sábado, 8 de outubro de 2011

Parabéns, Música Dot Com!


Pois é, o Música Dot Com está de parabéns; foi há exactamente dois anos, no dia 8 de Outubro de 2009, que esta “aventura” começou, com uma review do quinto disco dos Muse, The Resistance (um texto bastante parco em qualidade, devo admiti-lo).

Desde esse dia, o MDC cresceu, melhorou, “entrou” no Facebook e no Twitter, ganhou seguidores e ultrapassou as 10.000 visitas (já vamos nas 14.000). Tudo isto para um blog que começou como um hobby, e se tornou em algo mais, graças à dedicação de amigos e desconhecidos, que lêem e apoiam este nosso “cantinho” na Internet.

A todos vocês, um grande “Obrigado”, e “Parabéns”, porque este aniversário também é vosso!

João Morais

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Take Care, Take Care, Take Care

Criados em 1999, os Explosions in the Sky são um dos nomes mais conhecidos do Post Rock instrumental, contando com uma carreira que incluí seis discos de originais. A mais recente obra do grupo, Take Care, Take Care, Take Care, saiu em Abril deste ano, sucedendo ao bem recebido All of a Sudden I Miss Everyone (2007), e será hoje analisado pelo Música Dot Com.

Confesso que fiquei fã dos Explosions in the Sky desde o momento em que escutei The Earth Is Not a Cold Dead Place (2003), uma autêntica obra-prima com um valor gigantesco para mim. E apesar de considerar que os EitS ainda não conseguiram ombrear com a qualidade desse majestoso disco de 2003, devo admitir que são uma banda que já conseguiu, desde então, criar álbuns muito belos, daí que tenha ficado com uma enorme expectativa por este Take Care, Take Care, Take Care, expectativa essa que felizmente não foi defraudada.

Quem conhece os Explosions in the Sky, sabe o que deve esperar em Take Care, Take Care, Take Care; Post Rock instrumental, com ritmos que vão intercalando entre calmas pacíficas, crescendos galopante e clímaxes poderosos e estonteantes. Nesse aspecto, os EitS seguem os cânones estabelecidos desde o primeiro disco da banda, How Strange, Innocence (2000).

No entanto, há diferenças entre este LP e o seu antecessor, All of a Sudden I Miss Everyone, que a meu ver elevam a fasquia de qualidade do grupo em comparação com o disco de 2007. A começar, a banda soa mais coesa, com os instrumentos a soarem ainda melhor. Depois, as canções estão ainda mais “urgentes”, conseguindo fazer passar um sentimento de expectativa que me agradou imenso.

Ao nível da produção, entregue a John Congleton, há também um corte com o som mais polido e cuidado de All of a Sudden I Miss Everyone. Em Take Care, Take Care, Take Care, as guitarras estão mais abrasivas e directas, a bateria mais agressiva, e o som do grupo é mais avassalador. Consigo dizer que, apesar de estar a anos-luz de The Earth Is Not a Cold Dead Place, este sexto álbum do grupo é dos melhores que os Explosions in the Sky já assinaram.

Contudo, este LP não está, a meu ver, perfeito. O principal defeito é, para mim, a falta de consistência que está presente em duas extensas canções do disco, Human Qualities e Be Comfortable, Creature, que para mim “morrem” a meio e falham em cativar-me totalmente. Apesar desta falha não fazer deste um mau álbum, a verdade é que tira-lhe o brilho, e impede-o de se afirmar como potencial “disco do ano”.

Das seis canções que compõem este disco, as de que gostei mais foram a hipnótica Let Me Back In, a dinâmica Last Known Surroundings, ou a minha preferida, a apressada e viciante Trembling Hands. As de que menos gostei, como já referi, são Human Qualities e Be Comfortable, Creature, que não sendo más faixas, não estão a meu ver ao nível das restantes peças.

Em suma, Take Care, Take Care, Take Care é um belíssimo disco, carregado de “mini-sinfonias” Post Rock, com a qualidade que só os Explosions in the Sky conseguem imprimir num LP. Apesar de não ser perfeito, este sexto registo do grupo é um claro avanço em relação ao seu antecessor, e deixou-me a pedir por mais deste quarteto norte-americano. Esperemos pelo próximo álbum.

