terça-feira, 30 de agosto de 2011

The Rip Tide

Com os pés em New Mexico, mas com o coração em cada um dos cinco continentes, Zach Condon decidiu começar, em 2006, os Beirut, projecto que funde a Indie Folk anglo-saxónica com a World Music, com uma forte predominância da música balcânica. Depois de dois discos bem recebidos pela crítica, Gulag Orkestar (2006) e The Flying Club Cup (2007), chegou-nos, a 2 de Agosto, o muito aguardado terceiro longa-duração do conjunto, The Rip Tide, que será sujeito a crítica hoje.http://www.espalhafactos.com/wp-includes/js/tinymce/plugins/wordpress/img/trans.gif

Confesso-me fã dos Beirut, e tenho duas razões bastante fortes para isso: Gulag Orkestar e The Flying Club Cup, para mim, dois discos de excepção. Enquanto que o primeiro surpreende pela inovação de fazer canções Pop à moda da Folk da Europa de Leste, o segundo encanta com os maravilhosos arranjos orquestrais (crédito de Owen Pallett), que levaram a música da banda para um outro plano, “polvilhando” a sonoridade base da banda com um pouco de Chanson Française.

Contudo, em The Rip Tide, assistimos a um passo atrás na evolução da sonoridade da banda, com o grupo de Zach Condon a criar um disco que aposta mais no cavaquinho, no acordeão e no trompete, e menos em orquestrações grandiosas. É certo que estas ainda se fazem sentir em certos momentos, mas o destaque aqui é desviado para um espírito mais intimista e “despido”, que não me soa nada mal.

Algo também bastante notório neste LP é a produção, clara e límpida, à semelhança de The Flying Club Cup. Esta clareza traz ao de cima os vocais de Condon, que fazem com que o disco consiga atingir uma grande proximidade com o ouvinte. Todas estas características fazem com que The Rip Tide seja um disco bastante aprazível de se ouvir.

Porém, nem tudo é positivo neste álbum. Um dos defeitos mais flagrantes é, sem dúvida, a diminuta duração do disco. Com apenas nove canções e uma duração de pouco mais de meia hora, este The Rip Tide é bastante curto, especialmente se considerarmos que o seu predecessor saiu em 2007.

Outra falha deste LP é, a meu ver, a falta de qualidade de algumas das canções que estão a meio do disco, que cortam o ritmo iniciado pelo belíssimo trio de faixas que abre o registo (A Candle’s Fire, Santa Fe e East Harlem). Esta “morte” do andamento ajuda a que o já curto álbum tenha ainda menos que se aproveite.

Destaco como melhores canções deste disco a melancólica Vagabond, a tocante Port of Call, que fecha o disco muito bem, e a minha favorita, a viciante Santa Fe, que com o seu sintetizador “saltitão” me lembra, por momentos, os The Magnetic Fields. Quanto às de que menos gostei, aponto Goshen, Payne’s Bay ou The Peacock, faixas que, a meu ver, têm uma clara falta de algo que as faça brilhar.

Em suma, The Rip Tide é um bom álbum, mas não é um disco que suceda condignamente a The Flying Club Cup. A curta duração e a inconsistência das canções são factores que só tiram pontos a um longa-duração que prima pela intimidade e “leveza”. Os que já são fãs dos Beirut irão, sem dúvida, ficar agradados com este LP, mas para quem está a conhecer agora este grupo recomendo que comece por outro disco.

Nota Final: 7,7/10

João Morais


(Este texto foi originalmente publicado no Espalha Factos e pode ser visto aqui)


domingo, 14 de agosto de 2011

In the Mountain in the Cloud


Vindos do frio e longínquo Alaska, os norte-americanos Portugal. The Man são uma das bandas mais prolíficas dos últimos tempos, com seis discos de originais lançados desde que começaram, em 2004. O mais recente, In the Mountain in the Cloud, está nas lojas desde 19 de Julho, e sucede a American Ghetto, o aclamado álbum de 2010. Será que os Portugal. The Man conseguiram superar-se?http://www.espalhafactos.com/wp-includes/js/tinymce/plugins/wordpress/img/trans.gif

Para mim, os Portugal. The Man são uma daquelas bandas bastante consistentes, que apesar de ainda não terem criado nenhuma “obra-prima”, também nunca desiludiram, mantendo sempre o nível de qualidade dos seus discos acima da “linha de água”. American Ghetto conseguiu subir ainda mais o patamar a que os norte-americanos nos tinham habituado, com uma produção mais rica e uma atitude ainda mais experimental, bem visível nos sintetizadores e nos ritmos que aproximaram a banda do Electronic Rock.

