Foi das cinzas dos Spacemen 3, um dos grupos mais
inovadores e originais da música psicadélica britânica, que nasceram em 1990 os
Spiritualized,
projecto fruto da mente conturbada de Jason
Pierce (aka J. Spaceman). Um dos nomes mais aclamados do Space Rock e do Psychedelic
Rock dos anos 90 e 00, os Spiritualized contam já com sete
discos de estúdio. O mais recente, Sweet Heart Sweet Light, viu a luz
do dia a 16 de Abril, e é sobre ele que vamos falar hoje.
Se não conhecem os Spiritualized, façam-me um favor:
parem de ler esta review e arranjem
maneira de ouvir Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space, magnum opus dos Spiritualized e um dos
melhores discos da colheita de 1997. Após essa experiência, é muito provável
que acabem por comungar da admiração que sinto pelos Spiritualized de Jason Pierce e compreendam o porquê de todos
os discos do grupo serem esperados com grande entusiasmo pelos fãs. Sweet
Heart Sweet Light não foi excepção à regra, e foi sem dúvida um dos
álbuns mais antecipados para 2012. E a verdade é que, depois de o ter ouvido,
não pude deixar de me sentir satisfeito. Apesar de não conseguir repetir a
proeza do LP de 1997, à semelhança de
todos os registos que os Spiritualized têm lançado, o sétimo
trabalho do grupo de J. Spaceman cumpre
as expectativas e apresenta-se como um grande disco.
Assumidamente mais Pop
do que os seus antecessores, Sweet Heart Sweet Light é um disco
que mostra um lado mais acessível do Psychedelic
Rock dos Spiritualized, tal como foi admitido por J. Spaceman. No entanto, e apesar de ser notório que este álbum
“entra” de forma mais rápida e escorreita nos ouvidos, não se pode dizer que
este sétimo registo do grupo é um álbum “fácil” de se ouvir. Pelo contrário, as
cacofonias sinfónicas, os ruídos à lá
Noise, as distorções abrasivas e os efeitos psicadélicos continuam bem
patentes na sonoridade dos Spiritualized e mantêm-se no papel
de “contraponto” dos arranjos orquestrais grandiosos, dos ritmos épico, das
partes mais Blues-y e dos coros Gospel; simplesmente existe aqui uma certa sensação de “leveza”
nunca antes vista na obra dos Spiritualized.
Essa “leveza” transparece claramente para as letras de Jason Pierce, que assina em Sweet
Heart Sweet Light algumas das suas criações mais upbeat e solarengas da sua carreira. Apesar de continuar a versar
de forma ligeiramente depressiva sobre os mesmos temas (em poucas palavras:
Deus, drogas, dor, morte, vida e amor), a verdade é que também existem pequenos
rasgos de esperança e vitalidade na dialéctica de J. Spaceman, algo que nunca esperava ver e que honestamente me
agradou bastante.
Ao nível da produção, é de notar um ligeiro aumento na
clareza e aprumo do som, e que se traduz numa estética que vai jogando muito
bem entre o “grão” das malhas mais Rock
e o brilho imaculado das canções mais opulentas e épicas. Quanto à voz de Pierce, esta mantém-se no seu registo
bem fino e grave, mas aparece de forma bem mais límpida e definida do que o
costume. No geral, Sweet Heart Sweet Light traz alguma frescura, mas mantém bem
patente a identidade muito própria da sonoridade dos Spiritualized.
No entanto, nem tudo é agradável nesta obra, e existem
alguns defeitos que acabam por “manchar” o bom trabalho desenvolvido por J. Spaceman e companhia. A começar,
está uma certa inconsistência que se vai sentido em certos momentos do álbum e
que por vezes chega a retirar-lhe o ímpeto. Outro problema é o facto deste Sweet
Heart Sweet Light acabar por depender de certos “mecanismos” que se
tornaram clichés da música dos Spiritualized:
a orquestra grandiosa, a relação muito sui
generis com deus e as drogas e o psicadelismo pseudo-medicinal. Apesar de
apreciar, e muito, a sonoridade do grupo, a verdade é que já se começa a sentir
falta duma injecção radical de originalidade.
Quanto às melhores canções deste disco, a multifacetada Hey Jane, a agridoce Get What You Deserve, a cativante Get What You Deserve Now, a tocante Freedom ou a hipnotizante I Am What I Am são, a meu ver, pontos
totalmente obrigatórios. Quanto às canções que menos me cativaram, Little Girl, Too Late e Life is a Problem
são peças que na minha opinião revelam uma qualidade inferior à do potencial de
J. Spaceman e que demonstram bem o
problema da inconsistência acima referido.
Resumindo, ao sétimo álbum os Spiritualized continuam a
apostar na receita que tão bem conhecem de Psychedelic
Rock espacial com infusões de Gospel e
Blues, e isso traduz-se num Sweet
Heart Sweet Light que, apesar dos ligeiros twists, irá agradar os fãs mais “velha guarda” da banda. É certo
que tem os seus maus momentos e que demonstra que a fórmula utilizada por J. Spaceman está a começar a ficar um
bocado gasta, batida e sem surpresas. Porém, a verdade é que, no geral, Sweet
Heart Sweet Light é um disco muito bom e isso é o que mais conta no
final.
Nota Final: 8.0/10
João Morais
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