos com este Codes and Keys.
Nota Final: 7,8/10
João Morais
Caros leitores,
Se por acaso são visitantes regulares do Música Dot Com, (tanto do blog como das redes sociais em que estamos presentes), já devem ter reparado na recente inactividade a que o MDC tem estado submetido. Começo, por isso, por pedir desculpas. No entanto, esta “hibernação” tem a sua razão de ser, e vou passar a explicá-la.
Para quem não sabe, eu, o criador do Música Dot Com, comecei a trabalhar para um jornal online chamado Espalha Factos (http://www.espalhafactos.com), onde vou passar a fazer basicamente o que faço aqui: reviews a discos e concertos dos mais variados géneros, em princípio duas vezes por semana. Por isso, tenho estado a concentrar-me nesse novo “posto”, daí que o Música Dot Com tenha ficado, nos últimos tempos, um bocado esquecido. Contudo, se pensam que este blog vai acabar, não se apoquentem; o MDC vai perdurar, pois todos os textos que eu escrever lá irão ser publicados (com algum atraso, como é evidente) aqui, no bom e velho blog que tem sido a nossa casa desde 8 de Outubro de 2009. Também irei escrever, quando o tempo me permitir, críticas a álbuns que não possa analisar no EF (especialmente os que estão mais atrasados, por desleixo meu).
Posto isto, espero que continuem a ser fiéis leitores deste nosso canto aonde nos dedicamos à belíssima arte que é a música. Espero também que tentem acompanhar os meus textos no Espalha Factos, para poderem saber em primeira-mão quais os meus pensamentos em relação aos mais variados discos.
Atenciosamente,
João Morais
(A minha primeira publicação no Espalha Factos pode ser vista aqui)
“Friendly Fires”, a obra homónima de 2008, valeu-lhes elogios da crítica (foi nomeado para o prestigiado Mercury Prize), pela forma como cria uma sonoridade que ousa misturar a Sythpop e o Dance Rock, através dos seus ritmos animados e fervilhantes. Agora, em 2011, os britânicos Friendly Fires voltam com um segundo disco, “Pala”, saído a 16 de Maio. Hoje, o Música Dot Com traz-vos a análise deste álbum. Preparados?
Começo por dizer que gostei do primeiro disco, “Friendly Fires”. Apesar de não ser nenhum LP brilhante, é “fresco” e soa bem, cumprindo os requisitos mínimos para ser considerado uma boa estreia. Logo, quando soube que iria sair um segundo registo da banda oriunda de Hertfordshire, fiquei curioso. Não chego ao ponto de dizer que estava ansioso, mas é certo que fiquei à espera para ver o que dali saía. E a verdade é que não fiquei nada mal impressionado com “Pala”, um disco que, a meu ver, consegue estar um patamar acima do álbum de estreia.
Se “Friendly Fires” já passava um certo “calor” na sua sonoridade, então “Pala” é um disco que “tresanda” a Verão passado à beira da piscina, com canções como “Live Those Days Tonight” ou “Hawaiian Air” a mostrarem um “mergulho” ainda mais profundo para a Pop amiga das pistas de dança. Enquanto que o disco de estreia ainda tinha uma certa influência do Post Punk ou até do Shoegaze, neste “Pala” essas influências desvaneceram quase por completo, para o espaço ser agora ocupado pela Electronica, que é extremamente visível através de um (ainda) maior número de sintetizadores e ritmos computadorizados. É certo que por vezes o Dance Rock ainda faz sentir a sua presença (especialmente em “Running Away” ou no refrão frenético de “Blue Cassette”), mas a verdade é que este disco mostra uns Friendly Fires com ainda mais apetência para a discoteca. Confesso que esta mudança é bem-vinda, pois se há coisa que estes britânicos fazem bem é pôr toda a gente a dançar, algo que vai ser ainda mais fácil com este belo LP.
