terça-feira, 28 de junho de 2011

Suck It and See


Saídos da segunda vaga da “explosão” Post-Punk Revival que invadiu o panorama musical no início dos anos 00 (ganhando fama com uma estratégia de marketing fortemente apoiada na internet), os Arctic Monkeys conquistaram uma gigantesca legião de fãs com os seus dois primeiros discos, os fervilhantes e juvenis “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” (2006),e “Favourite Worst Nightmare” (2007). Em 2009, editaram “Humbug”, um disco mais lento e pesado, produzido por Josh Homme (Kyuss, Queens of the Stone Age, Eagles of Death Metal, Them Crooked Vultures), que mostrava uma mudança drástica de sonoridade, e que não foi tão bem recebido pela crítica nem pelos fãs. No início deste mês de Junho, a trupe de Alex Turner lançou o muito aguardado quarto disco de originais, “Suck It and See”. Será que os Arctic Monekys conseguiram voltar à sua antiga forma, ou será este quarto álbum um autêntico flop? O MDC vai tentar responder a estas perguntas hoje. Ora vejamos.

Quem leu a minha review de 2009 de “Humbug” sabe que fiquei um pouco de pé atrás com o terceiro álbum dos Monkeys. Devo confessar, esperava mais destes rapazes, especialmente depois de dois álbuns bastante bons. Não estou a dizer que “Humbug” é um mau registo, mas não passa da fasquia do bom, pois na maioria do disco, deu-me a parecer que estava a ouvir material inacabado. Pois bem, dois anos passaram, e as expectativas estavam bastante elevadas. E devo dizer, não foram defraudadas, ou pelo menos, não pela minha parte. Para mim, “Suck It and See” é um belíssimo disco, a meu ver melhor que “Humbug”.

Se não apreciaram o “amadurecimento” da sonoridade dos Monkeys presente em “Humbug”, devo avisar-vos: este “Suck It and See” não é um regresso às origens. No entanto, a verdade é que este quarto disco é certamente mais acessível que o seu antecessor, com canções mais “instantâneas” e pop. Contudo, é evidente que os Arctic Monkeys continuam a afastar-se da sonoridade dos seus dois primeiros álbuns, ficando cada vez mais imersos numa estética Psychadelic Rock revivalista, aproximando este LP de “Humbug”. Essa continuidade é especialmente notória em canções como “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” e “Library Pictures”, que mostram uns Arctic Monkeys mais “sujos” e pesados do que nunca, com a influência de Josh Homme a estar ainda bastante presente. No entanto, este disco também é rico em momentos mais delicados, com canções como “The Hellcat Spangled Shalalala” ou a faixa-título “Suck It and See” a mostrarem-nos um lado mais calmo e “leve”, que entram muito facilmente no ouvido, e que surpreendentemente convivem muito bem com as canções mais pesadas do disco, num contraste bastante bem feito. 


Também vale a pena salientar é a produção, a cargo de James Ford, que trabalha com a banda pela terceira vez, e que conseguiu dar uma sonoridade mais vintage ao álbum, com um feel mais vintage, resultado também da preferência da banda por gravar o disco “ao vivo” no estúdio, com pouco recurso a técnicas de looping ou de overdubs, algo que apreciei muito. No que toca às letras, tirando a ultra-simplista “Brick By Brick” todas as canções retêm o brilhantismo de Alex Turner no que ao uso da língua inglesa diz respeito. A maneira como ele escreve as canções, fazendo-nos imaginar certas imagens na nossa cabeça e utilizando habilmente os jogos de palavras, continua a ser um dos pontos fortes do quarteto de Sheffield.

Contudo, nem tudo me agradou neste “Suck It and See”. Algumas das faixas não me conseguiram cativar muito a atenção, talvez por soarem um pouco mais desinspiradas. Falo de músicas como “She’s Thunderstorms”, “All My Own Stunts” ou “Love Is a Laserquest”, peças que têm pouco que me “puxe”. No entanto, este disco está carregado de pérolas, como “The Hellcat Spangled Shalalala” (a doçura desta faixa conquistou-me), “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” (a “sujidade” Stoner faz desta uma canção extremamente pujante) ou a minha favorita, “That’s Where You’re Wrong” (música que fecha o disco de forma deliciosa). No geral, apesar de algumas falhas, este é um LP muito bom, bastante sólido e coeso, e que irá certamente agradar a muita gente.