Em In the Mountain in the Cloud, porém, o grupo de John Gourley decidiu cortar com essa sonoridade, aproximando-se mais do Psychedelic Rock dos Flaming Lips, ou até de David Bowie (mais concretamente do disco Space Oddity, de 1969). É certo que existe uma certa continuidade, especialmente no que toca à produção, que se mantém bastante sólida e polida. No entanto, este é um álbum com uma sonoridade bastante diferente.

A aposta na instrumentação acústica é evidente: aqui não há guitarras eléctricas a “rasgar”, mas sim um som acústico a “piscar o olho” à Psychedelic Folk. Também temos uma forte presença de orquestração clássica, que dá uma maior riqueza ao som, sempre bem-vinda. Isto, com as letras alegres e bem-dispostas, cria um “ambiente” muito positivo. Confesso, gostei muito de ouvir estas inovações no som dos Portugal. The Man, que conseguiram criar em In the Mountain in the Cloud um disco que cai bem no ouvido.

Contudo, este disco também padece de falhas que, a meu ver, fazem com que este LP não consiga superar American Ghetto, a começar pela inconsistência; se é verdade este In the Mountain in the Cloud tem belíssimas canções, também não é mentira que, a meu ver, houve momentos de total marasmo, que fizeram com que me desligasse do disco.

Outro problema é a homogeneidade in extremis deste LP; apesar de apreciar discos que têm um “fio condutor” que se faz sentir ao longo de toda a obra, a verdade é que In the Mountain in the Cloud abusa desse “fio”, fazendo com que muitas canções soem exactamente às que as antecederam. Isto ajuda ao tal marasmo de que falei anteriormente.

Pela negativa, destacam-se Head Is a Flame (Cool With It), All Your Light (Times Like These) e Once Was One, canções a meu ver inferiores, e que contrastam com as belas So American, Senseless ou a minha favorita, Sleep Forever, que conseguem trazer qualidade a um álbum que seria, sem elas, medíocre.

Resumindo, In the Mountain in the Cloud não é um mau álbum, mas também não uma grande obra, e certamente que não é uma melhoria em relação a American Ghetto. Que o Psychedelic Rock lhes fica bem, quanto a isso não há dúvidas; porém, é preciso fazer discos mais sólidos e consistentes. Contudo, este LP não deixa de ser uma boa aposta para ouvir, especialmente no fim de tarde de Verão. Fica-se à espera do próximo álbum, que muito provavelmente sairá no próximo ano.

Nota Final: 7,2/10

João Morais



(Este texto foi publicado originalmente no Espalha Factos, e pode ser visto aqui)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Codes and Keys

Vindos do frio estado de Washington, os Death Cab for Cutie, de Ben Gibbard, são uma banda já bem conhecida dentro e fora da cena Indie Rock norte-americana. Começando em 1997, o grupo já assinou sete discos de estúdio, sendo o mais recente, Codes and Keys, que chegou às prateleiras das lojas de música em Maio deste ano, e que será hoje analisado pelo Música Dot Com.

Apesar de ter começado a ouvir a obra dos Death Cab for Cutie recentemente, reconheço que daquilo que ouvi, gostei, e muito. A sonoridade intimista e as letras tristonhas que povoam a maioria das canções do grupo podem não ser do gosto de todos, mas é certo que, a mim, atingem um ponto frágil no meu coração. Contudo, confesso que o sexto disco da banda, Narrow Stairs (2007), não foi muito do meu agrado. Por isso, este Codes and Keys tinha uma tarefa relativamente fácil para suplantar o seu antecessor.