Contudo, “Pala” está longe de ser um álbum perfeito. Uma das primeiras coisas que reparei neste disco foi a sua grande homogeneidade, que é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o seu maior defeito; se é verdade que nas primeiras reproduções escutei um disco extremamente coeso, cativante e apelativo, também constatei que esse brilho vai-se aos poucos desvanecendo quando repetimos variadas vezes as audições, fazendo-me reparar que o disco soa todo muito semelhante. Não quero com isto dizer que condeno os álbuns que têm um som que é transversal a todo o registo, mais este “Pala” podia ter um pouco mais de variedade, para evitar cair na redundância. Também tenho a criticar a escolha de “Helpless” para o fecho do LP, a meu ver uma música mais pobre em termos de qualidade, e que acaba por deixar o disco “mal resolvido”. Estas falhas, apesar de fazerem a diferença, não fazem com que “Pala” seja um mau álbum, mas que apenas poderia ser melhor.
Entre as minhas canções favoritas estão “Live Those Days Tonight” (que abre o disco de forma extremamente energética), “Pala” (a faixa-título, que conta com um beat mais lento, que monta uma atmosfera muito interessante) e aquela que é, para mim, a melhor canção do registo, “Hawaiian Air” (uma peça extremamente poderosa, com um ritmo que faz com que seja impossível ficar quieto). Entre as menos boas contam-se “Helpless”, “Chimes” e “True Love”, peças medianas que não ficam bem no meio de canções que se destacam pela positiva.
Em suma, “Pala” é um bom álbum, e que eleva a fasquia em relação ao homónimo disco de estreia. Não sendo um disco brilhante, é um LP bastante bom para dançar, especialmente nestas noites de Verão. Fica-se à espera de mais e melhor destes meninos para a próxima vez que entrarem em estúdio, mas por agora, a gente contenta-se com este “Pala”.
Nota Final: 7,8/10
João Morais
Depois das “mini-férias” e da loucura do SBSR, que levou 90.000 pessoas à Herdade do Cabeço da Flauta, o MDC traz-vos a reportagem possível daquele que é, discutivelmente, o melhor cartaz de 2011. Aviso que nem todos os concertos têm cobertura aqui (escolhas tiveram de ser feitas), e dos escolhidos, apenas alguns têm uma análise mais detalhada (sendo esses aqueles de que mais gostei). Outra nota: nem todos os concertos têm setlist, porque não consegui encontrá-las a todas. Contudo, isso pode ser sujeito a alterações, quando possível.
Antes de começar com os concertos, vou só dedicar algumas palavras à polémica que tem surgido em torno do festival, no que diz respeito às condições do recinto e do campismo. Não, não era perfeito. Sim, havia situações ridículas (os lava-loiças, o “supermercado”, principalmente), e algumas menos boas (os palcos podiam estar melhor situados, não que eu me possa queixar). Mas o som não estava assim tão mau (em todos os concertos, esteve até bastante claro, com a sonoridade, a meu ver, a bater aos pontos o Pavilhão Atlântico), e o pó já era expectável. A Música no Coração podia ter-se portado muito melhor, é verdade, mas também não foi o inferno terceiro-mundista que muita gente está a tentar fazer passar que foi (sim, fórum da Blitz, estou a olhar para vocês), e não sou só eu a ter esta opinião; muita pessoas com quem meti conversa lá (de várias nacionalidades) queixaram-se, mas não consideravam que aquilo pudesse impedi-los de desfrutar do festival. Posto isto, falemos de música.
Dia 14
Palco Super Bock – Sean Riley & the Slowriders
Apesar de terem havido alguns problemas com a energia, o quintento coimbrense não deixou de fazer um bom show, abrindo muitíssimo bem o palco principal com o seu Folk Rock temperado com Blues que tanto lembra os Estados Unidos. “This Woman”, “Silver” (do mais recente disco, “It’s Been a Long Night”) ou a despedida com “Harry Rivers” foram momentos altos do grupo na sua passagem pelo Meco.
Palco Super Bock – The Walkmen
Do primeiro dia, este foi um dos meus concertos favoritos. A setlist era curta (nove canções, sem direito a encore), e apesar do ambiente de festival não ser o mais apropriado pare eles, a trupe de Hamilton Leithauser conseguiu, a meu ver, levantar o espírito de alguns dos presentes com a sua música paradoxalmente forte e delicada. Com uma escolha de músicas fortemente apoiada no seu mais recente disco (“Lisbon”, de 2010), abriram com “Woe is Me”, seguindo-a com canções tão belas como “Blue as Your Blood”, “Victory” ou”Thinking of a Dream I Had” (segundo Leithauser, a primeira música que o grupo compôs). Mas o momento forte do show foi mesmo o final, com a poderosa “The Rat”, que fez com que toda a gente na audiência sentisse uma injecção súbita de energia, com a bateria de Matt Berrick a soar mais poderosa do que nunca. Contudo, ficou a prova de que em recinto fechado a música dos The Walkmen soa muito melhor.