Em suma, “Suck It and See” é um belo álbum, e só vem atestar a coragem dos Arctic Monekys em experimentar novas sonoridades, uma bravura pouco comum em bandas com uma carreira relativamente curta. Quando comparado com “Humbug”, “Suck It and See” pode não parecer tão “adulto”, mas é certamente mais sólido e consistente, e acerta nos sítios onde o outro errou. Este LP pode não soar aos álbuns que fizeram de mim fã dos Arctic Monkeys, mas é certamente um grande disco, e eu recomendo-o vivamente.

Nota Final: 8,4/10

João Morais

domingo, 26 de junho de 2011

Helplessness Blues

Em 2008, os Fleet Foxes surgiram com o seu LP de estreia, o homónimo “Fleet Foxes”, que com a sua mistura do Folk e Baroque Pop, conseguiram criar uma sonoridade acústica de fino recorte, que levou a que o registo fosse universalmente aclamado pela crítica, chegando a ser considerado o melhor disco de 2008 por algumas publicações de música. Em Maio deste ano, chegou às lojas “Helplessness Blues”, o muito aguardado segundo álbum da banda de Seattle. Hoje, o MDC vai analisar este disco, e tentar descobrir se o quinteto norte-americano conseguiu superar as expectativas com esta sua segunda obra. Comecemos, pois então.

Com um gigantesco hype, gerado por “Fleet Foxes”, o grupo liderado por Robin Pecknold não tinha uma tarefa fácil ao tentar suceder ao disco de estreia, a meu ver uma obra brilhante. Portanto, escusado será dizer, as expectativas estavam muitíssimo elevadas, desde o momento em que se soube que os Fleet Foxes iriam voltar a estúdio. Mas, a meu ver, não me parece que essa pressão tenha afectado o resultado final, pois a trupe de Seattle conseguiu, com “Helplessness Blues”, assinar um magnífico sucessor digno do seu primeiro disco.

À primeira audição, pode-se dizer que pouco mudou. É verdade que o som soa menos acessível (não terão aqui faixas tão “instantâneas” quanto “Your Protector” ou “Oliver James”), mas não existe nenhuma mudança drástica, com os Fleet Foxes a continuarem com o seu Baroque Folk, fortemente alavancado numa sonoridade acústica. No entanto, depois de ouvir algumas vezes o álbum, constatei que havia algo de novo na sonoridade, que lhe trazia uma nova dinâmica. Falo de uma certa influência oriental, que se sente especialmente em canções como “Bedouin Dress” ou “Sim Sala Bim”, que através da percussão ou de instrumentos específicos, conseguem fazer passar um novo feel ao LP, trazendo uma nova “frescura” ao som dos Fleet Foxes, sem o alterar de raiz. Devo confessar que esta “lufada de ar fresco” realmente agradou-me imenso, pois mostra uns Fleet Foxes que, querendo continuar na trilha da sua sonoridade original, não têm medo de lhe adicionar novos elementos. Nas letras, os Fleet Foxes mantiveram a sua “imagem de marca”, com uma lírica que me apelou à contemplação sobre as questões mais simples da vida, algo que me cativou imenso. Também há que louvar o trabalho de Phil Ek (que já havia trabalhado com a banda em “Fleet Foxes”), que fez em “Helplessness Blues” um brilhante trabalho de produção, fazendo com que a instrumentação neste disco, extremamente variada, conseguisse soar a algo belo, orgânico e delicado, apesar da avassaladora quantidade de instrumentos que está presente neste registo.

Quanto aos aspectos negativos deste “Helplessness Blues”, não há nada a que possa realmente apontar o dedo. Contudo, existem faixas que me cativaram menos que outras. Falo de “Battery Kinzie”, “The Cascades” e de “Blue Spotted Tail”, que apesar de não serem más, são as de que menos gostei no disco, talvez por lhes faltar algo de especial. Contudo, estas três são a excepção num disco que está carregado de canções belíssimas, com particular destaque para “Helplessness Blues” (a faixa-título, que carrega uma força enorme), “The Plains/Bitter Dancer” (uma canção cujas alterações de tempo a tornam numa peça extremamente hipnótica) e a minha favorita, “Sim Sala Bim” (uma música com uma carga muito introspectiva, e que se vai construindo até culminar num clímax poderoso).

