sábado, 17 de dezembro de 2011

Curtas 2011 - Série I


Com o final de ano a aproximar-se chega também a altura de olhar para os últimos 12 meses e analisar os discos que “escaparam” das malhas das reviews, para poder ter um panorama mais completo do que foi a música de 2011. Para o MDC esse trabalho é longo e árduo, e por isso inicio aqui uma rubrica que será recorrente nos próximos dias, o Curtas 2011, que visa dar uma breve vista de olhos pelos álbuns que, infelizmente, foram negligenciados aquando do seu lançamento, mas que se vêem agora justiçados.

Father, Son, Holy GhostGirls (Setembro)
- Após o hype de Album (2009), LP de estreia dos Girls que fundia o Lo-fi  tipicamente Indie com um leque vasto de influências como The Beach Boys, Elvis Costello ou Spiritualized, o grupo de Christopher Owens voltou este ano a estúdio para lançar este Father, Son, Holy Ghost, um disco que traz algumas mudanças na sonoridade da banda. Uma produção mais polida e com muito menos Lo-fi, e um som fortemente influenciado pelos anos 60 e 70 (veja-se Die, que “tresanda” a Fleetwood Mac) traduzem-se num disco que é, a meu ver, mais fraco que o seu antecessor, mas que ainda assim consegue ser um belo registo, merecedor de atenção por parte dos melómanos fãs de Indie Rock.
Pontos altos:
- Die
- Vomit
- Jamie Marie
Nota Final: 7,0/10
Gloss Drop – Battles (Junho)
- Reflexo da saída do vocalista e multi-instrumentalista Tyondai Braxton, este Gloss Drop revela-se como um álbum maioritariamente instrumental, se bem que pontualmente polvilhado de (brilhantes) participações especiais de vocalistas convidados (como Gary Numan em My Machines ou Matias Aguayo em Ice Cream). No geral, o Math Rock dos nova-iorquinos Battles surge em Gloss Drop mais fluído e solto do que em Mirrored (2007), traduzindo-se num LP bastante experimental, mas com uma enorme consistência ao nível da qualidade. Fica-se à espera do que estes norte-americanos terão para dizer no próximo disco, mas a verdade é que este Gloss Drop colocou a fasquia num patamar bastante elevado.
Pontos altos:
- Ice Cream
- Wall Street
- White Electric
Nota Final: 8,3/10
James Blake – James Blake (Fevereiro)
- Visto por várias publicações de música como o disco do ano, este primeiro LP do britânico James Blake veio surpreender muita gente com a forma como juntou Electronica e Post-Dubstep com Soul e R&B, cortando com a tendência que tinha vindo a seguir nos EP’s que antecederam este James Blake. Contudo, apesar da inovação ser bastante interessante, não posso dizer que este registo me tenha conquistado por inteiro. É certo que estão aqui presentes canções de grande nível, com uma sensibilidade tocante, mas a verdade é que, a meu ver, algumas das faixas com maior potencial acabaram por ser “esmagadas” pelo experimentalismo cego da sua Electronica e o uso constante do Auto-Tune. Em suma, não é uma má estreia, mas acabou por me parecer apenas uns furos acima do mediano.
Pontos altos:
- The Wilhelm Scream
- Limit to Your Love
- To Care (Like You)
Nota Final: 6,8/10
The Hunter – Mastodon (Setembro)
- Quinto álbum de um dos nomes mais sonantes do Sludge Metal, The Hunter mostra uns Mastodon que decidiram fazer algumas reestruturações na sua fórmula clássica. Mudando um cânone cujas origens remontam a Remission (2002), The Hunter afasta os épicos conceptuais “Prog-escos” de 15 minutos e aposta em 13 canções curtas, fortes e directas. Contudo, existe uma certa continuidade, tanto na sonoridade de base (que se mantém numa fusão entr o Sludge e o Progressive Metal) como nas líricas (que preservam a estética baseada em grandes clássicos da literatura e mitologias ancestrais), que irá de certo agradar à “velha guarda” dos fãs do grupo. Resumindo, The Hunter é um belíssimo disco que veio trazer uma certa frescura a uma fórmula vencedora.
Pontos altos:
- Black Tongue
- Blasteroid
- Dry Bone Valley
Nota Final: 8,0
Metals – Feist (Outubro)
- Que seria difícil suceder ao hiper-aclamado The Reminder (2007), já toda a gente sabia. Infelizmente, eu não estava à espera de ficar tão desiludido com o quarto disco da canadiana Leslie Feist. Apesar de louvar a tentativa de inovação, e da exploração de ambientes mais negros e introspectivos, a verdade é que este Metals não consegue passar da mediocridade, pois acaba por se tornar demasiado monótono e sonolento, devido ao excessivo uso do “piano choradinho”, que falha em complementar bem as canções. Embora estejam também presentes algumas peças de grande qualidade, que de facto mostram o quão talentosa Feist, a verdade é que este Metals acaba por ser, na minha opinião, um grande retrocesso em relação ao trabalho demonstrado em The Reminder.