Setlist The Walkmen
1. Woe Is Me
2. In The New Year
3. Angela Surf City
4. Blue As Your Blood
5. Victory
6. Juveniles
7. Thinking Of A Dream I Had
8. We’ve Been Had
9. The Rat
Palco Super Bock – The Kooks
Mal Luke Pritchard e companhia entraram em palco, os gritos das vozes femininas ecoaram por todo o recinto. No entanto, também havia muito “senhor” a vê-los, e a cantar com eles êxitos como “Always Where I Need to Be”, “Ooh La”, “See the World” ou “Naïve”. Neste espectáculo a banda britânica também mostrou algumas canções do muito aguardado terceiro disco, entre elas a faixa que dá nome ao álbum, “Junk of the Heart”, e “The Saboteur”, bem recebidas pelo público português. Depois do belo show, cheio de interacção com a audiência, fica-se à espera do LP.
Palco Super Bock – Beirut
Chega a vez da banda de Zach Condon subir ao palco. Uma plateia já cansada com a agitação dos The Kooks assiste ao desfile da doce World Music do grupo norte-americano com um misto de apatia e expectativa pelo concerto seguinte dos headliners Arctic Monkeys. Contudo, com a ajuda de algumas palavras em português, sorrisos simpáticos e canções deliciosas como “Elephant Gun”, “After the World” ou “Santa Fe”, os Beirut trouxeram um ambiente bem agradável ao palco principal da Herdade do Cabeço da Flauta.
Setlist Beirut
1. A Sunday Smile
2. Elephant Gun
3. Postcards From Italy
4. The Gulag Orkestar
5. Scenic World
6. After the Curtain
7. Santa Fe
8. East Harlem
9. Nantes
Palco Super Bock – Arctic Monkeys
Faltam quinze minutos para a meia-noite e Alex Turner e companhia entram em palco, ao som de “You Sexy Thing”, o clássico R&B dos Hot Chocolate. Munidos dos seus instrumentos e de ume setlist de luxo, o grupo de Sheffield leva ao delírio todos os presentes com o seu Post-Punk Revival que ao vivo soa muito mais musculado do que nos discos. A “moshada” começa logo com a primeira canção, “Library Pictures” (canção do mais recente disco, “Suck It and See”), e a partir daí foi a loucura total, com a poeira a atingir níveis descomunais. “Brianstorm” chega a seguir, e estava visto que esta noite era para gastar as baterias até ao fim. “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” traz ares Stoner ao Meco, seguido de “Pretty Visitors”, “She’s Thunderstorms” e “Teddy Picker”, todas elas vibrantemente recebidas pela audiência. Consegue-se ver que Turner é moço tímido e pouco dado a conversas, mas compensa essa “frieza” com o carisma da música, que abunda. Aqui não há truques com luzes e cenários; há Rock ‘n’ Roll puro, duro e directo, como a gente gosta. “The View From the Afternoon” (a minha favorita, admito) e “I Bet You Look Good On the Dancefloor”, do primeiro disco (“Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not”, de 2006), são tocadas tal como no álbum, back to back. Para o fim do corpo principal, a já clássica “When The Sun Goes Down”, uma das mais participadas da noite. Contudo, após breve saída, o grupo voltaria para um encore de três canções: “Suck It and See”, “Fluorescent Adolescent” e “505”, encerrando assim o primeiro dia de espectáculos no palco principal. Apesar de ter estado muito preocupado em sobreviver ao show, digo-vos que esta banda não brinca em serviço, e apresentou aqui um espectáculo sólido e uma setlist de sonho.
