quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Entrevista: Linda Martini

Os Linda Martini são um quarteto lisboeta composto por André Henriques, Hélio Morais, Pedro Geraldes e Cláudia Guerreiro. Formados em 2003, produziram o seu primeiro registo em 2005, o EP homónimo Linda Martini, onde nasceram faixas como Este Mar e a célebre Amor Combate.

Desde muito cedo cultivam uma vasta legião de fãs, sempre pronta a prestar-lhes culto, e que só aumentou com a estreia nos LP’s, em 2006, com o sublime Olhos de Mongol. Sempre com uma sonoridade própria, com uma entrega imensa e com os lirismos muito bem conseguidos, foram acumulando notoriedade e  popularidade junto do público através dos lançamentos dos EP’s Marsupial e Intervalo.

Se eram já uma das bandas mais adoradas no panorama alternativo português, Casa Ocupada, lançado em 2010, catapultou-os ainda mais para o topo, quer em termos de fãs quer em termos qualitativos. De promessa, rapidamente se consolidaram como uma das melhores bandas portuguesas de todos os tempos. São os Linda Martini, e o Música Dot Com falou com eles:

Os Linda Martini surgiram depois dos elementos da banda terem andado na estrada com projectos musicais que enveredavam uma vertente mais marcada pelo hardcore e pelo punk. De que modo julgam estarem presentes estes géneros musicais na vossa sonoridade?
Linda Martini: Na maneira como fazemos e encaramos a música, essencialmente. Temos sempre a última palavra nas decisões que afectam a carreira da banda. Não temos um manager omnipotente. Estamos sempre por dentro de todas as decisões, sejam elas de edição, promoção, merchandising, etc. E no gostarmos de tocar alto e sujo, claro.

Na vossa já longa carreira [contam com quase 10 anos de existência] sucederam-se já algumas peripécias relevantes que sentenciaram os Linda Martini tal qual como são hoje. Uma dessas situações foi a saída do Sérgio, membro fundador do grupo, e as razões para esse afastamento nunca foram muito explícitas. Que circunstâncias ditaram a sua saída?
LM: Nenhuma circunstância especial que mereça grandes comentários. A vida é feita de amores e desamores, de vontades simultâneas e de vontades desencontradas. O Sérgio seguiu um caminho, a dada altura, e os restantes membros seguiram outro. Simples, sem grandes dramas. Mantemos contacto.

A vossa música prima pela sua originalidade e criatividade. Notam-se suaves aromas de bandas como Sonic Youth, At The Drive-in, ou até mesmo, e numa dose menos carregada, Nirvana, mas o que é facto é que vocês conseguem fazer do vosso som, um som único. Se vos pedissem para caracterizar o vosso género musical, como o classificariam?
LM: Rock!

Contam, até agora, com uma discografia constituída por três EP’s (Linda Martini, Marsupial e Intervalo) e com dois LP’s (Olhos de Mongol e Casa Ocupada). Nestes 9 anos de Linda Martini qual foi o registo que mais vos deu prazer em trabalhar, e porquê?
LM: Todos eles foram especiais à sua maneira. O Linda Martini foi o início e por isso tem logo uma carga muito forte. O Olhos de Mongol foi um disco em que conseguimos explorar várias coisas que queriamos experimentar. O Marsupial foi um disco mais tranquilo, em que deixámos as canções respirarem um pouco mais e foi um disco em que compusemos bastante já no estúdio. O Intervalo foi o disco em que decidimos convidar aqueles que nos acompanham nos concertos, para fazerem parte desse mesmo registo e foi igualmente o disco que nos fez perceber que gostamos de gravar em registo directo. O Casa Ocupada foi o disco mais directo e intenso que gravámos e foi também em registo directo, pelo que nos fez sentir uma banda mais coesa, logo na gravação. Quando o gravámos, já sabiamos tocar as músicas bem.
São cada vez mais idolatrados no panorama musical português. São constantemente invadidos pelo carinho do público, o que é notório nos vossos concertos ao vivo. Foi neste contexto que decidiram elaborar um registo mais «ao vivo» como Casa Ocupada, criando um ambiente propício a estabelecer-se uma simbiose perfeita entre a banda e o público com momentos como, por exemplo, a faixa Cem Metros Sereia a servir de mote?
LM: Não pensámos muito no Casa Ocupada. Na verdade, as primeiras quatro músicas que fizemos foram a Belarmino Vs., a Ameaça menor, a Queluz menos luz e a S de Jéssica. Portanto poderíamos ter ido num registo mais instrumental ou mais rock, nessa fase. Intuitivamente, acabámos por ir no sentido mais rock do material que tínhamos na altura.