Resumindo, “Helplessness Blues” é um brilhante disco, e que não vai deixar desapontado aqueles que gostaram de “Fleet Foxes”. Não vou estar a apontar qual dos dois é o meu favorito, pois apesar de partilharem um som muito semelhante, cada um dos registos têm as suas peculiaridades que fazem deles dois álbuns de excepção. No entanto, posso afirmar que os Fleet Foxes não poderiam ter desencantado melhor sucessor que este “Helplessness Blues”, LP que irá sem dúvida figurar em muitas listas de final de ano. Se irá estar no Top 10 do MDC? Veremos. Até lá, escutem este disco. Vão por mim, é mesmo muito bom.

Nota Final: 8,9/10

João Morais

sábado, 25 de junho de 2011

Blood Pressures

Em 2000, a dupla anglo-americana The Kills (composta pelo inglês Jamie Hince e pela norte-americana Alison Mosshart) surgiu, em plena explosão Garage Rock Revival, com uma sonoridade Punk Blues “suja”, directa, sem subtilezas e com muita atitude, que lhes valeu comparações com bandas como The White Stripes ou Black Keys. Em Abril deste ano chegou às lojas o quarto LP do duo, “Blood Pressures”, sucessor do aclamado “Midnight Boom” (2008). Hoje, o MDC traz-vos a review deste disco. Preparados?

Confesso que não sou um entendido em The Kills. Dos três discos que antecedem este “Blood Pressures”, apenas ouvi “Midnight Boom”, e devo dizer que foi uma experiência agradável. Por isso, quando comecei a ouvir este LP, tinha na ideia que o que viria aí seria um belo disco, digno de suceder a “Midnight Boom”. Contudo, a desilusão não podia ser maior. Não sendo “Blood Pressures” um disco terrível, certamente não passa da fasquia do mediano. Mas analisemos com mais pormenor.

Começo por dizer que não sou o maior fã da voz de Alison Mosshart. Em “Midnight Boom”, não posso dizer que tenha desgostado dos vocais, mas apenas porque a sonoridade no seu todo estava bastante cativante, e a voz inseria-se por completo nas músicas, e fazia passar uma certa crueza que aprecio muito. No entanto, isso falta em “Blood Pressures”. Neste LP, a maioria das músicas soa-me a pouco inspirada e a demasiado distante para eu poder sentir alguma ligação com o registo. É verdade que a distorção suja e a produção lo-fi que tanto apreciei no antecessor ainda lá estão, mas surgem como artifícios que, para mim, são pouco hábeis a tapar a falta de substância que infesta este disco. Apesar de alguns “pontos luminosos” estarem espalhados por “Blood Pressures”, a maioria das canções soa a filler, que facilmente teria sido descartado em discos anteriores. Não digo que não estejam aqui presentes algumas boas ideias, mas acabam por ser abafadas pela mediocridade que é geral no álbum.

Faixas há que soam extremamente bem ao ouvido, como “Future Starts Slow” (a canção que abre o disco e que tem uma potência enorme), “Satellite” (um ritmo “gingão” deliciosamente despreocupado) ou “Baby Says” (a minha canção favorita do disco, muito directa e abrasiva, ao bom estilo dos The Kills). No entanto, a maioria do disco soa a mediano, polvilhado com canções como “Heart Is a Beating Drum”, “Wild Charms” ou “The Last Goodbye”, que chegam a ser sofríveis de ouvir.

Em suma, se não são fãs de The Kills, dificilmente vos recomendo este disco. Apesar de algumas canções serem bastante boas, a maioria do disco soa a “enchimento”. Devo dizer que fiquei desapontado com a dupla Alison Mosshart/Jamie Hince, pois aqui mostraram-me uma faceta menos inspirada do que é costume. No entanto, fico à espera do próximo LP, com esperança que eles voltem cheios de força e atitude, algo que sempre apreciei neles.

Nota Final: 4,8/10

João Morais

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Belong

Em 2009 os The Pains of Being Pure at Heart “explodiram” na cena musical nova-iorquina, com o seu disco de estreia, o homónimo “The Pains of Being Pure at Heart”, álbum aclamado pela crítica, pela sua sonoridade reminiscente da Dream Pop e Shoegaze de bandas como os My Bloody Valentine ou os The Jesus and Mary Chain, misturada com uma atitude mais Alternative Rock digna de uns Sonic Youth ou, quiçá, de uns idos The Smashing Pumpkins. Passados dois anos, este quinteto lança o sucessor, “Belong”, produzido por Flood (pseudónimo de Mark Ellis), reconhecido pelo seu trabalho com artistas como os U2, Sigur Rós, Nine Inch Nails, entre muitos outros. Hoje, o MDC traz-vos a review deste segundo LP do grupo. Será que consegue continuar o bom trabalho iniciado em 2009? Veremos.