Setlist Arctic Monkeys
1. Library Pictures
2. Brianstorm
3. This House Is A Circus
4. Still Take You Home
5. Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
6. Pretty Visitors
7. She’s Thunderstorms
8. Teddy Picker
9. Crying Lightning
10. Brick by Brick
11. The Hellcat Spangled Shalalala
12. The View From The Afternoon
13. I Bet You Look Good On The Dancefloor
14. All My Own Stunts
15. If You Were There, Beware
16. Do Me A Favour
17. When The Sun Goes Down
Encore:
18. Suck It and See
19. Fluorescent Adolescent
20. 505
Dia 15
Palco EDP – L.A.
Passada a loucura do primeiro dia, onde o MDC se concentrou apenas no palco principal, no segundo dia de concertos decidi dar um salto ao palco secundário, motivado pelo concerto do cantautor B Fachada (já disse que sou fã?). Mas quem abriu o Palco EDP foi o grupo espanhol L.A., que trouxe ao Meco o seu Alternative Rock em inglês, a piscar o olho a uns Biffy Clyro mais levezinhos. Confesso, não conhecia nada da banda, e não fiquei a morrer de amores depois do show, mas digo que canções “Crystal Clear”, “Hands”, “Evening Love” ou a cover de “Wicked Game” (o hit de 1989 de Chris Isaak) não soaram nada mal. Uma hora bem passada, sem dúvida.
Palco EDP – B Fachada
Uma das minhas grandes expectativas para este festival, Fachada não desiludiu, e pela segunda vez consegui ver ao vivo este verdadeiro trovador dos tempos modernos. Abrindo com “Memórias de Paco Forcado, Vol. 1”, rapidamente o cantor descobre que a vasta audiência está aqui para o ver; “vocês sabem as letras todas”, disse o músico, num misto de gáudio e de admiração. Acompanhado da trupe do costume (Martim no baixo/contrabaixo, e Mariana na mini-bateria/bateria do Pocoyo), Fachada trouxe também ao Meco Francisca Cortesão, à semelhança do que aconteceu no Teatro Maria Matos. Assim, “Primeiro Dia” conseguiu soar ainda mais belo e terno. Seguiram-se as clássicas “Kit de Prestigitação” e “Beijinhos”, que levaram o público ao delírio. E apesar de problemas técnicos terem afligido a última parte do “tempo regulamentar” do concerto, B conseguiu com que “Estar À Espera Ou Procurar”, “Os Discos de Sérgio Godinho” e “Agosto” soassem maravilhosamente bem. Mas antes da despedida, ainda houve tempo para um pequeno encore, com duas canções; “Zé!”, a canção mais participada do show, e uma peça nova, que Fachada interpretou sozinho no teclado, e que deverá fazer parte do disco que Bernardo vai lançar ainda este ano. Nesta setlist, só ficou mesmo a faltar “Deus, Pátria e Família”, o épico de 20 minutos que B lançou a 6 de Junho deste ano. De resto, ficou um belo concerto, que apesar de curto, provou ser certeiro. Bravo, Fachada!
Setlist B Fachada
1. Memórias de Paco Forcado, Vol. 1
2. Questões de Moral
3. Conselhos de Avô
4. Primeiro Dia
5. Kit de Prestidigitação
6. Beijinhos
7. Tó-Zé
8. Estar À Espera ou Procurar
9. Os Discos de Sérgio Godinho
10. Agosto
Encore:
11. Zé!
12. [Música Nova]
Palco Super Bock – Portishead
Depois do final de B Fachada, iniciei uma migração para o palco principal, ainda estavam os The Gift a terminar a sua performance, para poder assistir ao concerto dos britânicos Portishead. Apesar dos cabeças de cartaz do dia serem os Arcade Fire, o grupo de Beth Gibbons também foi um dos pesos fortes do line-up do SBSR, e isso percebeu-se com a quantidade de pessoas que foram ver o show, e juntamente com a banda cantaram a plenos pulmões peças como “Machine Gun”, “Glory Box” ou “Roads”. Apesar de não estar muito familiarizado com o catálogo da banda, reconheço que o espectáculo foi agradável, e só não apreciei mais por dois motivos: o cansaço começava a instalar-se, e havia que recuperar baterias para a banda seguinte; e o ambiente não foi, a meu ver, o mais apropriado para este trio de Trip-Hop actuar. Mas tirando isso, posso dizer que foi um belo show.