Existe muita gente que vos apelida de “Os Sonic Youth Portugueses”. A faixa Juventude Sónica, de Casa Ocupada, é, de algum modo, uma crítica a essa opinião? Com que atitude encaram essa comparação?
LM: Sempre achámos um pouco redutora a comparação. Quando fizemos a Juventude Sónica, foi a primeira vez que pensámos: “Hey! Isto lembra um pouco Sonic Youth”. E por isso decidimos facilitar o trabalho a quem está sempre à procura de algo para criticar.

Quem é o principal responsável pelas letras das músicas dos Linda Martini?
LM: O André.

As vossas letras apresentam, quase todas elas, um lirismo simples e uma estrutura reduzida. Faixas (de sucesso estrondoso) como Dá-me a tua melhor faca ou Elevador são exemplos máximos disso mesmo. É na premissa de dar alento ao vosso poder instrumental que optam por composições líricas mais pequenas ou existe uma segunda intenção como, por exemplo, criar, através dessas mesmas letras, uma atitude introspectiva no ouvinte?
LM: Há sobretudo uma preocupação de não escrever só por escrever. Se a música pede só um verso, é isso que lhe damos. Se uma frase sozinha fala pela música toda, não vamos estar a inventar mais e com isso retirar força a essa mesma frase. É algo também muito intuitivo.

Qual o concerto que, até hoje, mais tiveram prazer em dar e qual o vosso palco de sonho?
LM: É um pouco complicado escolher um. Já fomos muito felizes em Paredes de Coura (das duas vezes), no Optimus Alive de 2009, no Ritz (este ano), nas Noites Ritual (2011), na ZDB (2011), etc. Palco de sonho, acho que não temos. Até porque às vezes, um palco de sonho pode-se revelar num pesadelo de concerto.

Actuaram, há pouquíssimo tempo, no San Miguel Primavera Sound, em Barcelona. Como foi tocar ao lado de bandas tão icónicas como, por exemplo, Mudhoney ou The Cure? E qual foi a reacção de nuestros hermanos à vossa performance? E quanto à actuação de Paus, alguma coisa a dizer?
LM: Não chegámos a estar sequer em contacto com essas bandas, ainda que tenhamos tocado no mesmo palco que The xx e afins. Somente nos cruzámos com os Friends. Quanto à reacção, foi a esperada; as pessoas estavam-nos a conhecer e ainda que não interagissem durante as músicas como estamos habituados em Portugal, entre elas eram bastante carinhosos e batiam bastantes palmas. PAUS também foi um bom concerto e divertiram-se todos bastante.

Quando pretendem matar a fome dos fãs com um lançamento de mais algum álbum ou de algum EP? Estão previstos, para breve, novos projectos?
LM: Estamos neste momento a fazer o terceiro longa duração. A ideia é gravar lá para o fim do ano e editar em 2013, para comemorar 10 anos de Linda Martini. Mas é acompanhar o nosso Facebook, para se saber de como as coisas estão a correr.

Entrevista realizada por mail por Emanuel Graça
Fotos da autoria de Paulo Segadães, gentilmente cedidas pela banda.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mixtape da Semana // Week 28

Com a chegada de mais uma Segunda-Feira já se sabe que vem sempre mais uma Mixtape da Semana, trazida aqui pelo Música Dot Com para vos entreter os ouvidos com grandes doses de qualidade musical. As escolhas da 28ª playlist são, mais uma vez, sem tema definido, mas prometem pôr-vos a cantar e a abanar a cabeça que nem uns doidos ao fim de algumas canções. Com nomes como Feist, TV on the Radio ou The Libertines, não há como falhar.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         A Commotion Feist
·         John Wayne Gacy, Jr. Sufjan Stevens
·         Like Dylan in the Movies Belle & Sebastian
·         Wolf Like Me TV on the Radio
·         Breakthrough Modest Mouse
·         Break my Body Pixies
·         Extreme Ways Moby
·         Repeaterbeater Mew
·         Tell the King The Libertines
·         Borboleta Foge Foge Bandido