O segundo álbum, já se sabe, não é nada fácil de fazer, especialmente quando o primeiro tem a aclamação que “The Pains of Being Pure at Heart” teve. Ter um primeiro disco estrondoso cria sempre um gigantesco hype (palavra muito em voga aqui no blog, pelo que estou a ver), e é muito difícil cumprir tamanhas expectativas. Confesso que também partilhava a excitação que se sentia antes de sair este “Belong”. Não ouvi o disco de estreia logo quando saiu, por distracção, mas quando pude escutar, fiquei fã da banda, pela sonoridade que remete para um Alternative Rock dos anos 80/90 que tanto apreciei. E por isso, quando recebi a notícia de que estava para sair um novo disco do quinteto, o fã que há em mim ficou logo entusiasmado. E foi com alegria que constatei que, a meu ver, a banda de Kip Berman esteve à altura do hype que rodeou o LP, assinando aqui uma brilhante obra.

Quem ouviu o homónimo de 2009 sabe que a sonoridade do disco era rica em efeitos, distorção e “barulho” típico do Shoegaze, misturados com uma doce delicadeza vocal e lírica, combinação que remetia para imediatamente para “Loveless” (segundo disco dos My Bloody Valentine, de 1991). E apesar de esses elementos ainda estarem muito presentes neste “Belong”, podemos constatar que a produção está mais polida e cuidada, havendo menos espaço para loucuras de distorção. Apesar de eu ser fã de música “barulhenta” e “suja”, cheia de distorção, e bem abrasiva para os ouvidos, a verdade é que a produção de Flood consegue chegar a um ponto de equilíbrio que torna o disco acessível a uma maior audiência, sem perder a sua “pureza” Shoegaze. Isso é muito evidente em canções como “Heart in Your Heartbreak” ou “My Terrible Friend”, canções certamente mais Pop, mas com um toque de crueza reminiscente do primeiro disco que se recusa a desaparecer. Destaco, contudo, “The Body”, que é uma faixa mais electrónica (devido ao uso de sintetizadores), e que se move para uma zona mais New Wave, sendo a que salta mais ao ouvido pela diferença (não muito grande, mas notória). No entanto, não existe um corte directo com a sonoridade de “The Pains of Being Pure at Heart”, pois canções como “Heaven’s Gonna Happen Now” ou “Girl of 1,000 Dreams” conseguem ser tão ou mais “barulhentas” do que as que estão presentes no homónimo. Aprecio o facto de a banda ter conseguido reter o essencial da sua sonoridade, e que apesar de apresentar algumas diferenças, consegue soar familiar aos fãs. Nas letras, continuamos com belíssimas peças acerca de amor juvenil e pueril, desilusões amorosas e teen angst, mas nunca atingindo os níveis de miserabilidade ou de lamechice que desagradam. O som e as letras combinam para criar um disco primaveril e animado, e que agrada muito aos ouvidos.

Entre as músicas de que gostei mais contam-se “Belong” (a faixa-título que abre o disco, de forma bem pujante, repleta de distorção), “The Body” (aquele ”toque” aos New Order soa incrivelmente bem) ou a minha favorita, “Even In Dreams” (um brilhante faixa, com um refrão do outro mundo e com uma estrutura que nos conduz a um clímax musical tremendo; uma das melhores canções de 2011 até agora). No lado negativo, apenas “Anne With an E” me soou mais mediana, num álbum em que todas as outras canções não são nada menos do que esplêndidas.

Em tom de conclusão, “Belong” é um disco brilhante, com poucas falhas e que prevejo que consiga agradar tanto a fãs antigos como a novos ouvintes dos The Pains of Being Pure at Heart. A forma como consegue conciliar uma produção mais doce com o som mais antigo e abrasivo faz deste disco um marco na vida da banda, que será difícil de ultrapassa. Para mim, é o melhor álbum de 2011 até agora, e irá sem dúvida figurar nos tops de final de ano de muito boa gente (e muito provavelmente no do MDC). Um disco de excepção, sem dúvida. Agora desculpem-me, que vou ouvi-lo mais uma vez.

