Apesar de ter começado a lançar discos a título
individual ainda no ano 2000, Nick
Zammuto só começou a ganhar notoriedade depois de formar, juntamente com Paul de Jong, um dos grupos mais
experimentais e sui generis da última
década, os nova-iorquinos The Books. Após a separação do duo,
anunciada este ano, o norte-americano enveredou de novo pela carreira solitária, lançando
a 3 de Abril o seu terceiro LP (e
primeiro pós-The Books), o homónimo Zammuto, álbum que vai estar em
análise hoje aqui no MDC.
Quem está familiarizado com a carreira e o trabalho dos The
Books sabe bem que, ao longo dos anos, estes foram desenvolvendo um
estilo muito próprio (e quase impossível de catalogar e etiquetar por críticos
e fãs, diga-se de passagem), baseado numa técnica de “sound collage” imersa numa Folk
misturada com Electronica, produzindo
resultados muito crus, experimentais e extremamente originais.
Pois bem, foi com isso em mente que parti para este Zammuto,
esperando que o norte-americano reproduzisse essa abordagem na sua reacesa
carreira a solo. Porém, a verdade é que aquilo que encontrei na minha primeira
audição deste LP deixou-me totalmente
espantado; apesar de manter o espírito experimental e irreverente que tem
demonstrado ao longo do seu percurso, com este Zammuto o artista
traz-nos uma sonoridade muito sua e bastante diferente daquilo a que nos
habituou nos The Books.
A primeira coisa em que se nota neste Zammuto
é o facto de a abordagem em forma de “manta de retalhos” sonora desvanecer
quase por completo, sendo substituída por uma sonoridade mais próxima da música
dita “convencional”. As canções têm estruturas mais definidas, a guitarra e os sintetizadores
assumem o protagonismo outrora dado aos samples
(que aqui são raros) e o baixo e a bateria substituem as “secções rítmicas” dos
The
Books compostas por brinquedos e bugigangas. É certo que o estilo continua
a estar bem situado na mistura da Folk
com os trejeitos da Electronica, mas
a verdade é que este LP aproxima-se
muito mais dos Animal Collective de Sung Tongs do que dos The
Books de The Way Out (2010).
Nos vocais, no entanto, o estilo patenteado dos The
Books volta ao de cima e Nick
Zammuto vê-se a percorrer de novo territórios bem familiares. As vozes, quando
não são produzidas por um aparelho de “text-to-speech”,
passam muitas vezes pelo vocoder ou
pelo auto-tune (que aqui distorce e
computadoriza, em vez de corrigir ou mascarar defeitos), dando ao disco um
aspecto muito robótico. Quanto às letras, quando inteligíveis, mostram uma
abordagem bastante abstracta e que aposta nos jogos de palavras e nas expressões
com múltiplos significados. Na produção, vemos que este LP nos traz uma estética que, apesar de
ser mais polida do que nas obras dos The Books, retém um certo pendor Lo-fi que dá ao disco uma grande
angularidade e rudeza.
Quanto aos defeitos deste Zammuto, confesso que não
tenho muitos argumentos para utilizar. No entanto, é certo que está presente
neste LP uma evidente inconsistência
que se vai sentindo de forma pontual, aliada à presença de algumas canções
menos cativantes, o que acaba por afectar a performance geral do registo.
Tirando isso, é seguro afirmar que este é um disco sólido e que mostra um lado
animado e colorido da música experimental.
Na hora de apontar peças favoritas, as minhas escolhas
recaem na “saltitona” Yay, na densa F U C-3PO, na pujante Zebra Butt, na esquizofrénica Weird Ceiling e na agridoce Full Fading, tudo peças que, a meu ver,
demonstram um grande valor. Por outro lado, as desinspiradas Idiom Wind, Too Late to Topologize e Harlequin
acabam por ser as canções de que menos gostei e que falharam em me agarrar.
Em suma, com este Zammuto o músico nova-iorquino Nick Zammuto faz um reboot ao seu percurso a solo e
mostra-nos uma nova abordagem e uma nova visão. Mantendo algum do legado dos The
Books, Zammuto consegue, ainda
assim, subverter tudo o que poderíamos esperar dele e apresentar-nos um disco
bastante experimental que, não recusando a música Pop, brinca com as suas barreiras e apresenta-se como desafiante. É
certo que tem alguns pontos menos bons, mas no geral, este Zammuto é uma aposta
ganha quando se está à procura de um álbum animado, excitante e inovador.
Nota Final: 8.2/10
João Morais