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Curtas #3


Port of Morrow The Shins [20 Mar]
- Apesar das inúmeras alterações do line-up que tiveram lugar entre Wincing the Night Away (2007) e Port of Morrow, e que fizeram de James Mercer o único membro fundador “resistente”, as expectativas para este quarto LP do grupo norte-americano eram bastante elevadas. Porém, este é, na minha opinião, um daqueles casos em que o hype exagerado traz um ligeira decepção. Apesar de ser, no geral, um disco agradável e de trazer algumas interessantes alterações à Indie Pop dos The Shins, como é o caso de uma instrumentação com mais sintetizadores e uma produção mais polida e definida, Port of Morrow também acaba por ser um álbum bastante inconsistente e desequilibrado e que mostra uma regressão de qualidade quando comparado com o seu sucessor. Creio, no entanto, que os fãs mais acérrimos do grupo irão ficar rendidos; eu é que esperava um bocadinho mais.
Pontos altos:
- Simple Song
- No Way Down
- Port of Morrow
Nota Final: 6.1/10

Wrecking BallBruce Springsteen [5 Mar]
- Não sou, nem de perto nem de longe, um grande fã de Bruce Springsteen. Apesar de lhe reconhecer mérito, qualidade e talento, nunca me senti realmente “agarrado” por alguma coisa dele. No entanto, porque respeito aquele que é um dos grandes ícones da Pop Rock dos últimos 40 anos e porque até gostei de ouvir algumas das coisas “recentes” que o senhor tem lançado (em especial Devils & Dust, de 2006), decidi ouvir este Wrecking Ball e fazer uma review. Porém, não posso dizer que tenha ficado agradado com o que ouvi, muito pelo contrário. Mostrando uma queda de qualidade tremenda quando comparado com as três obras anteriores de Springsteen, Wrecking Ball traz uma tentativa de fazer rinse and repeat a uma sonoridade já feita milhões de vezes pelo cantautor norte-americano: o Folk Rock “inspirador”, as letras politicamente "interventivas" mas incrivelmente vazias, os “toques” Country que mostram a ligação às “raízes” do país e a produção gigantesca e inchada. Apesar de um punhado de canções safarem o disco do descalabro total, Wrecking Ball é uma obra que não me conseguiu convencer.
Pontos altos:
- Death to My Hometown
- Wrecking Ball
- Land of Hope and Dreams
Nota Final: 4.2/10

Love at the Bottom of the SeaThe Magnetic Fields [5 Mar]
- Se tivesse feito no início do ano uma lista dos discos que mais aguardava para 2012, o décimo longa-duração dos The Magnetic Fields estaria certamente incluído, ainda para mais quando este se trata do primeiro álbum do grupo depois da “no synth trilogy” concebida por Stephen Merritt na ressaca do incrível triplo disco de 1999, 69 Love Songs. Porém, confesso que a desilusão que senti ao ouvir este álbum quebrou-me o coração. Extremamente inconsistente, Love at the Bottom of the Sea assemelhou-se mais a uma colecção de 15 demos mal trabalhadas e em estado “cru” do que a um LP propriamente dito. E quanto aos tão aguardados sintetizadores, na minha opinião só vieram trazer “açúcar” a mais as canções, e encher as peças de uma sonoridade muito pouco interessante ou estimulante. É certo que as letras de Merritt continuam genialmente irónicas e há aqui um grupo de canções bem conseguidas; no entanto, a falta de trabalho neste LP é, a meu ver, gritante, e faz com que Love at the Bottom of the Sea seja tudo menos um bom álbum.
Pontos altos:
- Andrew in Drag
- The Machine in Your Hand
- Quick!
Nota Final: 3.9/10

