quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Entrevista: Linda Martini

Os Linda Martini são um quarteto lisboeta composto por André Henriques, Hélio Morais, Pedro Geraldes e Cláudia Guerreiro. Formados em 2003, produziram o seu primeiro registo em 2005, o EP homónimo Linda Martini, onde nasceram faixas como Este Mar e a célebre Amor Combate.

Desde muito cedo cultivam uma vasta legião de fãs, sempre pronta a prestar-lhes culto, e que só aumentou com a estreia nos LP’s, em 2006, com o sublime Olhos de Mongol. Sempre com uma sonoridade própria, com uma entrega imensa e com os lirismos muito bem conseguidos, foram acumulando notoriedade e  popularidade junto do público através dos lançamentos dos EP’s Marsupial e Intervalo.

Se eram já uma das bandas mais adoradas no panorama alternativo português, Casa Ocupada, lançado em 2010, catapultou-os ainda mais para o topo, quer em termos de fãs quer em termos qualitativos. De promessa, rapidamente se consolidaram como uma das melhores bandas portuguesas de todos os tempos. São os Linda Martini, e o Música Dot Com falou com eles:

Os Linda Martini surgiram depois dos elementos da banda terem andado na estrada com projectos musicais que enveredavam uma vertente mais marcada pelo hardcore e pelo punk. De que modo julgam estarem presentes estes géneros musicais na vossa sonoridade?
Linda Martini: Na maneira como fazemos e encaramos a música, essencialmente. Temos sempre a última palavra nas decisões que afectam a carreira da banda. Não temos um manager omnipotente. Estamos sempre por dentro de todas as decisões, sejam elas de edição, promoção, merchandising, etc. E no gostarmos de tocar alto e sujo, claro.

Na vossa já longa carreira [contam com quase 10 anos de existência] sucederam-se já algumas peripécias relevantes que sentenciaram os Linda Martini tal qual como são hoje. Uma dessas situações foi a saída do Sérgio, membro fundador do grupo, e as razões para esse afastamento nunca foram muito explícitas. Que circunstâncias ditaram a sua saída?
LM: Nenhuma circunstância especial que mereça grandes comentários. A vida é feita de amores e desamores, de vontades simultâneas e de vontades desencontradas. O Sérgio seguiu um caminho, a dada altura, e os restantes membros seguiram outro. Simples, sem grandes dramas. Mantemos contacto.

A vossa música prima pela sua originalidade e criatividade. Notam-se suaves aromas de bandas como Sonic Youth, At The Drive-in, ou até mesmo, e numa dose menos carregada, Nirvana, mas o que é facto é que vocês conseguem fazer do vosso som, um som único. Se vos pedissem para caracterizar o vosso género musical, como o classificariam?
LM: Rock!

Contam, até agora, com uma discografia constituída por três EP’s (Linda Martini, Marsupial e Intervalo) e com dois LP’s (Olhos de Mongol e Casa Ocupada). Nestes 9 anos de Linda Martini qual foi o registo que mais vos deu prazer em trabalhar, e porquê?
LM: Todos eles foram especiais à sua maneira. O Linda Martini foi o início e por isso tem logo uma carga muito forte. O Olhos de Mongol foi um disco em que conseguimos explorar várias coisas que queriamos experimentar. O Marsupial foi um disco mais tranquilo, em que deixámos as canções respirarem um pouco mais e foi um disco em que compusemos bastante já no estúdio. O Intervalo foi o disco em que decidimos convidar aqueles que nos acompanham nos concertos, para fazerem parte desse mesmo registo e foi igualmente o disco que nos fez perceber que gostamos de gravar em registo directo. O Casa Ocupada foi o disco mais directo e intenso que gravámos e foi também em registo directo, pelo que nos fez sentir uma banda mais coesa, logo na gravação. Quando o gravámos, já sabiamos tocar as músicas bem.
São cada vez mais idolatrados no panorama musical português. São constantemente invadidos pelo carinho do público, o que é notório nos vossos concertos ao vivo. Foi neste contexto que decidiram elaborar um registo mais «ao vivo» como Casa Ocupada, criando um ambiente propício a estabelecer-se uma simbiose perfeita entre a banda e o público com momentos como, por exemplo, a faixa Cem Metros Sereia a servir de mote?
LM: Não pensámos muito no Casa Ocupada. Na verdade, as primeiras quatro músicas que fizemos foram a Belarmino Vs., a Ameaça menor, a Queluz menos luz e a S de Jéssica. Portanto poderíamos ter ido num registo mais instrumental ou mais rock, nessa fase. Intuitivamente, acabámos por ir no sentido mais rock do material que tínhamos na altura.