Nota Final: 9,3/10

João Morais

sábado, 18 de junho de 2011

Tomboy

Panda Bear (aka Noah Lennox) faz parte de um dos grupos experimentais mais falados dos últimos tempos, os Animal Collective. No entanto, Bear (tal como os outros membros da banda) não se limita só ao trabalho no colectivo, tendo também uma carreira a solo, onde, tal como nos Animal Collective, envereda pela via do Experimental Pop. O seu quarto disco, “Tomboy”, é a sua mais recente obra, e saiu a 12 de Abril deste ano, sendo o sucessor de “Person Pitch” (2007), uma obra vastamente aclamada pela crítica. Na review de hoje, vou analisar “Tomboy”, um disco que foi gravado em Lisboa (para quem não sabe, Lennox mora na capital tuga). Ora comecemos.

Começo por confessar que, dos trabalhos a solo dos membros dos Animal Collective, pouco conheço. Apesar de ser fã da banda, e de já ter algum conhecimento das obras deles enquanto grupo, dos trabalhos individuais, só “Person Pitch” me entrou nos ouvidos antes de fazer esta review. E devo dizer, o terceiro LP de Panda Bear foi um disco que me deixou (não utilizo este termo com muita frequência) assombrado pela genialidade do músico americano. Fiquei, portanto, com grandes expectativas para este disco, que foram ampliadas também pelo belíssimo disco de 2009 dos Animal Collective, “Merriweather Post Pavilion”, e pelo hype incrível que este disco teve desde que o primeiro single, “Tomboy”, foi lançado, em Julho do ano passado. Escusado será dizer, eu estava ansioso por poder ouvir este disco, e poder dizer de minha justiça. E, infelizmente, não tenho coisas boas para dizer acerca deste LP.

Começo por falar daquilo que menos me agradou neste disco. Para começar, o uso extensivo da repetição, que tornou a maioria das faixas aborrecidas. Não que eu tenha algo contra a repetição de ritmos, ou de loops de batidas, mas neste álbum, não é a isso que assistimos. O que vemos em “Tomboy” é, na maioria das canções, a uma repetição exaustiva de versos, ritmos, efeitos, batidas e sons no geral, que fez com que o disco me parecesse extremamente repetitivo e pouco apelativo. É certo que tanto “Person Pitch” como “Merriweather Post Pavilion” também tinham uma forte componente de looping e de repetição, no entanto, a diferença entre essas obras e este “Tomboy” é que, enquanto que nesses LPs tínhamos essa repetição a “servir” a canção, estabelecendo um ambiente ou marcando o ritmo, enquanto que outros sons se desenvolviam e variavam, aqui assistimos apenas a uma repetir quase enjoativo de todo o som na maioria das canções. Também não apreciei os efeitos de voz na maioria das músicas. Mais uma vez, estes não são novos na obra de Panda Bear, mas enquanto que nas obras anteriores esses efeitos traziam alguma “frescura” ao som, aqui retiram-lhe a graça, fazendo com que os vocais se tornem por vezes demasiado “espessos” para o meu gosto. Isso, aliado à sonoridade (a meu ver) demasiado homogénea, fez com que o disco fosse pouco proveitoso de ouvir no geral. Entre as canções que foram totalmente abomináveis para mim (e não estou a usar este termo de ânimo leve), contam-se a faixa de abertura “You Can Count On Me”, “Drone” e “Scheherazade”. No resto do disco, tirando alguns “pontos luminosos”, tudo soa a repetitivo e vazio.

Contudo, também existem aspectos positivos, a começar na atitude de Panda Bear. Eu admiro muito a postura de Bear, de não se querer repetir, reinventado-se a cada álbum que grava. Isso é certamente uma característica louvável, e que prezo muito. Estou certo que, apesar de o som não me agradar, ele soa desta maneira porque assim foi planeado por Noah Lennox. Mas falando da sonoridade, devo reconhecer que, neste álbum estão patentes algumas boas ideias. Não fosse a malfadada repetição incessante, e talvez “Last Night at the Jetty” ou “Slow Motion” pudessem ter sido boas músicas. Falando em boas músicas, existe neste disco um trio de faixas que realmente brilham, e contrastam com o resto do disco. Falo do primeiro single retirado do álbum, “Tomboy” (um som de sintetizador hipnotizante), “Alsatian Darn” (uma canção de uma leveza encantadora) e “Afterburner” (uma sonoridade muito tropical, e que varia na “pintura” que vai pintando com o som). Essas três canções são, para mim, bastante boas, mas infelizmente não conseguem puxar o disco para um outro patamar de qualidade, pois vêem-se “afogadas” pelas outras peças, a meu ver de muito menor qualidade.