Setlist Portishead
1. Silence
2. The Rip
3. Magic Doors
4. Machine Gun
5. Mysterons
6. Glory Box
7. Sour Times
8. Wandering Star
9. Roads
10. Over
11. Nylon Smile
12. We Carry On
Palco Super Bock – Arcade Fire
Eram, de longe, a banda mais aguardada da noite, e talvez de todo o festival. As expectativas estavam, por isso, bem elevadas. Mas tenho quase a certeza que ninguém ficou desiludido com o espectáculo que o grupo canadiano de Baroque Pop trouxe ao Meco. Win Butler e companhia deram aquele que é, para mim, o melhor concerto de 2011 até agora. Após um pequeno atraso de 15 minutos, começou o espectáculo: com um cenário que nos fazia sentir que estávamos a assistir a uma experiência cinematográfica, os Arcade Fire abriram com “Ready to Start”, do terceiro disco, “The Suburbs” (2010), sem dúvida a canção mais apropriada para começar um concerto. Depois, houve uma visita aos primeiros dois álbuns da banda, “Funeral” (2004) e “Neon Bible” (2007), com canções como “Keep the Car Running”, “Neighborhood #2 (Laïka)”, “No Cars Go” (uma das maiores explosões de energia por parte do público) e “Haiti” (ao vivo, esta canção é um desfile tropical de sons). Pouco depois, veio um dos meus momentos favoritos do concerto: o trio “The Suburbs”, ”The Suburbs (Continued)”, ”Month of May”, tocadas de forma perfeitamente encaixada, algo que a meu ver ultrapassou os limites do espectacular. A sintonia entre a banda e o público era visível, e Win Butler fez questão de sublinhar isso ao longo do concerto (com frases como “parece o primeiro concerto da tour” ou “Portugal devia ensinar às outras nações como ser um bom público). Para culminar o corpo principal da setlist, “We Used to Wait”, também de “The Suburbs”, e mais duas clássicas, “Neighborhood #3 (Power Out)” e “Rebellion (Lies)”. Após uma breve saída de palco, a banda volta, por aclamação popular, para um encore com uma das canções mais conhecidas da banda, “Wake Up”, e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, cantada e dançada (com o auxílio de umas fitas coloridas) por Régine Chassagne de forma irrepreensível, finalizando o concerto de forma esplendorosa. Arrisco-me a dizer que este deve ter sido dos melhores concertos que vi até hoje, tanto pela ligação que se sentiu entre a banda e o público como pela maravilhosa setlist que englobou muitas das minhas canções favoritas. Sem dúvida, um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida.
Setlist Arcade Fire
1. Ready to Start
2. Keep the Car Running
3. Neighborhood #2 (Laika)
4. No Cars Go
5. Haïti
6. Rococo
7. Intervention
8. Crown of Love
9. Neighborhood #1 (Tunnels)
10. The Suburbs
11. The Suburbs (Continued)
12. Month of May
13. We Used to Wait
14. Neighborhood #3 (Power Out)
15. Rebellion (Lies)
Encore:
16. Wake Up
17. Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)
Palco EDP – Chromeo
Depois do autêntico clímax musical que foi o espectáculo dos Arcade Fire, decidi dar um pulo ao palco secundário, a meio do concerto do duo de Electrofunk canadiano Chromeo. Apesar de não conhecer muito da banda, aquilo que tinha ouvido deles chegava para saber que com eles a tocar, não dá para ficar quieto. Consegui, felizmente, apanhar os grandes hits deles: “Hot Mess”, “Night By Night” e “You’re So Gangsta”, e confesso que soube bem, depois de um dia cansativo, simplesmente relaxar e ouvir aquela música que tanto puxa o pé para a dança.
Dia 16
Palco Super Bock – X-Wife
Os portuenses X-Wife abriram o palco principal no último dia do certame, com o seu Alternative Rock polvilhado com pitadas de Electropunk. Com um disco novo na bagagem, “Infectious Affectional”, o quarto álbum (saído a 2 de Maio deste ano), o grupo interpretou uma setlist que se equilibrou entre algumas canções novas (“Keep on Dancing”, “I Live Abroad”) e êxitos passados (“On the Radio”, “Fireworks”). Apesar de o cansaço já ser evidente em todos os presentes (festival é coisa que cansa), João Vieira e companhia conseguiram trazer uma boa dose animação ao Meco naquele fim de tarde.