Some Nights fun. [14 Fev]
- Um dos discos que mais burburinho gerou no início de 2012, em grande parte por culpa do single de lançamento We Are Young (que conta com a participação de Jannelle Monáe), Some Nights é o segundo lançamento do trio Indie Pop fun., e vem suceder a Aim and Ignite (2009). Porém, e à semelhança do que senti em relação ao seu antecessor, Some Nights pareceu-me um LP bastante fraco e desinteressante. Apesar dos fun. terem decidido mudar um bocado a sua sonoridade e de terem juntado à “mistura” uma grande influência do Hip-Hop e R&B contemporâneo, a verdade é que o som do trio pareceu-me, no fundo, igualmente oco e “plástico”. E a juntar a isso está a esporádica utilização de um auto-tune incrivelmente despropositado, desajustado e foleiro. Tirando os “pontos altos” e um ou outro apontamento interessante, não aproveitei quase nada deste Some Nights.
Pontos altos:
- Carry On
- It Gets Better
- All Alone
Nota Final: 4.2/10

Wreck Unsane [20 Mar]
- Sétimo disco de estúdio dos nova-iorquinos Unsane, Wreck traz-nos 10 faixas ricas em Post-Hardcore e Noise Rock cru, violento e extremamente abrasivo. E se à partida essa mistura parece ser exactamente ao meu gosto, a verdade é que este LP deu-me uma sensação um bocadinho desconfortável de estar a comer “carne mastigada”. Apesar de não ser, nem de perto nem de longe, um obcecado pela inovação constante e permanente na música, a verdade é que este Wreck pareceu-me tão derivativo e tão yesterday’s news que me achei a ouvir o disco e a ansiar por algo de fresco e entusiasmante, coisa que não aconteceu muitas vezes durante os 40 minutos de extensão do álbum. Não quero com isto dizer que Wreck é um mau LP, pois consegue ter momentos extremamente bem executados e mostra uma banda muito eficiente e perita naquilo que faz. No entanto, falta-lhe uma certa imprevisibilidade e excitação que o tire da mediania.
Pontos altos:
- No Chance
- Pigeon
- Ha Ha Ha
Nota Final: 6.2/10

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Mixtape da Semana // Week 27

Na edição de hoje, a Mixtape da Semana volta ao seu habitual formato random, com escolhas totalmente aleatórias mas incrivelmente orelhudas. Cometendo ousadias, como a mistura de Serge Gainsbourg com Dinosaur Jr. ou a combinação de Motorama com Daft Punk, esta é mais uma playlist de ouvir de princípio ao fim.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Bonnie & ClydeSerge Gainsbourg & Brigitte Bardot
·         Sugar Hiccup Cocteau Twins
·         Alps Motorama
·         Still Life The Horrors
·         Something About UsDaft Punk
·         Freak Scene Dinosaur Jr.
·         Your Touch The Black Keys
·         Baby Missiles The War on Drugs
·         Campus Vampire Weekend
·         Broken Boy Soldier The Raconteurs


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mixtape da Semana // Week 26

À margem da Pop mais “normal”, que cada vez mais preza a gravação em digital e faz questão de atingir uma qualidade de som impecável, o Lo-fi é uma das correntes artísticas mais sui generis da música popular contemporânea, pela sua teimosia em manter o “grão” das gravações caseiras e a angularidade do feedback e das pequenas falhas que tornam o analógico mais “humano”.

É a essa vertente mais alternativa da Pop que o MDC dedica a sua 26ª Mixtape da Semana. Desde pioneiros (como The Velvet Underground e R. Stevie Moore) aos mais jovens (The Black Lips e Ariel Pink’s Haunted Graffiti), passando pelos nomes mais conceituados do Lo-fi (Pavement, Yo La Tengo, Sebadoh), este conjunto traz um bocadinho de tudo nas suas 10 canções. Mais uma playlist a não perder!

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         I Like to Stay HomeR. Stevie Moore
·         I Felt Your Shape The Microphones
·         Conduit for Sale! Pavement
·         What Goes OnThe Velvet Underground
·         Clunk Yo La Tengo
·         Tidal Wave Thee Oh Sees
·         It’s All You Sebadoh
·         Push th’ Little Daisies Ween
·         Bad Kids The Black Lips
·         Revolution’s a Lie Ariel Pink’s Haunted Graffiti