Pontos altos:
- A Commotion
- Undiscovered First
- Comfort Me
Nota Final: 5,5/10
The Year of HibernationYouth Lagoon (Setembro)
- Projecto nascido da mente de Trevor Powers, Youth Lagoon é um dos nomes que mais hype tem gerado dentro da cena Indie norte-americana. Com uma estética Chillwave bem presente, The Year of Hibernation prima pelo tom intimista e tocante que a mistura da Lo-fi, Synthpop e Dream Pop conferem à sonoridade deste disco. Contudo, esta pequena pérola de 8 faixas não é perfeita, pelo que se nota alguma homogeneidade no registo, que faz com que às vezes pareça que não há quase diferença entre canções. Contudo, esta é uma bela estreia de Powers, que irá fazer as delícias de muito aficionado do Chillwave. Destaque também para 17, um dos grandes temas de 2011.
Pontos altos:
- Afternoon
- 17
- Daydream
Nota Final: 7,7/10
Bon Iver, Bon IverBon Iver (Junho)
- Começando como projecto a solo do norte-americano Justin Vernon, que se tornou num dos grandes nomes do Indie em 2008 com o brilhante For Emma, Forever Ago, Bon Iver (agora em formato banda) regressou este ano com o duplamente homónimo Bon Iver, Bon Iver, um disco que conseguiu surpreender toda a gente, pela inesperada transição directa do Folk para o Baroque Pop, o que acaba por ser, para mim, tanto bom quanto mau. Apesar de apreciar a constante inovação e renovação por parte dos artistas, a verdade é que a ruptura de um intimismo solitário do duo cantautor/guitarra para uma panóplia imensa de sons e instrumentos acaba por, em algumas ocasiões, “encher” o som e matar a “sinceridade” que eu tanto apreciei em For Emma, Forever Ago. Conclusão: Bon Iver, Bon Iver é um bom disco, mas confesso que esperava melhor.
 Pontos altos:
- Perth
- Holocene
- Calgary
Nota Final: 7,3/10
GoblinTyler, The Creator (Maio)
- Um dos principais membros dos Odd Future (ou OFWGKTA), grupo de rappers e produtores de Alternative Hip-Hop californianos, Tyler, The Creator é, provavelmente, o artista mais polémico de 2011, quer pelas acusações de misoginia e homofobia de que é alvo, que pelos polémicos videoclips que imagina para as suas canções. Este ano, lançou o sucessor de Bastard (2009), Goblin, o seu segundo disco a solo, e cuja sonoridade se mantém bem assente em letras provocantes e em ritmos electrónicos gélidos, mas que acaba por falhar em suceder condignamente ao “primogénito”, devido à sua gritante irregularidade ao nível da qualidade. É certo que algumas canções são bastante boas, mas no geral confesso-me desiludido com este Goblin.
Pontos altos:
- Yonkers
- She
- Sandwitches
Nota Final: 5,3/10
Era Extraña – Neon Indian (Setembro)
- Para quem não conhece, os Neon Indian são um dos grandes nomes do movimento Chillwave (a par de projectos como Toro Y Moi ou Washed Out), criado pelas mãos de Alan Palomo, e que se estreou em 2009, com o mui badalado Psychic Chasms. Agora, em 2011, surge o segundo disco da banda, Era Extraña, que continua na linha de fusão do Indie Pop com a Lo-fi que imperava em Psychic Chasms, mas de forma mais sólida e consistente, algo que me agradou imenso. Os vocais etéreos, as batidas frenéticas, as distorções hipnóticas,os samples de antigos jogos de arcada (oiça-se Arcade Blues), tudo se conjuga muito bem neste belíssimo Era Extraña.
Pontos altos:
- Polish Girl
- Hex Girlfrend
- Halogen (I Could Be A Shadow)
Nota Final: 8,0/10
Ceremonials – Florence + the Machine (Outubro)
- Confesso que não morri de amores por Lungs (2009), álbum de estreia da britânica Florence Welch e da sua máquina que conseguiu arrebatar os corações de muito boa gente. Por isso, não é de estranhar que não tenha ficado propriamente entusiasmado com o lançamento do seu sucessor, Ceremonials, mas ainda assim decidi dar-lhe uma chance e ouvi-lo. O resultado; apesar de ainda não me ter convertido ao culto de seguidores da ruiva que reina no mundo da Indie Pop, a verdade é que este segundo LP mostra uma sonoridade mais madura, com uma produção mais aprumada e com instrumentações mais bem conseguidas. É preciso dar crédito aonde ele é merecido, e a verdade é que Ceremonials conseguiu subir a fasquia para os Florence +  the Machine, mesmo que o som do grupo continue a soar-me bastante mediano. Talvez para a próxima eu me deixe conquistar, mas até lá, continuamos assim.
Pontos altos:
- Shake It Out
- No Light, No Light
- Spectrum
Nota Final: 5,8/10

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