Se em Narrow Stairs assistíamos a um certo “negrume” nos riffs e nas letras, com a guitarra a ter bastante destaque, neste Codes and Keys encontramos uma banda com uma sonoridade muito mais “luminosa” e com letras mais alegres, com o piano a roubar o “papel principal”. Ocasionalmente, também encontramos uma instrumentação mais orquestral, e de quando em vez, o sintetizador também decide aparecer, explorando a sonoridade electro-acústica característica do outro projecto de Gibbard, os agora abandonados The Postal Service.

A produção deste disco também corta com o anterior Narrow Stairs, que tinha uma sonoridade mais suja e crua. Pelo contrário, este Codes and Keys utiliza um som mais límpido. Admito, sou fã de LP’s mais crus, mas este só ficou a ganhar com esta produção, que encaixa bem com a disposição geral do álbum. Todos estes factores fazem com que Codes and Keys seja um disco de grande qualidade.

No entanto, existem alguns defeitos. Se é verdade que esta faceta mais feliz de Gibbard traz consigo um som mais luminoso, a verdade é que discos como Something About Airplanes (1998) ou Transatlanticism (2003) conseguiam criar uma maior ligação com o ouvinte, devido às suas canções intimistas e enternecedoras. Não digo que os Death Cab for Cutie devessem manter-se sempre no mesmo registo, mas a verdade é que por vezes, esta alegria soa “forçada”, quando a tristeza lhes saía muito mais naturalmente.

Outra questão é a da falta de consistência que às vezes se sente; enquanto que canções como Codes and Keys (a belíssima faixa-título) ou Doors Unlocked and Open estão cheias de energia e brilho, faixas como Home is a Fire (que abre mal o disco, na minha opinião) ou St. Peter’s Cathedral acabam por despertar indiferença em mim, devido à falta de algo que agarre a minha atenção.

Destaco pela positiva a vibrante Doors Unlocked and Open, a poderosa Underneath the Sycamore, ou a minha favorita, You Are a Tourist, o primeiro single a ser extraído deste Codes and Keys, e que prima pela sua beleza em estado puro. Pela negativa, devo referir, Home is a Fire, Unobstructed Views, e St. Peter’s Cathedral, que a meu ver impedem que este disco atinja um patamar mais alto de qualidade.

Concluíndo, Codes and Keys é, a meu ver, uma melhoria em relação a Narrow Stairs, mas a verdade é que a alegria que preenche este disco, apesar de soar bem ao ouvido, ainda está um pouco longe do pico de qualidade alcançado pela banda em tempos anteriores. Fico à espera que, no próximo disco, os Death Cab for Cutie consigam trazer-nos um álbum ainda melhor. Contudo, não ficamos mal servidos com este Codes and Keys.

Nota Final: 7,8/10

João Morais

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Comunicado

Caros leitores,

Se por acaso são visitantes regulares do Música Dot Com, (tanto do blog como das redes sociais em que estamos presentes), já devem ter reparado na recente inactividade a que o MDC tem estado submetido. Começo, por isso, por pedir desculpas. No entanto, esta “hibernação” tem a sua razão de ser, e vou passar a explicá-la.

Para quem não sabe, eu, o criador do Música Dot Com, comecei a trabalhar para um jornal online chamado Espalha Factos (http://www.espalhafactos.com), onde vou passar a fazer basicamente o que faço aqui: reviews a discos e concertos dos mais variados géneros, em princípio duas vezes por semana. Por isso, tenho estado a concentrar-me nesse novo “posto”, daí que o Música Dot Com tenha ficado, nos últimos tempos, um bocado esquecido. Contudo, se pensam que este blog vai acabar, não se apoquentem; o MDC vai perdurar, pois todos os textos que eu escrever lá irão ser publicados (com algum atraso, como é evidente) aqui, no bom e velho blog que tem sido a nossa casa desde 8 de Outubro de 2009. Também irei escrever, quando o tempo me permitir, críticas a álbuns que não possa analisar no EF (especialmente os que estão mais atrasados, por desleixo meu).

Posto isto, espero que continuem a ser fiéis leitores deste nosso canto aonde nos dedicamos à belíssima arte que é a música. Espero também que tentem acompanhar os meus textos no Espalha Factos, para poderem saber em primeira-mão quais os meus pensamentos em relação aos mais variados discos.