Nota Final: 8,6/10

João Morais 

domingo, 2 de outubro de 2011

Watch the Throne



Os The Throne são um duo norte-americano de Hip-Hop formado por Kanye West e Jay-Z, dois artistas que dispensam apresentações. Com provas dadas nas suas carreiras, e com os seus mais recentes discos a terem sido bem recebidos pela crítica (Jay-Z com The Blueprint 3 e West com o maravilhoso My Beautiful Dark Twisted Fantasy), esta dupla decidiu juntar-se para um projecto conjunto, o disco Watch the Throne, que será hoje falado aqui.

Confesso-me fã, tanto de Kanye como de Jay-Z, que vêm ambos de LP’s muito bem sucedidos, tanto a nível comercial como crítico: My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) é, discutivelmente, um dos melhores álbuns do ano passado, e The Blueprint 3 (2009) é um claro regresso à “forma” de outros tempos de Jay-Z, depois de um período de discos menos bons. As expectativas para este Watch the Throne estavam, por isso, bem elevadas.

Contudo, quando ouvi este longa-duração, confesso que não pude deixar de me sentir um pouco desiludido. Apesar de oHip-Hop de “alta-costura” de ambos os artistas ainda estar lá, a verdade é que o disco, no geral, não me impressionou. Não posso dizer que é um mau álbum, mas verdade é que Watch the Throne, para mim, não passa da barreira do aceitável.

Ao nível da sonoridade, continuamos a ter aquele Hip-Hop fortemente produzido, com grande recurso a samples e batidas Dance Pop a que estes dois artistas já nos habituaram. Contudo, se na segunda metade do disco essa produção é de grande qualidade e consegue ser cativante, na primeira o som soa-me desinspirado e de nível bastante inferior, chegando a ser um horror de se ouvir em algumas canções.

Outro aspecto que notei neste Watch the Throne foi o uso do Auto-Tune, que está presente em muitos momentos do LP. E se bem que em canções como That’s My Bitch ou Murder to Excellence esse efeito fique bem, também é verdade que a meu ver “estraga” faixas com potencialidade, como a faixa de abertura No Church in the Wild ou Gotta Have It.

No que toca às letras, o mesmo problema que verifiquei na produção volta a surgir: se em algumas das canções estas são fortes e bem pensadas, noutras peças a escrita soa-me forçada, desinspirada e pouco sincera. Em grande parte do álbum,West e Jay-Z não passam de “gabarolas” que fazem questão de nos descrever a sua vida luxuosa, algo que chega a ser excessivo. Contudo, quando falam de temas como a paranóia que surge quando se está no topo (Why I Love You) ou de criminalidade violenta dentro da comunidade negra (Murder to Excellence), os rappers parecem honestos e sérios, algo que me agradou.

Entre as minhas faixas favoritas do disco encontram-se Why I Love You, que encerra muito bem o LP, That’s My Bitch, que consegue fazer passar um ambiente obscuro muito interessante, e aquela que é a meu ver a melhor de Watch the ThroneMurder to Excellence, onde as letras de cariz social e a sonoridade acelerada fundem-se criando uma canção excelente. Infelizmente, a qualidade destas (e doutras) boas canções vê-se diluída em peças a meu ver inferiores, como Lift OffOtis ou Who Gon Stop Me.

Concluindo, Watch the Throne não seria um mau disco de estreia caso Kanye West Jay-Z fossem completos desconhecidos. Contudo, o peso do legado que ambos carregam faz-se sentir, e este LP torna-se quase inadmissível para artistas deste nível. Se por acaso os The Throne continuarem, fico à espera de muito melhor, pois este álbum não me deixou convencido.

Nota Final: 5,7/10

João Morais



(Este texto foi originalmente publicado no Espalha Factos e pode ser visto aqui)

sábado, 10 de setembro de 2011

Festivais de Verão: resultados da votação


Depois de meses de votações, chegou ao fim a poll que o Música Dot Com fez acerca dos Festivais de Verão (nacionais e não só), no passado dia 5 deste mês, tendo contado com a participação de 25 orgulhosos votantes desta nossa sondagem.


E após o “fecho das urnas”, verificou-se aquilo que o MDC já antecipava; o grande vencedor é o Super Bock Super Rock, considerado pelo blog como o evento que reunia o melhor cartaz do ano (vejam aqui a reportagem que o Música Dot Com fez do evento), e que foi escolhido por 48% dos “eleitores” (12 votos).