Existe muita gente que vos apelida de “Os Sonic Youth Portugueses”. A faixa Juventude Sónica, de Casa Ocupada, é, de algum modo, uma crítica a essa opinião? Com que atitude encaram essa comparação?
LM: Sempre achámos um pouco redutora a comparação. Quando fizemos a Juventude Sónica, foi a primeira vez que pensámos: “Hey! Isto lembra um pouco Sonic Youth”. E por isso decidimos facilitar o trabalho a quem está sempre à procura de algo para criticar.

Quem é o principal responsável pelas letras das músicas dos Linda Martini?
LM: O André.

As vossas letras apresentam, quase todas elas, um lirismo simples e uma estrutura reduzida. Faixas (de sucesso estrondoso) como Dá-me a tua melhor faca ou Elevador são exemplos máximos disso mesmo. É na premissa de dar alento ao vosso poder instrumental que optam por composições líricas mais pequenas ou existe uma segunda intenção como, por exemplo, criar, através dessas mesmas letras, uma atitude introspectiva no ouvinte?
LM: Há sobretudo uma preocupação de não escrever só por escrever. Se a música pede só um verso, é isso que lhe damos. Se uma frase sozinha fala pela música toda, não vamos estar a inventar mais e com isso retirar força a essa mesma frase. É algo também muito intuitivo.

Qual o concerto que, até hoje, mais tiveram prazer em dar e qual o vosso palco de sonho?
LM: É um pouco complicado escolher um. Já fomos muito felizes em Paredes de Coura (das duas vezes), no Optimus Alive de 2009, no Ritz (este ano), nas Noites Ritual (2011), na ZDB (2011), etc. Palco de sonho, acho que não temos. Até porque às vezes, um palco de sonho pode-se revelar num pesadelo de concerto.

Actuaram, há pouquíssimo tempo, no San Miguel Primavera Sound, em Barcelona. Como foi tocar ao lado de bandas tão icónicas como, por exemplo, Mudhoney ou The Cure? E qual foi a reacção de nuestros hermanos à vossa performance? E quanto à actuação de Paus, alguma coisa a dizer?
LM: Não chegámos a estar sequer em contacto com essas bandas, ainda que tenhamos tocado no mesmo palco que The xx e afins. Somente nos cruzámos com os Friends. Quanto à reacção, foi a esperada; as pessoas estavam-nos a conhecer e ainda que não interagissem durante as músicas como estamos habituados em Portugal, entre elas eram bastante carinhosos e batiam bastantes palmas. PAUS também foi um bom concerto e divertiram-se todos bastante.

Quando pretendem matar a fome dos fãs com um lançamento de mais algum álbum ou de algum EP? Estão previstos, para breve, novos projectos?
LM: Estamos neste momento a fazer o terceiro longa duração. A ideia é gravar lá para o fim do ano e editar em 2013, para comemorar 10 anos de Linda Martini. Mas é acompanhar o nosso Facebook, para se saber de como as coisas estão a correr.

Entrevista realizada por mail por Emanuel Graça
Fotos da autoria de Paulo Segadães, gentilmente cedidas pela banda.

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