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Três EPês #2


a-nimal [EP] a-nimal (17 Mai)
- Primeiro lançamento de estúdio deste trio formado por João Sousa (guitarra/voz), Zé Santos (baixo) e André Calvário (bateria), a-nimal [EP] traz-nos três canções que servem de cartão-de-visita para a sonoridade do grupo: Alternative Rock insidioso e negro, misturado com a abrasividade do Punk e do Hardcore e com alguns “cheiros” de Metal e afins que lhe conferem uma violência e uma velocidade avassaladoras. A complementar esta paisagem estão as letras (em português) que João Sousa vai “cuspindo” e que, devido ao seu teor político e filosófico extremamente carregado, ajudam a compor um quadro sombrio e avassalador que me agradou bastante. O único defeito digno de nota acaba por ser a curteza do EP, com as três canções a saberem-me a pouco. No entanto, posso dizer que esta “amostra” serve bem para aguçar a curiosidade, e demonstra bem que os a-nimal são um dos nomes a ter em conta no panorama alternativo nacional. É esperar por mais.
Pontos altos:
- Homem-Sangue
- Insomnia
Nota Final: 4.0/5

Under the Quiet Sky Plane Ticket (23 Abr)
- Vindos de Torres Vedras, os Plane Ticket são um quarteto Indie Rock composto por Leonel Nunes, Pedro Manuel Silva, João Matias e Filipe Damil Vicente, e que lançou na primeira metade deste ano o seu primeiro EP, Under the Quiet Sky. O registo, editado com o selo da Cakes & Tapes, mostra-nos um belo conjunto de 5 peças bem próximas do Post-Punk Revival de nomes como Interpol ou Motorama, e traz consigo uma aura de grande afinidade com o Post-Punk britânico de finais dos anos 70. Com uma sonoridade cinzenta, tensa e claustrofóbica, uma estética de garagem e uns vocais graves e solenes, Under the Quiet Sky consegue facilmente evocar uma atmosfera reminiscente da Manchester da Factory Records dos Joy Division ou dos The Durutti Column. Apesar de alguma homogenia, que o impede de ser perfeito, este EP é uma obra sólida e consistente, e que mostra uns Plane Ticket em grande forma. Arrisco-me a dizer que este é capaz de ser um dos meus extended plays favoritos de 2012; no entanto, fico à espera da estreia em longa-duração, para poder tirar teimas.
Pontos altos:
- Under the Quiet Sky
- Trench Line
Nota Final: 4.6/5

TNGHT TNGHT (23 Jul)
- Duo formado este ano pelos produtores Hudson Mohawke e Lunice, TNGHT é um projecto de Electronica que combina Hip-Hop instrumental com elementos de música de dança. O primeiro resultado dessa mistura é o homónimo TNGHT, um EP com cinco canções repletas de beats possantes, samples animados e tons coloridos, vívidos e que apelam fortemente à dança. Porém, apesar da originalidade que o grupo demonstra e da energia que as músicas passam, confesso que achei este TNGHT um bocadinho homogéneo, repetitivo e inconsistente demais para o meu gosto. Aguardo por mais lançamentos por parte da dupla, para ver se conseguem desenvolver as boas ideias que demonstram neste EP, e para ver se conseguem justificar todo o hype que têm gerado à sua volta.
Pontos altos:
- Goooo
- Easy Easy
Nota Final: 2.7/5

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mixtape da Semana // Week 25

Depois de terminada a “hibernação” estival, o MDC regressou em grande, e na bagagem volta também a Mixtape da Semana. A edição de hoje, a 25ª, é dedicada ao Shoegaze e às suas texturas etéreas e aos seus efeitos e feedbacks perfurantes.

Qualquer purista ortodoxo denunciaria esta compilação como uma farsa, mas aqui no MDC não somos picuinhas e decidimos misturar no mesmo pote percursores do género (como The Jesus and Mary Chain ou My Bloody Valentine) com figuras-chave (Ride ou Slowdive) e grupos que vieram revitalizar ou inspirar-se no Shoegaze (Ringo Deathstarr, Weekend ou The Pains of Being Pure at Heart). O resultado é um conjunto de 10 canções que promete fazer as delícias de quem gosta da sua música bem agridoce e abrasiva. Enjoy!

