domingo, 16 de outubro de 2011

Here Before


Formados em 1975 na cidade norte-americana de New Jersey, os The Feelies são um dos grupos mais influentes do Alternative Rock americano dos anos 80, tendo inspirado o som de bandas como os R.E.M., Sebadoh ou Pavement. Depois de ter lançado o seu quarto disco de originais (Time For a Witness, de 1991), a banda entrou em hiato em 1992, tendo regressado ao activo em 2008. Em Abril deste ano voltaram à edição de álbuns, com Here Before, registo que será hoje analisado pelo MDC.

Para quem não conhece os The Feelies, a fórmula da sua música não é muito complicada; Alternative Rock com uma estética Lo-Fi típica dos anos 80, aliada a influências de grandes grupos e artistas norte-americanos como os The Byrds, The Velvet Underground ou Neil Young. Era assim no disco de estreia, o brilhante Crazy Rythms (1980), e felizmente continua a sê-lo neste Here Before, um LP que surpreende pela positiva, com uma qualidade que não se esperava de um grupo que já não fazia música junto há 20 anos. Um regresso muito bem conseguido.

Como já tive oportunidade de dizer, a sonoridade dos The Feelies assenta num Alternative Rock bastante empolgante e inventivo, que aposta numa abordagem simples e directa. Contudo, neste Here Before conseguimos denotar uma forte influência acústica no som da banda, inspirado em alguns dos trabalhos de Neil Young ou John Fogerty. Porém, desengane-se quem pensa que este é um trabalho “levezinho”. Apesar de haver uma atmosfera mais “calma” em certos pontos, os The Feelies continuam a mostrar um Alternative Rock muito forte e seguro, bem na linha do que já fizeram anteriormente.

Ao nível das vozes, Bill Million e Glenn Mercer continuam com o seu estilo muito próprio, algo que vejo com muito bons olhos. Nas letras, mais uma vez, a dupla Million/Mercer continua a dar cartas, trazendo uma lírica que só pode agradar aos fãs da banda, falando de temas como o reencontro e o recomeço, tal como o próprio título do disco, Here Before, sugere. Na produção, também entregue a Million e a Mercer, assistimos a uma estética que também segue o cânone traçado pelos The Feelies; um som abrasivo e certeiro, que me agradou bastante.

No entanto, apesar das grandes qualidades deste LP, Here Before não é um álbum perfeito, tendo a meu ver alguns defeitos que o impedem de ser melhor. Começo pelo facto de, na minha opinião,  algumas das canções não estarem tão trabalhadas quanto poderiam, o que me leva a notar alguma inconsistência no disco, que em alguns momentos “mata” o ímpeto do registo.

Outro defeito deste registo prende-se com uma certa falta de originalidade em relação àquilo que os The Feelies já desenvolveram anteriormente. Apesar de apreciar (e muito) a identidade sonora que a banda foi criando ao longo dos anos, a verdade é que Here Before não traz nada de novo, algo que facilmente os torna num alvo de críticas neste departamento. Mesmo que as falhas deste LP não sejam gritantes, não deixam de ser, a meu ver, pontos menos fortes e que se repercutem na apreciação final do álbum.

Entre as minhas canções favoritas deste disco, contam-se a sonhadora Change Your Mind, a acelerada When You Know, e a minha preferida de todas, a electrizante e fervilhante Time Is Right. Entre as de que menos gostei estão Again Today, Later On e Bluer Skies, peças que a meu ver pecam por não terem um “brilho” que polvilha as faixas mais cativantes deste álbum.

Resumindo, Here Before faz parecer que nem passaram 20 anos desde Time For a Witness, e mostra uns The Feelies ao mais alto nível. Apesar de este não ser o melhor trabalho do grupo até à data, este LP é algo de especial, pelo regresso aos discos por parte do quinteto e pela qualidade que é visível nestes 45 minutos de música. Resta esperar que este retorno não tenha apenas um filho único, e que da ninhada de Here Before saiam mais álbuns de qualidade.