Resumindo, fiquei bastante surpreendido de não ter gostado deste disco, pois tenho grande estima pelo trabalho de Panda Bear, tanto a solo como nos Animal Collective. Não creio que “Tomboy” seja um sucessor à altura de “Person Pitch”, pois no geral soa a algo muito repetitivo e que falha em ser cativante. No entanto, fico à espera que Panda Bear grave mais qualquer coisa, tanto em grupo como a solo, pois não é por um álbum menos bom que vou deixar de confiar nas suas capacidades enquanto músico. Fica um aviso: se não são fãs de Panda Bear/Animal Collective, esta não é a melhor maneira de se iniciarem na sua obra. Se ouvirem, estão por vossa conta e risco!

Nota Final: 4,0/10

(PS: fica aqui o aviso, o MDC tem uma nova poll, caso não tenham reparado. Se puderem/quiserem, façam favor de votar no festival -ou festivais- a que pretendem ir neste Verão. Ficaria muito agradecido)

João Morais

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Wounded Rhymes

Em 2008, Lykke Li (como se pronuncia, não me perguntem) lançou o seu álbum de estreia, “Youth Novels”, apostando numa sonoridade Alternative Pop, jogando numa mescla entre o Folk e a Dream Pop. Passados três anos, esta jovem sueca lança o seu segundo longa-duração, “Wounded Rhymes”. Hoje, o MDC vai traz-vos a review deste disco. Vamos a isso.

Como já disse, Lykke Li é uma artista sueca, que lançou em finais de Fevereiro o seu segundo disco, “Wounded Rhymes”. Tendo ouvido recentemente o seu disco de estreia, para poder fazer esta review, devo dizer que existe uma clara evolução na sonoridade de Lykke Li. Se em “Youth Novels” havia apenas uma ténue influência do Folk na sua música, com a Dream Pop a ser mais notória (e alguns laivos, até, de Electropop em alguns momentos), em “Wounded Rhymes” Li toma uma direcção muito mais próxima do Folk (e em certos momentos até, próxima do Folk-Rock), com um disco muito mais analógico e com um feeling mais “orgânico”. E devo dizer que esta transição me agradou e muito. Confesso, não fiquei fã do seu primeiro LP, mas este segundo disco conquistou-me o coração. Mas falemos mais detalhadamente.

Um dos pontos positivos deste disco é a produção, a cargo de Björn Yttling (lembram-se dos Peter Björn & John, da “Young Folks”?), que eleva o disco a um patamar de grande qualidade. O tom escuro e frio do disco passa muito por essa produção, que não faz por polir em demasia o som (algo que aprecio num disco, como já repeti aqui inúmeras vezes). Isso faz com que as canções soem mais “naturais”, e dá um gostinho especial ao álbum. O que também ajuda à qualidade do disco é a voz de Lykke Li, bastante aprazível aos ouvidos, e que faz passar bem esse sentimento de melancolia que está bem presente em “Wounded Rhymes”. As letras também ajudam a dar um toque muito intimista ao disco. Quanto a canções em particular, dou particular destaque a “I Know Places” (uma faixa tão simples e sincera que é capaz de gelar os ossos), “Get Some” (o seu ritmo consegue pôr qualquer um a mexer), “Jerome” (a percussão nesta música traz-lhe uma força incrível) e à minha favorita do álbum, “Rich Kid Blues” (o mais próximo do Rock que encontramos neste disco, uma canção verdadeiramente viciante), se bem que na larga maioria, as canções conseguem ser cativantes e prender a atenção do ouvinte.

No entanto, o disco também tem alguns traços menos positivos. O principal prende-se ao facto de, após repetidas audições, ficar-se com a ideia de que o disco é demasiado uniforme. Não que isso me chateie muito, mas poderá tornar-se um problema para quem gosta de álbuns mais “variados”. Também devo referir as canções de que gostei menos no disco: “Unrequited Love”, “Sadness Is a Blessing” e a faixa que encerra o álbum, “Silent My Song”, que padecem do mal de me soarem demasiado aborrecidas. No entanto, apesar destas falhas, o disco não deixa de ser bastante bom.

Em suma, a evolução que Lykke Li fez de “Youth Novels” para este “Wounded Rhymes” é notória e, a meu ver, de louvar. Apesar de algumas características menos positivas, este disco prima pela solidez e coesão no seu todo, e mostra que Li é uma artista talentosa, que consegue assinar um belíssimo LP como este. Espero que Li continue a melhorar a cada registo, pois se há coisa que este “Wounded Rhymes” fez foi deixar-me com água na boca por mais.

