Boa noite a todos. Hoje, o MDC traz-vos a review de mais um álbum. Desta vez, temos o sexto disco de originais dos escoceses Mogwai, “Hardcore Will Never Die, But You Will”, que chegou às lojas a 14 de Fevereiro deste ano (eu sei, estou um pouco atrasado nas reviews, mas isto aos poucos entra nos eixos). Qual será o veredicto deste registo? Vejamos.
Para quem não sabe, os Mogwai são um grupo escocês de Post-Rock, e que ao longo dos seus 16 anos de carreira conseguiu atingir uma posição de proeminência nesse estilo de música. Num género normalmente associado à melancolia e à tristeza, os Mogwai conseguiram introduzir alguma boa-disposição e ironia (vejam-se títulos de canções como “I’m Jim Morrison, I’m Dead” ou “Moses? I Amn’t”). Outra das características peculiares dos Mogwai dentro deste estilo é a forma como, de vez em quando, colocam vocais nas suas canções, algo pouco usual no Post-Rock, em que a tendência é a de peças instrumentais. Todas estas peculiaridades fizeram com que eu me interessasse por esta banda, devendo confessar que sou fã até certo ponto, conhecendo o grosso da sua obra. Isso provou ser útil para esta review, pois olhando para o antecessor deste LP, o disco de 2008 “The Hawk Is Howling”, consegue-se ver que as diferenças são notórias, tanto ao nível da postura com que o álbum é encarado, como ao da sonoridade.
Ao nível da postura, “The Hawk Is Howling” foi um álbum atípico na discografia da banda de Stuart Braithwaite, pela sua completa falta de vocais. “Hardcore Will Never Die” retoma essa “tradição” da banda, ao colocar vocais em algumas das peças (nomeadamente ”Mexican Grand Prix” e “George Square Thatcher Death Party”). Ao nível da sonoridade, as diferenças são ainda maiores. Se “The Hawk Is Howling” era rico em canções mais contemplativas, conduzidas pelo piano e que pintavam uma “paisagem” mais calma, “Hardcore Will Never Die (...)” leva-nos a uns Mogwai mais simples, abrasivos e directos. Apesar de ainda existirem algumas canções mais calmas (“Letters to the Metro” ou “Too Raging to Cheers”), a verdade é que neste LP encontramos muito mais potência na sonoridade do quinteto oriundo da Escócia. Confesso, esta mudança agrada-me bastante. Não querendo desdenhar de “The Hawk Is Howling”, a verdade é que este som mais cru e puro dos Mogwai soa melhor aos meus ouvidos. Também a vontade de mudar a cada disco, tentando manter a fórmula fresca, é algo que valorizo muito, e neste “Hardcore Will Never Die (...)” isso é muito bem conseguido.
Os aspectos mais positivos deste disco prendem-se mesmo a essa “crueza” no som, e da forte utilização de uma dinâmica Quiet-Loud-Quiet (popularizada pelos grandes Pixies, banda citada pelos Mogwai como uma das grandes influências), que faz com canções que comecem vagarosas rapidamente se tornem em poderosíssimas peças, com uma rapidez e energia inquietantes. Ao nível técnico, a banda também soa melhor que nunca, com especial destaque para a bateria de Martin Bulloch, que soa sempre forte e certeira por todo o registo.
Como pontos altos deste disco, devo destacar as canções “How to Be a Werewolf” (com um build-up fantástico, que leva a um clímax sonoro intenso), “San Pedro” (curta e certeira, consegue mostrar alternâncias no ritmo sem nunca perder o feeling de urgência que nos faz ficar à beira da cadeira) ou a minha favorita, “Rano Pano” (5 minutos e 17 segundos de pura beleza auditiva, com um riff “sujo” que me deu voltas à cabeça, e com subtis adições e subtracções no esquema sonoro, que me fizeram repetir esta faixa vezes e vezes sem conta), se bem que, no geral, o disco soa muito bem.
Contudo, também devo destacar os defeitos do disco. O principal problema, para mim, são os vocais, que achei bastante imperceptíveis (talvez seja de mim, ou talvez os efeitos pelos quais estes passaram realmente os tornaram indecifráveis em certos momentos). No que toca a canções, há duas que realmente podiam ter sido mais bem trabalhadas: “Death Rays” e “Letters to the Metro”, que achei bastante aborrecidas, e a meu ver desnecessárias neste disco. Contudo, são apenas pequenas falhas num disco que prima pela sua grande qualidade.
Resumindo, “Hardcore Will Never Die, But You Will” mostra uns Mogwai em topo de forma, e que não desejam repetir-se uma e outra vez. Conseguindo despir-se de tudo o que é acessório, os Mogwai fizeram um disco mais simples e directo, que chega aonde é preciso sem grandes artifícios. “Hardcore Will Never Die, But You Will” é, assim, um disco que recomendo vivamente, tanto a fãs como a quem não conhece minimamente a banda. Coloca-se, no entanto, a questão: o que virá a seguir?
Nota Final: 8,9/10
João Morais
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