segunda-feira, 20 de junho de 2011

Belong

Em 2009 os The Pains of Being Pure at Heart “explodiram” na cena musical nova-iorquina, com o seu disco de estreia, o homónimo “The Pains of Being Pure at Heart”, álbum aclamado pela crítica, pela sua sonoridade reminiscente da Dream Pop e Shoegaze de bandas como os My Bloody Valentine ou os The Jesus and Mary Chain, misturada com uma atitude mais Alternative Rock digna de uns Sonic Youth ou, quiçá, de uns idos The Smashing Pumpkins. Passados dois anos, este quinteto lança o sucessor, “Belong”, produzido por Flood (pseudónimo de Mark Ellis), reconhecido pelo seu trabalho com artistas como os U2, Sigur Rós, Nine Inch Nails, entre muitos outros. Hoje, o MDC traz-vos a review deste segundo LP do grupo. Será que consegue continuar o bom trabalho iniciado em 2009? Veremos.

O segundo álbum, já se sabe, não é nada fácil de fazer, especialmente quando o primeiro tem a aclamação que “The Pains of Being Pure at Heart” teve. Ter um primeiro disco estrondoso cria sempre um gigantesco hype (palavra muito em voga aqui no blog, pelo que estou a ver), e é muito difícil cumprir tamanhas expectativas. Confesso que também partilhava a excitação que se sentia antes de sair este “Belong”. Não ouvi o disco de estreia logo quando saiu, por distracção, mas quando pude escutar, fiquei fã da banda, pela sonoridade que remete para um Alternative Rock dos anos 80/90 que tanto apreciei. E por isso, quando recebi a notícia de que estava para sair um novo disco do quinteto, o fã que há em mim ficou logo entusiasmado. E foi com alegria que constatei que, a meu ver, a banda de Kip Berman esteve à altura do hype que rodeou o LP, assinando aqui uma brilhante obra.

Quem ouviu o homónimo de 2009 sabe que a sonoridade do disco era rica em efeitos, distorção e “barulho” típico do Shoegaze, misturados com uma doce delicadeza vocal e lírica, combinação que remetia para imediatamente para “Loveless” (segundo disco dos My Bloody Valentine, de 1991). E apesar de esses elementos ainda estarem muito presentes neste “Belong”, podemos constatar que a produção está mais polida e cuidada, havendo menos espaço para loucuras de distorção. Apesar de eu ser fã de música “barulhenta” e “suja”, cheia de distorção, e bem abrasiva para os ouvidos, a verdade é que a produção de Flood consegue chegar a um ponto de equilíbrio que torna o disco acessível a uma maior audiência, sem perder a sua “pureza” Shoegaze. Isso é muito evidente em canções como “Heart in Your Heartbreak” ou “My Terrible Friend”, canções certamente mais Pop, mas com um toque de crueza reminiscente do primeiro disco que se recusa a desaparecer. Destaco, contudo, “The Body”, que é uma faixa mais electrónica (devido ao uso de sintetizadores), e que se move para uma zona mais New Wave, sendo a que salta mais ao ouvido pela diferença (não muito grande, mas notória). No entanto, não existe um corte directo com a sonoridade de “The Pains of Being Pure at Heart”, pois canções como “Heaven’s Gonna Happen Now” ou “Girl of 1,000 Dreams” conseguem ser tão ou mais “barulhentas” do que as que estão presentes no homónimo. Aprecio o facto de a banda ter conseguido reter o essencial da sua sonoridade, e que apesar de apresentar algumas diferenças, consegue soar familiar aos fãs. Nas letras, continuamos com belíssimas peças acerca de amor juvenil e pueril, desilusões amorosas e teen angst, mas nunca atingindo os níveis de miserabilidade ou de lamechice que desagradam. O som e as letras combinam para criar um disco primaveril e animado, e que agrada muito aos ouvidos.

Entre as músicas de que gostei mais contam-se “Belong” (a faixa-título que abre o disco, de forma bem pujante, repleta de distorção), “The Body” (aquele ”toque” aos New Order soa incrivelmente bem) ou a minha favorita, “Even In Dreams” (um brilhante faixa, com um refrão do outro mundo e com uma estrutura que nos conduz a um clímax musical tremendo; uma das melhores canções de 2011 até agora). No lado negativo, apenas “Anne With an E” me soou mais mediana, num álbum em que todas as outras canções não são nada menos do que esplêndidas.

Em tom de conclusão, “Belong” é um disco brilhante, com poucas falhas e que prevejo que consiga agradar tanto a fãs antigos como a novos ouvintes dos The Pains of Being Pure at Heart. A forma como consegue conciliar uma produção mais doce com o som mais antigo e abrasivo faz deste disco um marco na vida da banda, que será difícil de ultrapassa. Para mim, é o melhor álbum de 2011 até agora, e irá sem dúvida figurar nos tops de final de ano de muito boa gente (e muito provavelmente no do MDC). Um disco de excepção, sem dúvida. Agora desculpem-me, que vou ouvi-lo mais uma vez.

Nota Final: 9,3/10

João Morais

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