Atenciosamente,

João Morais


(A minha primeira publicação no Espalha Factos pode ser vista aqui)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pala

“Friendly Fires”, a obra homónima de 2008, valeu-lhes elogios da crítica (foi nomeado para o prestigiado Mercury Prize), pela forma como cria uma sonoridade que ousa misturar a Sythpop e o Dance Rock, através dos seus ritmos animados e fervilhantes. Agora, em 2011, os britânicos Friendly Fires voltam com um segundo disco, “Pala”, saído a 16 de Maio. Hoje, o Música Dot Com traz-vos a análise deste álbum. Preparados?

Começo por dizer que gostei do primeiro disco, “Friendly Fires”. Apesar de não ser nenhum LP brilhante, é “fresco” e soa bem, cumprindo os requisitos mínimos para ser considerado uma boa estreia. Logo, quando soube que iria sair um segundo registo da banda oriunda de Hertfordshire, fiquei curioso. Não chego ao ponto de dizer que estava ansioso, mas é certo que fiquei à espera para ver o que dali saía. E a verdade é que não fiquei nada mal impressionado com “Pala”, um disco que, a meu ver, consegue estar um patamar acima do álbum de estreia.

Se “Friendly Fires” já passava um certo “calor” na sua sonoridade, então “Pala” é um disco que “tresanda” a Verão passado à beira da piscina, com canções como “Live Those Days Tonight” ou “Hawaiian Air” a mostrarem um “mergulho” ainda mais profundo para a Pop amiga das pistas de dança. Enquanto que o disco de estreia ainda tinha uma certa influência do Post Punk ou até do Shoegaze, neste “Pala” essas influências desvaneceram quase por completo, para o espaço ser agora ocupado pela Electronica, que é extremamente visível através de um (ainda) maior número de sintetizadores e ritmos computadorizados. É certo que por vezes o Dance Rock ainda faz sentir a sua presença (especialmente em “Running Away” ou no refrão frenético de “Blue Cassette”), mas a verdade é que este disco mostra uns Friendly Fires com ainda mais apetência para a discoteca. Confesso que esta mudança é bem-vinda, pois se há coisa que estes britânicos fazem bem é pôr toda a gente a dançar, algo que vai ser ainda mais fácil com este belo LP.

Contudo, “Pala” está longe de ser um álbum perfeito. Uma das primeiras coisas que reparei neste disco foi a sua grande homogeneidade, que é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o seu maior defeito; se é verdade que nas primeiras reproduções escutei um disco extremamente coeso, cativante e apelativo, também constatei que esse brilho vai-se aos poucos desvanecendo quando repetimos variadas vezes as audições, fazendo-me reparar que o disco soa todo muito semelhante. Não quero com isto dizer que condeno os álbuns que têm um som que é transversal a todo o registo, mais este “Pala” podia ter um pouco mais de variedade, para evitar cair na redundância. Também tenho a criticar a escolha de “Helpless” para o fecho do LP, a meu ver uma música mais pobre em termos de qualidade, e que acaba por deixar o disco “mal resolvido”. Estas falhas, apesar de fazerem a diferença, não fazem com que “Pala” seja um mau álbum, mas que apenas poderia ser melhor.

Entre as minhas canções favoritas estão “Live Those Days Tonight” (que abre o disco de forma extremamente energética), “Pala” (a faixa-título, que conta com um beat mais lento, que monta uma atmosfera muito interessante) e aquela que é, para mim, a melhor canção do registo, “Hawaiian Air” (uma peça extremamente poderosa, com um ritmo que faz com que seja impossível ficar quieto). Entre as menos boas contam-se “Helpless”, “Chimes” e “True Love”, peças medianas que não ficam bem no meio de canções que se destacam pela positiva.

Em suma, “Pala” é um bom álbum, e que eleva a fasquia em relação ao homónimo disco de estreia. Não sendo um disco brilhante, é um LP bastante bom para dançar, especialmente nestas noites de Verão. Fica-se à espera de mais e melhor destes meninos para a próxima vez que entrarem em estúdio, mas por agora, a gente contenta-se com este “Pala”.

Nota Final: 7,8/10

João Morais