Formados em 2009, na fria e inóspita Escócia, por David Maclean, Vincent Neff, Jimmy Dixon
e Tommy Grace, os Django
Django são um dos grupos que mais hype
tem gerado na cena alternativa britânica nos últimos tempos. O disco de estreia do quarteto, o homónimo Django
Django, viu a luz do dia a 30 de Janeiro, e é dele e da sua música
psicadélica e viciante que vamos falar hoje.
Não é fácil “etiquetar” condignamente a música dos Django
Django sem cair numa de duas tentações: engavetá-los em “géneros”
vastos e quase vazios de significado (ver: Indie
Rock ou Art Rock), ou enfiá-los
num subgénero tão infinitamente pequeno, estanque e simplista que acaba por não
fazer jus ao melting pot de
influências que este disco demonstra. Mas, dilemas à parte, a verdade é que o Art Rock (sim, escolhi a primeira opção
por ser um preguiçoso) do grupo é tão rico e tão delicioso que Django
Django é capaz de ser um dos meus discos favoritos de 2012.
Imaginem o Lawrence da Arábia em plena trip de cogumelos a jogar, no meio do
deserto, um jogo de arcada. Se conseguirem visualizar mentalmente esta caricata
e tresloucada imagem, talvez consigam perceber qual foi a experiência que
retirei deste LP. Experimental e
exótico a rodos, Django Django esforça-se por misturar uma Indie Pop psicadélica e ocidental com tons, toques e cheiros africanos e Worldbeat, numa combinação capaz de nos deixar de
olhos arregalados.
A todo exotismo e tropicalismo junta-se, também, uma
espessa camada de efeitos e sintetizadores que, quando misturados com as guitarras
(eléctricas e acústicas), conferem ao álbum uma aura muito “retro-futurista”.
Para além disso, temos também em Django Django um toque de Surf Rock vindo do tom borbulhante e
lânguido do reverb, e que ajuda a que
a mistura criada pelo quarteto se vá tornando cada vez mais sórdida, invulgar e
única à medida que o disco avança.
Na produção, a cargo do baterista David Maclean, assistimos a uma estética que, apesar de nítida,
mostra sempre um bocadinho de “grão” e que demonstra o porquê dos Django
Django receberem muitas vezes o epíteto de “bedroom band”. No departamento lírico encontramos, tal como na
sonoridade, um psicadelismo bem vincado, onde passagens sobre encontros
imediatos de 3º grau, sonhos, praias e os céus do Cairo se juntam a tiradas
completamente abstractas. Ao nível da voz, Vincent
Neff traz-nos um registo suave e sincero que, juntamente com algumas
harmonias vocais à lá The Beach Boys, “embrulha” de uma
forma sublime este disco.
No que toca a defeitos, não posso dizer que Django
Django me dê muitas “munições” para atirar. É certo que alguns pontos
menos bons fazem com que tenha sentido, esporadicamente, alguma inconsistência,
e que na segunda metade do disco se notam algumas canções menos inspiradas e
mais insípidas; no entanto, a verdade é que esta é uma estreia fulgurante por
parte dos Django Django, devido à criatividade e solidez demonstradas neste LP.
Quanto a peças individuais, devo destacar pela positiva a
fervilhante Hail Bop, a inquietante Default, a contagiante WOR, a hipnótica Storm ou a doce Silver Rays.
Quanto às faixas que, a meu ver, não se encaixam tão bem neste disco, assinalo
as desinspiradas Hand of Man, Life’s a Beach e Skies Over Cairo. No entanto, não se pode dizer que estas pequenas “nódoas”
afectem significativamente a performance
geral de Django Django.
Em suma, Django Django é uma belíssima obra
que, apesar das falhas, se revela num magnífico tratado sobre como criar
experimentalismos inovadores a partir de referências completamente distintas e
impensáveis. Essa combinação de arrojo com uma sensibilidade Pop bastante apurada faz com que o
apaixonante Art Rock dos Django
Django faça lembrar, vagamente, uns distantes Talking Heads. Fico, por
isso, à espera de mais vindo desta banda, mas por agora contento-me em ouvir de
novo esta maravilhosa lufada de ar fresco.
Nota Final: 8.9/10
João Morais
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