Nota Final: 8,5/10

João Morais

sábado, 8 de outubro de 2011

Deus, Pátria e Família


Aqui no MDC, B Fachada é um artista que dispensa apresentações. Com três LP’s e seis EP’s lançados em nome próprio, Fachada já cimentou bem o seu nome na “cena”, sendo uma das figuras grandes da “Nova Música Portuguesa”. Hoje, em dia de aniversário do Música Dot Com, vamos falar do seu mais recente trabalho, Deus, Pátria e Família, EP distribuído gratuitamente na internet em Junho deste ano.

Não é a primeira vez que escrevo sobre um trabalho de Fachada, como alguns de vós devem saber. Por isso, não deve ser nenhuma surpresa a minha admiração pela obra deste verdadeiro “bardo suburbano”, que é, a meu ver, um dos melhores artistas nacionais da actualidade. Por isso, peço desculpa pela minha abordagem de fanboy, mas a verdade é que Deus, Pátria e Família conseguiu conquistar-me por completo.

Para quem se lembra, o disco anterior de B Fachada foi B Fachada É Pra Meninos, lançado em Dezembro do ano passado, e contava com um rol de canções falsamente infantis, que sob a “capa” de uma sonoridade Indie Pop mais acessível, escondia letras maduras e reflexivas. Em Deus, Pátria e Família, porém, Fachada mostra-nos apenas uma canção, de 20 minutos, que preenche todo o EP, com uma Pop mais adulta e agarrada ao piano, e com letras que fazem lembrar FMI (1982), de José Mário Branco, com letras bem amargas, directas e interventivas.

Dividida em quatro partes (duas das quais se repetem, formando uma espécie de ciclo), Deus, Pátria e Família vai alternando, ao longo dos seus 20 minutos, entre ritmos mais efusivos e mexidos, partes mais “sonhadoras” e contemplativas e fases mais lentas, baladeiras e intimistas, dando ao registo uma dinâmica que impede que a faixa se torne repetitiva, ou aborrecida.

Ao nível das letras, prato forte de B Fachada, assistimos, como já referi, a temas bastante directos e interventivos, que podem ser interpretados com um olhar mais “político”, especialmente quando se tem em conta a crise que o nosso país atravessa. Também no campo lírico se sente uma certa alternância, aqui entre um lado mais crítico e “bruto” contra Portugal, e uma faceta mais esperançosa e terna.

Ao nível da produção, cujos créditos são divididos entre Fachada e Eduardo Vinhas , ouve-se um tratamento mais cru do que em B Fachada É Pra Meninos, o que condiz com o sentimento geral do EP, algo que me agrada muito. Confesso que isto, aliado a tudo o que já referi anteriormente, faz com que este Deus, Pátria e Família seja, para mim, uma obra imaculada, e talvez o melhor EP que eu ouvi este ano.

Resumindo, Deus, Pátria e Família é um EP de excepção, com uma canção de 20 minutos que prima pela falta de falhas. Com letras duras e incisivas habilmente criadas, B Fachada envereda por um caminho diferente de tudo o que fez anteriormente, mostrando que este é um artista que se reinventa constantemente, atributo muito raro nos dias que correm. Agora, resta aos fãs de Fachada aguardar que o seu quarto longa-duração seja lançado, algo que deve acontecer ainda este ano. Até lá, ficamos com este belíssimo EP.

Nota Final: 5/5 (para os EP’s, o sistema de notas é diferente)

(Para fazerem o download deste EP, cliquem aqui e baixem a pasta)

João Morais

Parabéns, Música Dot Com!


Pois é, o Música Dot Com está de parabéns; foi há exactamente dois anos, no dia 8 de Outubro de 2009, que esta “aventura” começou, com uma review do quinto disco dos Muse, The Resistance (um texto bastante parco em qualidade, devo admiti-lo).