Palco Super Bock – Brandon Flowers
Confesso, não gostei de “Flamingo”, o álbum a solo de Brandon Flowers. Prefiro um milhão de vezes os The Killers, e não faço segredo disso. No entanto, ao vivo, Flowers consegue montar um espectáculo interessante. Não digo que tenha adorado, mas ao vivo as canções como “Crossfire” ou “Swallow It” conseguem soar mais “frescas”. No entanto, Brandon só conseguiu conquistar-me (e a muitos da audiência) com as canções da sua banda principal. “Read My Mind” e “Mr. Brightside” foram, sem dúvida, os pontos álbuns deste concerto.
Setlist Brandon Flowers
1. Crossfire
2. Magdalena
3. Bette Davis Eyes (cover de Kim Carnes)
4. Jilted Lovers & Broken Hearts
5. Read My Mind (cover dos The Killers)
6. Losing Touch (cover dos The Killers)
7. Was It Something I Said?
8. Swallow It
9. Playing With Fire
10. Only the Young
11. Mr. Brightside) (cover dos The Killers)
Palco Super Bock – Elbow
Relativamente desconhecidos em Portugal (onde tocaram pela segunda vez, depois de uma estreia em 2001 no Sudoeste), os britânicos Elbow tinham uma missão espinhosa: entusiasmar o público difícil com o seu Alternative Rock adocicado com toques orquestrais, tarefa ainda mais difícil quando vemos que quem toca a seguir é o norte-americano Slash. Contudo, a banda de Guy Garvey não foge ao desafio, e aposta numa setlist centrada nos dois discos mais recentes, “Seldom Seen Kid” (o muito aclamado quarto disco da banda, datado de 2008, que venceu o Mercury Prize desse mesmo ano) e “Build a Rocket Boys!” (o mais recente disco da banda, lançado a 7 de Março deste ano). Apesar de não estarem a jogar em casa, os Elbow conseguem, através do carisma do seu vocalista, criar uma ligação com parte do público, fazendo com que canções como “The Birds”, “Lippy Kids”, “Mirrorball” e “Grounds for Divorce” sejam relativamente bem recebidas pela audiência. Contudo, a actuação requeria mais envolvimento por parte do público, sendo apenas isso o ingrediente que faltou neste concerto. É esperar que venham a uma Aula Magna ou a um Coliseu para ter direito a mais.
Palco Super Bock – Slash
Vou ser sincero, não gosto de Slash. De Guns N’ Roses, fico-me por algumas canções, pois também não é banda que me puxe muito. No entanto, parti para este concerto com uma atitude positiva (contrastando com o rapaz do outro lado da grade, cujo ar de tédio era evidente). Infelizmente, o Hard Rock de Slash não foi capaz de me convencer, apesar de à minha volta grande parte do público delirar com o homem da cartola. Ainda assim, destaco três canções que salvaram este show de ser considerado por mim uma total desgraça: “Sweet Child O’ Mine” e “Paradise City” (dos Guns) e “Slither” (dos Velvet Revolver), guardadas para o fim, e que puseram fim ao meu tédio. Contudo, este foi o concerto de que menos gostei de todo o festival, quer pela música em si, quer pela atitude do guitarrista.
