domingo, 5 de agosto de 2012

Django Django

Formados em 2009, na fria e inóspita Escócia, por David Maclean, Vincent Neff, Jimmy Dixon e Tommy Grace, os Django Django são um dos grupos que mais hype tem gerado na cena alternativa britânica nos últimos tempos. O disco de estreia do quarteto, o homónimo Django Django, viu a luz do dia a 30 de Janeiro, e é dele e da sua música psicadélica e viciante que vamos falar hoje.

Não é fácil “etiquetar” condignamente a música dos Django Django sem cair numa de duas tentações: engavetá-los em “géneros” vastos e quase vazios de significado (ver: Indie Rock ou Art Rock), ou enfiá-los num subgénero tão infinitamente pequeno, estanque e simplista que acaba por não fazer jus ao melting pot de influências que este disco demonstra. Mas, dilemas à parte, a verdade é que o Art Rock (sim, escolhi a primeira opção por ser um preguiçoso) do grupo é tão rico e tão delicioso que Django Django é capaz de ser um dos meus discos favoritos de 2012.

Imaginem o Lawrence da Arábia em plena trip de cogumelos a jogar, no meio do deserto, um jogo de arcada. Se conseguirem visualizar mentalmente esta caricata e tresloucada imagem, talvez consigam perceber qual foi a experiência que retirei deste LP. Experimental e exótico a rodos, Django Django esforça-se por misturar uma Indie Pop psicadélica e ocidental com tons, toques e cheiros africanos e Worldbeat, numa combinação capaz de nos deixar de olhos arregalados.

A todo exotismo e tropicalismo junta-se, também, uma espessa camada de efeitos e sintetizadores que, quando misturados com as guitarras (eléctricas e acústicas), conferem ao álbum uma aura muito “retro-futurista”. Para além disso, temos também em Django Django um toque de Surf Rock vindo do tom borbulhante e lânguido do reverb, e que ajuda a que a mistura criada pelo quarteto se vá tornando cada vez mais sórdida, invulgar e única à medida que o disco avança.

Na produção, a cargo do baterista David Maclean, assistimos a uma estética que, apesar de nítida, mostra sempre um bocadinho de “grão” e que demonstra o porquê dos Django Django receberem muitas vezes o epíteto de “bedroom band”. No departamento lírico encontramos, tal como na sonoridade, um psicadelismo bem vincado, onde passagens sobre encontros imediatos de 3º grau, sonhos, praias e os céus do Cairo se juntam a tiradas completamente abstractas. Ao nível da voz, Vincent Neff traz-nos um registo suave e sincero que, juntamente com algumas harmonias vocais à lá The Beach Boys, “embrulha” de uma forma sublime este disco.

No que toca a defeitos, não posso dizer que Django Django me dê muitas “munições” para atirar. É certo que alguns pontos menos bons fazem com que tenha sentido, esporadicamente, alguma inconsistência, e que na segunda metade do disco se notam algumas canções menos inspiradas e mais insípidas; no entanto, a verdade é que esta é uma estreia fulgurante por parte dos Django Django, devido à criatividade e solidez demonstradas neste LP.

Quanto a peças individuais, devo destacar pela positiva a fervilhante Hail Bop, a inquietante Default, a contagiante WOR, a hipnótica Storm ou a doce Silver Rays. Quanto às faixas que, a meu ver, não se encaixam tão bem neste disco, assinalo as desinspiradas Hand of Man, Life’s a Beach e Skies Over Cairo. No entanto, não se pode dizer que estas pequenas “nódoas” afectem significativamente a performance geral de Django Django.

Em suma, Django Django é uma belíssima obra que, apesar das falhas, se revela num magnífico tratado sobre como criar experimentalismos inovadores a partir de referências completamente distintas e impensáveis. Essa combinação de arrojo com uma sensibilidade Pop bastante apurada faz com que o apaixonante Art Rock dos Django Django faça lembrar, vagamente, uns distantes Talking Heads. Fico, por isso, à espera de mais vindo desta banda, mas por agora contento-me em ouvir de novo esta maravilhosa lufada de ar fresco.

Nota Final: 8.9/10

João Morais 

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