Seguiram-se “outros” festivais (entre os quais suponho que se incluam o Avante ou o Milhões de Festa, não esquecendo possíveis “festivaleiros internacionais”), que reuniram 8 votos, perfazendo 32% do total.

No terceiro lugar, e encerrando o pódio, ficou o Optimus Alive! e a sua quinta edição, que contou com nomes como Coldplay  ou Foo Fighters, e que levou ao passeio marítimo de Algés 5 leitores do MDC (20% dos inquiridos).

No final da lista ficaram as opções “Nenhum”, com 3 votos (12%), Paredes de Coura, com 2 votos (8%) e o Sudoeste TMN, com apenas um voto (4%).


Reflectindo acerca da sondagem em si, notei uma maior participação por parte do público (um aumento de 9 pessoas em relação à última sondagem do MDC), o que se prende sobretudo ao tempo em que a sondagem esteve aberta, e ao assunto abordado, muito mais aberto à população em geral. Agora, resta aguardar pelo próximo inquérito, e esperar que haja mais participantes.

João Morais

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Hot Sauce Committee Part Two


Desde 1979 que Mike D, MCA e Ad-Rock, os Beastie Boys, estão juntos, tendo atingido com o passar dos tempos o estatuto de “decanos do Hip-Hop”, pelo seu contributo para o género, com uma discografia que chega aos oito discos de originais. Após um registo instrumental pouco acolhido pela crítica, The Mix-Up (2007), o grupo de Brooklyn chega agora com Hot Sauce Committee Part Two, que saiu a 27 de Abril, e que o MDC irá analisar hoje.

Sou fã de Beastie Boys, confesso. Canções como No Sleep till Brooklyn, Sabotage, ou Ch-Check It Out são referências óbvias para muitos fãs de Hip-Hop, e este trio é certamente uma das grandes figuras do género. Daí que muitos tenham ficado surpreendidos com The Mix-Up, o disco que sucedeu ao brilhante To the 5 Boroughs(2004), e que chocou com a sua abordagem instrumental, chegando a “roçar”, por vezes, géneros como o Funk ou até o Post-Punk, algo inédito para o trio.

Contudo, neste Hot Sauce Committee Part Two, os Beastie Boys regressaram ao Hip-Hop, com uma abordagem um pouco mais electrónica, mas com as rimas “afiadas” de sempre. Apesar de continuar a preferir To the 5 Boroughs, este  disco, mais cerebral e menos imediato, é uma bela incursão por um género tão variado como o Hip Hop, estilo esse em que os Beastie Boys sempre se mostraram mestres.

Como disse, este álbum claramente mostra uma vertente mais electrónica dos Beastie Boys, havendo aqui pouco espaço para o crossover com o Rock que é tão habitual na banda. Ao contrário do que estamos habituados, aqui não há riffs a rasgar, mas sim batidas computadorizadas, que remontam para uma Electronica de ritmo rápido e pesado, muito agradável ao ouvido. A produção mais “suja” também ajuda a dar um clima mais “negro” a este Hot Sauce Committee Part Two, que só lhe fica bem.

Contudo, este disco não está isento de falhas. A mais gritante será a inconsistência, que faz com que faixas bastante boas sejam intercaladas por canções que, a meu ver, não fazem falta nenhuma ao álbum.  Isso é também aliado ao facto de haver alguns “interlúdios” que por vezes cortam o ritmo ao LP, algo que não me agradou por completo.

Outro defeito está, a meu ver, na Electronica de algumas das faixas de Hot Sauce Committee Part Two, que chega por vezes a ser repetitiva e cansativa. Apesar deste problema não se ter revelado das primeiras vezes que ouvi o álbum, a verdade é que a audição continuada fez-me perder muitas vezes o vagar de ouvi-lo de novo, ou pelo menos de escutá-lo inteiramente, algo que certamente não ajudou no veredicto final.

Entre as canções do álbum, destaco a vibrante OK, a relaxada Don’t Play No Game That I Can’t Win (com uma bela participação de Santigold) e a minha favorita, a rápida e frenética Lee Majors Come Again, a única faixa que puxa para o lado mais “tradicional” dos Beastie Boys, e que me trouxe alguma nostalgia. Entre as de que menos gostei estão Nonstop Disco Powerpack, Tadlock’s Glasses e The Lisa Lisa/Full Force Routine (que a meu ver, fecha mal o álbum).

