domingo, 26 de dezembro de 2010

B Fachada É Pra Meninos

Boa noite, meus caros. Espero que o Natal tenha sido proveitoso para todos vocês. Da minha parte não me posso queixar. Hoje, voltamos ao formato regular de uma só review, porque quero avaliar aquela que foi uma das minhas prendas de Natal, e um dos melhores álbuns deste ano: “B Fachada É Pra Meninos”, do cantautor português, B Fachada. Creio que este disco merece uma análise mais aprofundada, por isso, venho neste Domingo trazê-la perante vós. O mote está lançado, por isso, comecemos.

Bem, para começar, devo relembrar aquilo que disse quando fiz a crítica do EP de Verão do senhor Bernardo, “Há Festa Na Moradia”: “B Fachada não é artista de digestão fácil”. É, por isso, um artista de extremos: Ou se gosta, ou se detesta. E eu devo confessar que gosto dele a valer. Isso pode comprometer um pouco a imparcialidade com que oiço os seus discos, mas é algo que eu não consigo evitar. Por isso, não é de estranhar que eu tenha adorado este “...É Pra Meninos”. É fresco, é único, é original, é reconfortante e é inquietante. Creio que são poucos os artistas que conseguem concentrar tantas sensações numa rodela de plástico. E Fachada é um desses selectos mestres da música.

Falando de um modo geral, B consegue, com as suas letras, criar personagens com traços autobiográficos, mas que estão longe de ser o próprio Bernardo. Duma forma quase “Pessoânica” (eu sei que pode soar a exagero para alguns), Fachada cria alter-egos que vivem plenamente nas suas canções. E “...É Pra Meninos” não foge a essa regra: as suas músicas estão repletas de personagens que apresentam todas pequenos laivos da personalidade do autor, e em que o “narrador” (B Fachada, quase como se estivesse a contar histórias, interpreta este papel em inúmeros momentos) várias vezes muda para a primeira pessoa. É difícil apontar todos os recursos estilísticos que B usa, e duvido que o próprio autor saiba todos os que utiliza nas suas canções, mas é preciso alguém com um raro jeito para a coisa para fazer o que este senhor faz com o português.

No que toca ao som, Bernardo volta à produção cuidada do antecessor auto-intitulado “B Fachada” (digam o que disserem, “Há Festa Na Moradia” não é um álbum, mas sim um EP), mostrando que B consegue interpretar dois papéis, na perfeição: o Indie Folker despreocupado dos EP’s e o profissional dedicado e perfeccionista dos Longa-Duração. Falando do estilo em que as músicas nos são apresentadas, nota-se alguma ruptura: temos menos Folque-lore com influências das músicas tradicionais portuguesas, e mais Indie Pop de fino recorte. Com um som polido, mas aproveitando uma larga panóplia de sons, B Fachada cria um álbum que, não negando tudo o que vem de trás, avança para um território novo. Este tipo de coragem mostra a vontade de B se reinventar a cada disco, e desta vez utiliza instrumentos que nos dão a sensação de ouvirmos um disco mais “infantil”, mas nunca “infantilóide”. Esta forma de mostrar as canções, aliado às letras, consegue apresentar belas dissertações sobre a vida, duma forma simplista, mas que consegue ser brilhante.

Quanto às músicas em si, devo dizer que fiquei rendido a quase todo o álbum. Com músicas como “Tó-Zé” (que abre o álbum de forma primorosa), “Dia de Natal”, “Questões de Moral”, “Conselhos de Avô” (um avô que tenta, claramente, desencaminhar o neto), “Primeiro Dia” e “Casa do Manel”, este disco não podia deixar de ser uma obra de qualidade. No entanto, note-se que este “B Fachada É Pra Meninos” tem pontos fracos, de seus títulos “Mochila do Carteiro” e “Agosto”. Não querendo dizer que estas músicas sejam propriamente más, quando comparadas com o resto do álbum, são claramente as menos entusiasmantes e com menor qualidade. Contudo, “Barrigão” retoma o bom ritmo (com um tom delicado e muito agradável) e “Futuro” fecha o disco em beleza, com a personagem a questionar-se sobre o que aí vem duma forma tão inocente e pura que nos deixa arrebatados e a chorar por mais.

Em suma, “B Fachada É Pra Meninos” é capaz de ser o melhor disco português do ano, e merece, sem dúvida, destaque entre os melhores lançamentos de 2010. Uma ovação em pé para aquele que, neste momento, é o melhor artista português, e o que melhor usa a nossa língua nas suas criações.

Nota Final: 9,0/10

João Morais

2 comentários:

  1. Bom texto. Estiveste bem ao explicar que o B Fachada é um artista de que ou se gosta ou se detesta. Atrevo-me, contudo, a dizer o mesmo sobre os álbuns dele: alguns há de que gosto bastante e os acarinho; outros, contudo, deixam-me relativamente insatisfeito (e aqui, pessoalmente, colocaria o "É p'ra Meninos"). Acho que é uma das consequências de se ser um artista tão prolífico.

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    1. É bem verdade. A sua prolificidade, combinada com a sua "mania" (que eu bem adoro) de ir saltando de género em género com cada disco lançado faz com que o Fachada seja um artista que polariza muito as opiniões, mesmo ao nível dos fãs. Mas a verdade é que, se assim não fosse, não teria piada nenhuma.
      Obrigado pelo feedback positivo, já agora!

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