Desde esse dia, o MDC cresceu, melhorou, “entrou” no Facebook e no Twitter, ganhou seguidores e ultrapassou as 10.000 visitas (já vamos nas 14.000). Tudo isto para um blog que começou como um hobby, e se tornou em algo mais, graças à dedicação de amigos e desconhecidos, que lêem e apoiam este nosso “cantinho” na Internet.

A todos vocês, um grande “Obrigado”, e “Parabéns”, porque este aniversário também é vosso!

João Morais

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Take Care, Take Care, Take Care

Criados em 1999, os Explosions in the Sky são um dos nomes mais conhecidos do Post Rock instrumental, contando com uma carreira que incluí seis discos de originais. A mais recente obra do grupo, Take Care, Take Care, Take Care, saiu em Abril deste ano, sucedendo ao bem recebido All of a Sudden I Miss Everyone (2007), e será hoje analisado pelo Música Dot Com.

Confesso que fiquei fã dos Explosions in the Sky desde o momento em que escutei The Earth Is Not a Cold Dead Place (2003), uma autêntica obra-prima com um valor gigantesco para mim. E apesar de considerar que os EitS ainda não conseguiram ombrear com a qualidade desse majestoso disco de 2003, devo admitir que são uma banda que já conseguiu, desde então, criar álbuns muito belos, daí que tenha ficado com uma enorme expectativa por este Take Care, Take Care, Take Care, expectativa essa que felizmente não foi defraudada.

Quem conhece os Explosions in the Sky, sabe o que deve esperar em Take Care, Take Care, Take Care; Post Rock instrumental, com ritmos que vão intercalando entre calmas pacíficas, crescendos galopante e clímaxes poderosos e estonteantes. Nesse aspecto, os EitS seguem os cânones estabelecidos desde o primeiro disco da banda, How Strange, Innocence (2000).

No entanto, há diferenças entre este LP e o seu antecessor, All of a Sudden I Miss Everyone, que a meu ver elevam a fasquia de qualidade do grupo em comparação com o disco de 2007. A começar, a banda soa mais coesa, com os instrumentos a soarem ainda melhor. Depois, as canções estão ainda mais “urgentes”, conseguindo fazer passar um sentimento de expectativa que me agradou imenso.

Ao nível da produção, entregue a John Congleton, há também um corte com o som mais polido e cuidado de All of a Sudden I Miss Everyone. Em Take Care, Take Care, Take Care, as guitarras estão mais abrasivas e directas, a bateria mais agressiva, e o som do grupo é mais avassalador. Consigo dizer que, apesar de estar a anos-luz de The Earth Is Not a Cold Dead Place, este sexto álbum do grupo é dos melhores que os Explosions in the Sky já assinaram.

Contudo, este LP não está, a meu ver, perfeito. O principal defeito é, para mim, a falta de consistência que está presente em duas extensas canções do disco, Human Qualities e Be Comfortable, Creature, que para mim “morrem” a meio e falham em cativar-me totalmente. Apesar desta falha não fazer deste um mau álbum, a verdade é que tira-lhe o brilho, e impede-o de se afirmar como potencial “disco do ano”.

Das seis canções que compõem este disco, as de que gostei mais foram a hipnótica Let Me Back In, a dinâmica Last Known Surroundings, ou a minha preferida, a apressada e viciante Trembling Hands. As de que menos gostei, como já referi, são Human Qualities e Be Comfortable, Creature, que não sendo más faixas, não estão a meu ver ao nível das restantes peças.

Em suma, Take Care, Take Care, Take Care é um belíssimo disco, carregado de “mini-sinfonias” Post Rock, com a qualidade que só os Explosions in the Sky conseguem imprimir num LP. Apesar de não ser perfeito, este sexto registo do grupo é um claro avanço em relação ao seu antecessor, e deixou-me a pedir por mais deste quarteto norte-americano. Esperemos pelo próximo álbum.