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Seagull Ride
·         40 Days Slowdive
·         Never Understand The Jesus and Mary Chain
·         Coma Summer Weekend
·         Contender The Pains of Being Pure at Heart
·         My Dreaming HillFlying Saucer Attack
·         Feel So Real Swervedriver
·         Breather Chapterhouse
·         Kaleidoscope Ringo Deathstarr
·         Soon My Bloody Valentine

domingo, 5 de agosto de 2012

Django Django

Formados em 2009, na fria e inóspita Escócia, por David Maclean, Vincent Neff, Jimmy Dixon e Tommy Grace, os Django Django são um dos grupos que mais hype tem gerado na cena alternativa britânica nos últimos tempos. O disco de estreia do quarteto, o homónimo Django Django, viu a luz do dia a 30 de Janeiro, e é dele e da sua música psicadélica e viciante que vamos falar hoje.

Não é fácil “etiquetar” condignamente a música dos Django Django sem cair numa de duas tentações: engavetá-los em “géneros” vastos e quase vazios de significado (ver: Indie Rock ou Art Rock), ou enfiá-los num subgénero tão infinitamente pequeno, estanque e simplista que acaba por não fazer jus ao melting pot de influências que este disco demonstra. Mas, dilemas à parte, a verdade é que o Art Rock (sim, escolhi a primeira opção por ser um preguiçoso) do grupo é tão rico e tão delicioso que Django Django é capaz de ser um dos meus discos favoritos de 2012.

Imaginem o Lawrence da Arábia em plena trip de cogumelos a jogar, no meio do deserto, um jogo de arcada. Se conseguirem visualizar mentalmente esta caricata e tresloucada imagem, talvez consigam perceber qual foi a experiência que retirei deste LP. Experimental e exótico a rodos, Django Django esforça-se por misturar uma Indie Pop psicadélica e ocidental com tons, toques e cheiros africanos e Worldbeat, numa combinação capaz de nos deixar de olhos arregalados.

A todo exotismo e tropicalismo junta-se, também, uma espessa camada de efeitos e sintetizadores que, quando misturados com as guitarras (eléctricas e acústicas), conferem ao álbum uma aura muito “retro-futurista”. Para além disso, temos também em Django Django um toque de Surf Rock vindo do tom borbulhante e lânguido do reverb, e que ajuda a que a mistura criada pelo quarteto se vá tornando cada vez mais sórdida, invulgar e única à medida que o disco avança.

Na produção, a cargo do baterista David Maclean, assistimos a uma estética que, apesar de nítida, mostra sempre um bocadinho de “grão” e que demonstra o porquê dos Django Django receberem muitas vezes o epíteto de “bedroom band”. No departamento lírico encontramos, tal como na sonoridade, um psicadelismo bem vincado, onde passagens sobre encontros imediatos de 3º grau, sonhos, praias e os céus do Cairo se juntam a tiradas completamente abstractas. Ao nível da voz, Vincent Neff traz-nos um registo suave e sincero que, juntamente com algumas harmonias vocais à lá The Beach Boys, “embrulha” de uma forma sublime este disco.

No que toca a defeitos, não posso dizer que Django Django me dê muitas “munições” para atirar. É certo que alguns pontos menos bons fazem com que tenha sentido, esporadicamente, alguma inconsistência, e que na segunda metade do disco se notam algumas canções menos inspiradas e mais insípidas; no entanto, a verdade é que esta é uma estreia fulgurante por parte dos Django Django, devido à criatividade e solidez demonstradas neste LP.

Quanto a peças individuais, devo destacar pela positiva a fervilhante Hail Bop, a inquietante Default, a contagiante WOR, a hipnótica Storm ou a doce Silver Rays. Quanto às faixas que, a meu ver, não se encaixam tão bem neste disco, assinalo as desinspiradas Hand of Man, Life’s a Beach e Skies Over Cairo. No entanto, não se pode dizer que estas pequenas “nódoas” afectem significativamente a performance geral de Django Django.

Em suma, Django Django é uma belíssima obra que, apesar das falhas, se revela num magnífico tratado sobre como criar experimentalismos inovadores a partir de referências completamente distintas e impensáveis. Essa combinação de arrojo com uma sensibilidade Pop bastante apurada faz com que o apaixonante Art Rock dos Django Django faça lembrar, vagamente, uns distantes Talking Heads. Fico, por isso, à espera de mais vindo desta banda, mas por agora contento-me em ouvir de novo esta maravilhosa lufada de ar fresco.

Nota Final: 8.9/10

João Morais