Nota Final: 8,0/10

João Morais

terça-feira, 14 de junho de 2011

Hardcore Will Never Die, But You Will

Boa noite a todos. Hoje, o MDC traz-vos a review de mais um álbum. Desta vez, temos o sexto disco de originais dos escoceses Mogwai, “Hardcore Will Never Die, But You Will”, que chegou às lojas a 14 de Fevereiro deste ano (eu sei, estou um pouco atrasado nas reviews, mas isto aos poucos entra nos eixos). Qual será o veredicto deste registo? Vejamos.

Para quem não sabe, os Mogwai são um grupo escocês de Post-Rock, e que ao longo dos seus 16 anos de carreira conseguiu atingir uma posição de proeminência nesse estilo de música. Num género normalmente associado à melancolia e à tristeza, os Mogwai conseguiram introduzir alguma boa-disposição e ironia (vejam-se títulos de canções como “I’m Jim Morrison, I’m Dead” ou “Moses? I Amn’t”). Outra das características peculiares dos Mogwai dentro deste estilo é a forma como, de vez em quando, colocam vocais nas suas canções, algo pouco usual no Post-Rock, em que a tendência é a de peças instrumentais. Todas estas peculiaridades fizeram com que eu me interessasse por esta banda, devendo confessar que sou fã até certo ponto, conhecendo o grosso da sua obra. Isso provou ser útil para esta review, pois olhando para o antecessor deste LP, o disco de 2008 “The Hawk Is Howling”, consegue-se ver que as diferenças são notórias, tanto ao nível da postura com que o álbum é encarado, como ao da sonoridade.

Ao nível da postura, “The Hawk Is Howling” foi um álbum atípico na discografia da banda de Stuart Braithwaite, pela sua completa falta de vocais. “Hardcore Will Never Die” retoma essa “tradição” da banda, ao colocar vocais em algumas das peças (nomeadamente ”Mexican Grand Prix” e “George Square Thatcher Death Party”). Ao nível da sonoridade, as diferenças são ainda maiores. Se “The Hawk Is Howling” era rico em canções mais contemplativas, conduzidas pelo piano e que pintavam uma “paisagem” mais calma, “Hardcore Will Never Die (...)” leva-nos a uns Mogwai mais simples, abrasivos e directos. Apesar de ainda existirem algumas canções mais calmas (“Letters to the Metro” ou “Too Raging to Cheers”), a verdade é que neste LP encontramos muito mais potência na sonoridade do quinteto oriundo da Escócia. Confesso, esta mudança agrada-me bastante. Não querendo desdenhar de “The Hawk Is Howling”, a verdade é que este som mais cru e puro dos Mogwai soa melhor aos meus ouvidos. Também a vontade de mudar a cada disco, tentando manter a fórmula fresca, é algo que valorizo muito, e neste “Hardcore Will Never Die (...)” isso é muito bem conseguido.

Os aspectos mais positivos deste disco prendem-se mesmo a essa “crueza” no som, e da forte utilização de uma dinâmica Quiet-Loud-Quiet (popularizada pelos grandes Pixies, banda citada pelos Mogwai como uma das grandes influências), que faz com canções que comecem vagarosas rapidamente se tornem em poderosíssimas peças, com uma rapidez e energia inquietantes. Ao nível técnico, a banda também soa melhor que nunca, com especial destaque para a bateria de Martin Bulloch, que soa sempre forte e certeira por todo o registo.

Como pontos altos deste disco, devo destacar as canções “How to Be a Werewolf” (com um build-up fantástico, que leva a um clímax sonoro intenso), “San Pedro” (curta e certeira, consegue mostrar alternâncias no ritmo sem nunca perder o feeling de urgência que nos faz ficar à beira da cadeira) ou a minha favorita, “Rano Pano” (5 minutos e 17 segundos de pura beleza auditiva, com um riff “sujo” que me deu voltas à cabeça, e com subtis adições e subtracções no esquema sonoro, que me fizeram repetir esta faixa vezes e vezes sem conta), se bem que, no geral, o disco soa muito bem.