Setlist Slash
1. Ghost
2. Mean Bone
3. Sucker Train Blues (cover dos Velvet Revolver)
4. Nightrain (cover dos Guns N’ Roses)
5. Mr. Brownstone (cover dos Guns N’ Roses)
6. Back From Cali
7. Promise
8. Sweet Child O’ Mine (cover dos Guns N’ Roses)
9. Slither (cover dos Velvet Revolver)
10. Paradise City (cover dos Guns N’ Roses)
Palco Super Bock – The Strokes
Setlist The Strokes
1. New York City Cops
2. Alone, Together
3. Reptilia
4. Machu Picchu
5. Last Nite
6. The Modern Age
7. Is This It
8. Under Cover of Darkness
9. What Ever Happened?
10. Life Is Simple In The Moonlight
11. Someday
12. You Only Live Once
13. You're So Right
14. Under Control
15. Gratisfaction
16. Hard to Explain
17. Juicebox
18. Take It Or Leave It
(Todas as fotos são da autoria do Música Dot Com, à excepção da primeira imagem de Elbow, das duas de Slash e da primeira dos The Strokes, que foram tiradas pelo fotógrafo Luis Martins, e que podem ser vistas aqui: http://www.facebook.com/media/set?set=a.169276383142948.42396.112908165446437. Agradecimento também à Joana Oliveira, a autora da segunda foto dos The Strokes)
Com já dez anos de experiência no mundo da música, os TV on the Radio são um dos projectos mais interessantes desta última década. Saído da cena alternativa nova-iorquina, este grupo prima pela forma como experimenta em cada disco, fundindo géneros tão díspares como o Funk e Post-Punk. Depois do aclamado quarto disco, “Dear Science” (2008), chega-nos o quinto registo desta peculiar banda, “Nine Types of Light”, lançado a 11 de Abril deste ano. Hoje, o MDC traz-vos a reveiw do mais recente álbum desta banda.
Devo confessar aqui a minha admiração pelo grupo. A atitude experimental que levam desde o início da sua carreira, combinado com a inovação a cada disco que lançam é algo que louvo imenso. Apesar de se conseguir denotar que existe uma certa linha de continuidade ao longo da obra dos TV on the Radio, a verdade é que esta é uma banda que não se repete duas vezes. Digo também que apreciei muito o antecessor deste disco, “Dear Science”, uma obra de excepção, que me conquistou à primeira audição. Partindo disto, é de esperar que alguma expectativa se tenha acumulado quando se soube que os TV on the Radio se estavam a preparar para lançar o seu quinto disco de originais. E, apesar de não poder dizer que “Nine Types of Light” seja um mau LP, senti que as minhas expectativas foram defraudadas.
Como já se devia esperar, “Nine Types of Light” é uma ruptura com aquilo que nos foi dado em “Dear Science”, afinal de contas, estamos a falar dos TV on the Radio. Não uma ruptura completa, pois ainda se ouvem “ecos” do que o grupo fez no passado, mas existem grandes diferenças. A começar na sonoridade, que está (ainda) mais agarrada à Electronica (especialmente em canções como “Keep Your Heart” ou “No Future Shock”) e à Soul (“Forgotten” e “Will Do" são exemplos nítidos disto) do que nos discos anteriores. Também se pode dizer que “Nine Types of Light” mostra uns TV on the Radio menos “cerebrais” e mais acessíveis, com um disco com menos guitarras e menos experimentação. Apesar de não ter nada contra álbuns mais “fáceis de digerir”, confesso que a sonoridade mais “alternativa” dos TV on the Radio agradava-me mais. Não digo que esta faceta da banda seja má, mas apenas prefiro as fases anteriores. Assim, é normal que em alguns momentos, não tenha ficado muito agradado com o disco, devido a canções que realmente não me soaram bem. Apesar de também termos partes do LP bastante boas,a verdade é que, duma forma geral, este registo soou-me muito mediano.
Apontando as canções de que gostei menos, devo referir “You”, “Killer Crane” e “Forgotten”, músicas que não me agradaram nada. Estas contrastam com aquelas que são, na minha opinião, as peças que mais bem realizadas estão, “Second Song” (faixa que abre bem o disco), “Repetition” (que nos traz um ritmo bastante frenético) e a minha favorita, “No Future Shock” (o ritmo está carregado de energia e animação). As restantes canções não me soam mal, mas são bastante “medianas”, ficando a meio caminho de serem grandes peças.
Em suma, “Nine Types of Light” não é uma surpresa para quem conhece os TV on the Radio e sabe da tendência deles para mudar a cada registo novo. No entanto, para quem é fã da banda desde o primeiro disco (como eu), este álbum pode ficar a saber a pouco. Resumindo, este disco pareceu-me extremamente mediano para uma banda tão consistente como os TV on the Radio. Só me resta esperar que o próximo disco seja melhor que este “Nine Types of Light”.
Nota Final: 6,4/10
João Morais