Nota Final: 8,6/10

João Morais 

domingo, 2 de outubro de 2011

Watch the Throne



Os The Throne são um duo norte-americano de Hip-Hop formado por Kanye West e Jay-Z, dois artistas que dispensam apresentações. Com provas dadas nas suas carreiras, e com os seus mais recentes discos a terem sido bem recebidos pela crítica (Jay-Z com The Blueprint 3 e West com o maravilhoso My Beautiful Dark Twisted Fantasy), esta dupla decidiu juntar-se para um projecto conjunto, o disco Watch the Throne, que será hoje falado aqui.

Confesso-me fã, tanto de Kanye como de Jay-Z, que vêm ambos de LP’s muito bem sucedidos, tanto a nível comercial como crítico: My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) é, discutivelmente, um dos melhores álbuns do ano passado, e The Blueprint 3 (2009) é um claro regresso à “forma” de outros tempos de Jay-Z, depois de um período de discos menos bons. As expectativas para este Watch the Throne estavam, por isso, bem elevadas.

Contudo, quando ouvi este longa-duração, confesso que não pude deixar de me sentir um pouco desiludido. Apesar de oHip-Hop de “alta-costura” de ambos os artistas ainda estar lá, a verdade é que o disco, no geral, não me impressionou. Não posso dizer que é um mau álbum, mas verdade é que Watch the Throne, para mim, não passa da barreira do aceitável.

Ao nível da sonoridade, continuamos a ter aquele Hip-Hop fortemente produzido, com grande recurso a samples e batidas Dance Pop a que estes dois artistas já nos habituaram. Contudo, se na segunda metade do disco essa produção é de grande qualidade e consegue ser cativante, na primeira o som soa-me desinspirado e de nível bastante inferior, chegando a ser um horror de se ouvir em algumas canções.

Outro aspecto que notei neste Watch the Throne foi o uso do Auto-Tune, que está presente em muitos momentos do LP. E se bem que em canções como That’s My Bitch ou Murder to Excellence esse efeito fique bem, também é verdade que a meu ver “estraga” faixas com potencialidade, como a faixa de abertura No Church in the Wild ou Gotta Have It.

No que toca às letras, o mesmo problema que verifiquei na produção volta a surgir: se em algumas das canções estas são fortes e bem pensadas, noutras peças a escrita soa-me forçada, desinspirada e pouco sincera. Em grande parte do álbum,West e Jay-Z não passam de “gabarolas” que fazem questão de nos descrever a sua vida luxuosa, algo que chega a ser excessivo. Contudo, quando falam de temas como a paranóia que surge quando se está no topo (Why I Love You) ou de criminalidade violenta dentro da comunidade negra (Murder to Excellence), os rappers parecem honestos e sérios, algo que me agradou.

Entre as minhas faixas favoritas do disco encontram-se Why I Love You, que encerra muito bem o LP, That’s My Bitch, que consegue fazer passar um ambiente obscuro muito interessante, e aquela que é a meu ver a melhor de Watch the ThroneMurder to Excellence, onde as letras de cariz social e a sonoridade acelerada fundem-se criando uma canção excelente. Infelizmente, a qualidade destas (e doutras) boas canções vê-se diluída em peças a meu ver inferiores, como Lift OffOtis ou Who Gon Stop Me.

Concluindo, Watch the Throne não seria um mau disco de estreia caso Kanye West Jay-Z fossem completos desconhecidos. Contudo, o peso do legado que ambos carregam faz-se sentir, e este LP torna-se quase inadmissível para artistas deste nível. Se por acaso os The Throne continuarem, fico à espera de muito melhor, pois este álbum não me deixou convencido.

Nota Final: 5,7/10

João Morais



(Este texto foi originalmente publicado no Espalha Factos e pode ser visto aqui)