Contudo, também devo destacar os defeitos do disco. O principal problema, para mim, são os vocais, que achei bastante imperceptíveis (talvez seja de mim, ou talvez os efeitos pelos quais estes passaram realmente os tornaram indecifráveis em certos momentos). No que toca a canções, há duas que realmente podiam ter sido mais bem trabalhadas: “Death Rays” e “Letters to the Metro”, que achei bastante aborrecidas, e a meu ver desnecessárias neste disco. Contudo, são apenas pequenas falhas num disco que prima pela sua grande qualidade.

Resumindo, “Hardcore Will Never Die, But You Will” mostra uns Mogwai em topo de forma, e que não desejam repetir-se uma e outra vez. Conseguindo despir-se de tudo o que é acessório, os Mogwai fizeram um disco mais simples e directo, que chega aonde é preciso sem grandes artifícios. “Hardcore Will Never Die, But You Will” é, assim, um disco que recomendo vivamente, tanto a fãs como a quem não conhece minimamente a banda. Coloca-se, no entanto, a questão: o que virá a seguir?

Nota Final: 8,9/10

João Morais

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Collapse into Now

Com 14 álbuns de originais editados desde o início da banda, em 1980, os R.E.M. atingiram ao longo destes 31 anos de existência um estatuto de grande relevância no panorama musical mundial. Considerada uma das bandas mais importantes do Alternative Rock americano dos anos 80 (opinião que partilho), a formação proveniente de Athens, Georgia lançou em Março deste ano o seu 15º disco, “Collapse into Now”. Hoje, o MDC propõe uma análise desse mais recente LP da banda liderada por Michael Stipe. Vamos a isso?

Para começar, devo dizer que o antecessor deste “Collapse into Now”, ”Accelerate” (2008) foi um disco que conseguiu dar uma nova vida aos R.E.M., especialmente depois do flop de “Around the Sun” (2004). Por isso, as expectativas para este 15º de originais estavam bem elevadas. Contudo, a banda de Stipe não conseguiu, a meu ver, capitalizar esse “rejuvenescimento”. Enquanto que “Accelerate” ia numa direcção mais veloz, roqueira e abrasiva, este “Collapse into Now” soa disperso e difuso, com poucas faixas que consigam realmente criar uma ligação convincente com o ouvinte. Foi com tristeza que constatei que este álbum estava muito medíocre, pois considero-me fã da banda, e estava com esperanças que este novo fôlego se prolongasse aos próximos álbuns.

Em termos de sonoridade, “Collapse into Now” mantém o “selo R.E.M.”, com a banda a soar a si mesma. Contudo, a forma como esta sonoridade nos é entregue é, na maioria das vezes, pouco satisfatória. Faixas como “Discoverer” (faixa que abre o disco), “Oh My Heart” (que promete com a sua intro orquestral, mas que acaba por “descambar” numa balada acústica pouco inspirada) ou “Walk It Back” (mais uma balada, desta feita ao piano, muito repetitiva e nada emocionante) conseguiram desligar-me do álbum e querer mudar de música. Isso é aliado ao facto da maioria das canções soarem a filler, desprovidas de qualquer energia ou significado. Estou a falar de canções como “All the Best”, “It Happened Today” ou “Blue”, (faixa que encerra o disco de uma forma pouco sólida, indo buscar o riff da faixa de abertura, e que acaba por soar a um final forçado), que ajudam a fazer com que este “Collapse into Now” seja uma obra medíocre.

É certo que canções como “Überlin” (uma faixa slow tempo, que consegue transmitir um sentimento de melancolia), ”Alligator_Aviator_Autopilot_Antimatter” (um belo tema, muito enérgico e frenético) ou “Me, Marlon Brando, Marlon Brando and I” (mais uma faixa imersa numa completa melancolia, que impressiona pela sua simplicidade) têm uma grande aura, e conseguem mostrar que há “focos luminosos” no LP, mas de cada vez que essas faixas tentam criar embalo, esse momentum é cortado por faixas medíocres (e por vezes más), levando a que a obra, no seu todo, soe descoordenada, desorganizada e pouco aprazível ao ouvido.

Resumindo, “Collapse into Now” está longe de ser um bom disco. Não sendo inaudível, este 15º trabalho dos americanos R.E.M. soa a um flop tremendo, pois não só falhou em cativar-me, como foi incapaz de suceder de forma digna a “Accelerate”. Eu só espero (quase que rezo, apesar de ser ateu) que para a próxima Michael Stipe e companhia nos presenteiem com um álbum de grande nível, porque eu não estou com vontade de ouvir mais nenhum “Around the Sun”.

Nota Final: 4,3/10

João Morais