Formados em 2008 em Brooklyn, capital oficiosa da música
independente, os The Men são um dos nomes mais promissores da música alternativa
norte-americana, algo que se deverá ao facto de terem animado meio mundo com o
seu Alternative Rock com laivos de Punk, Noise e Post-Hardcore,
entre outros géneros. Depois da tímida estreia com Immaculada (LP de 2010 de tiragem inicial limitada a
500 exemplares) e do seu sucessor, Leave Home (2011), o grupo lançou, a
6 de Março, Open Your Heart, disco de que vamos falar hoje.
Como já tive oportunidade de referir em ocasiões
anteriores, uma das minhas (poucas) labels
de estimação é, sem dúvida, a Sacred
Bones Records, instituição Indie nova-iorquina
em que confio quase cegamente e que tem no seu “plantel” um rol de artistas e
bandas mui respeitável e interessante. Foi por isso mesmo que, ainda na (já)
longínqua Primavera deste ano, tive a felicidade de “descobrir” os The
Men e o seu terceiro álbum, uma das mais sólidas obras de 2012.
Para quem teve a oportunidade de ouvir em antemão Immaculada
e Leave
Home fica aqui o aviso: se estão à espera de encontrar em Open
Your Heart o mesmo Noise Rock
monolítico e pouco limado e não estão dispostos a conceder ao grupo espaço para
variações e mudanças, este disco não é para vocês. Ao terceiro álbum, os The
Men dão um passo de gigante na direcção duma sonoridade mais “aberta” e
experimental, que junta ao Alternative
Rock do quarteto sonoridades e inspirações vindas de géneros como o Surf Rock (no delay e reverb
esporadicamente usados), Country (nas
guitarras acústicas solarengas e campestres), Blues (em alguns versos de guitarra mais tradicionais e na parca
utilização da lap steel guitar) e até
Doo-Wop (nos raros coros femininos e
nos riffs mais gingões).
A estas alterações estilísticas junta-se também uma
mudança clara nas opções estéticas; apesar de os The Men ainda manterem
uma forte componente Noise na maioria
das suas composições e de estas ainda serem acima de tudo bastante sujas e
cruas, a verdade é que também se nota um esforço na produção para fazer com que
a sonoridade se torne mais acessível. Isso é notório na forma como o grupo alia
a abrasividade da distorção com melodias e estruturas mais pop, algo que faz lembrar de certa forma os trabalhos de grupos
como The
Replacements, Hüsker Dü ou Yo La Tengo.
Ao nível das vozes, também é notório um “apaziguamento”
dos ânimos dos vocalistas Mark Perro
e Nick Chiericozzi. Apesar de ainda
ser possível sentir algum angst na
entrega vocal dos dois artistas, este está muito mais sublimado quando
comparado com os gritos e vociferações presentes em muitas das faixas de Immaculada
e Leave
Home. Este refrear de emoções também é acompanhado no departamento
lírico, onde os temas acabam por ser muito mais intimistas, dóceis e despreocupados
do que nos discos anteriores.
No entanto, aquelas que são as maiores qualidades de Open
Your Heart acabam por ser, de certa forma, os seus maiores defeitos: no
“reverso da medalha” da heterogenia em larga escala está uma certa sensação de desalinho
e de falta de balanço; a opção por uma via mais experimental e variada acaba
por comportar também, infelizmente, uma certa perda de identidade pessoal; e o
grande recurso a elementos estilísticos inspirados num revivalismo da
sonoridade de outros grupos faz com que, em alguns momentos, os The
Men acabem por ser um pouco derivativos demais. No entanto, a verdade é
que estas imperfeições, no fim de contas, acabam por não retirar ao grupo o
mérito deste belo disco.
Quanto aos destaques individuais deste Open
Your Heart, sublinho a encorpada Oscillation,
a veloz Please Don’t Go Away, a
sincera Open Your Heart, a corrosiva Cube e a desarmante Ex-Dreams como os pontos mais positivos deste álbum. Pelo
contrário, já a desinspirada Presence
e a descabida Country Song aparecem,
a meu ver, como as únicas faixas remotamente dispensáveis de todo este LP.
Em resumo, com este Open Your Heart os norte-americanos The
Men demonstram, de forma quase paradoxal, uma maior maturidade na
experimentação aliada a uma maior despreocupação com a estrutura e a coesão do
disco. Filtrando inspirações de vários nomes já mencionados (e aos quais
podemos facilmente juntar outros como Buzzcocks, Sonic Youth ou The
Jesus Lizard), o grupo acaba por criar uma “manta de retalhos” bem
variada e difícil de categorizar. É certo que este registo também tem as suas
falhas e os seus momentos menos positivos, mas uma coisa é certa: Open
Your Heart é a prova segura de que os The Men fazem aquilo que
lhes dá na real gana. E nós estamos cá para os ouvir.
Nota Final: 8.6/10
João Morais
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