Em suma, Hot Sauce Committee Part Two mostra uns Beastie Boys que continuam a querer inovar e experimentar, algo que acho muito salutar e que prezo muito nos artistas e bandas. Contudo, apesar de ser um álbum muito bom, não está livre de falhas, e mesmo sendo uma melhoria em relação a The Mix-Up, falha em ultrapassar To the 5 Boroughs, um disco de excepção. Porém, se ouvirem este oitavo LP do trio, não irão ficar nada mal servidos.

Nota Final: 8,1/10

João Morais

terça-feira, 30 de agosto de 2011

The Rip Tide

Com os pés em New Mexico, mas com o coração em cada um dos cinco continentes, Zach Condon decidiu começar, em 2006, os Beirut, projecto que funde a Indie Folk anglo-saxónica com a World Music, com uma forte predominância da música balcânica. Depois de dois discos bem recebidos pela crítica, Gulag Orkestar (2006) e The Flying Club Cup (2007), chegou-nos, a 2 de Agosto, o muito aguardado terceiro longa-duração do conjunto, The Rip Tide, que será sujeito a crítica hoje.http://www.espalhafactos.com/wp-includes/js/tinymce/plugins/wordpress/img/trans.gif

Confesso-me fã dos Beirut, e tenho duas razões bastante fortes para isso: Gulag Orkestar e The Flying Club Cup, para mim, dois discos de excepção. Enquanto que o primeiro surpreende pela inovação de fazer canções Pop à moda da Folk da Europa de Leste, o segundo encanta com os maravilhosos arranjos orquestrais (crédito de Owen Pallett), que levaram a música da banda para um outro plano, “polvilhando” a sonoridade base da banda com um pouco de Chanson Française.

Contudo, em The Rip Tide, assistimos a um passo atrás na evolução da sonoridade da banda, com o grupo de Zach Condon a criar um disco que aposta mais no cavaquinho, no acordeão e no trompete, e menos em orquestrações grandiosas. É certo que estas ainda se fazem sentir em certos momentos, mas o destaque aqui é desviado para um espírito mais intimista e “despido”, que não me soa nada mal.

Algo também bastante notório neste LP é a produção, clara e límpida, à semelhança de The Flying Club Cup. Esta clareza traz ao de cima os vocais de Condon, que fazem com que o disco consiga atingir uma grande proximidade com o ouvinte. Todas estas características fazem com que The Rip Tide seja um disco bastante aprazível de se ouvir.

Porém, nem tudo é positivo neste álbum. Um dos defeitos mais flagrantes é, sem dúvida, a diminuta duração do disco. Com apenas nove canções e uma duração de pouco mais de meia hora, este The Rip Tide é bastante curto, especialmente se considerarmos que o seu predecessor saiu em 2007.

Outra falha deste LP é, a meu ver, a falta de qualidade de algumas das canções que estão a meio do disco, que cortam o ritmo iniciado pelo belíssimo trio de faixas que abre o registo (A Candle’s Fire, Santa Fe e East Harlem). Esta “morte” do andamento ajuda a que o já curto álbum tenha ainda menos que se aproveite.

Destaco como melhores canções deste disco a melancólica Vagabond, a tocante Port of Call, que fecha o disco muito bem, e a minha favorita, a viciante Santa Fe, que com o seu sintetizador “saltitão” me lembra, por momentos, os The Magnetic Fields. Quanto às de que menos gostei, aponto Goshen, Payne’s Bay ou The Peacock, faixas que, a meu ver, têm uma clara falta de algo que as faça brilhar.

Em suma, The Rip Tide é um bom álbum, mas não é um disco que suceda condignamente a The Flying Club Cup. A curta duração e a inconsistência das canções são factores que só tiram pontos a um longa-duração que prima pela intimidade e “leveza”. Os que já são fãs dos Beirut irão, sem dúvida, ficar agradados com este LP, mas para quem está a conhecer agora este grupo recomendo que comece por outro disco.

Nota Final: 7,7/10

João Morais


(Este texto foi originalmente publicado no Espalha Factos e pode ser visto aqui)


domingo, 14 de agosto de 2011

In the Mountain in the Cloud


Vindos do frio e longínquo Alaska, os norte-americanos Portugal. The Man são uma das bandas mais prolíficas dos últimos tempos, com seis discos de originais lançados desde que começaram, em 2004. O mais recente, In the Mountain in the Cloud, está nas lojas desde 19 de Julho, e sucede a American Ghetto, o aclamado álbum de 2010. Será que os Portugal. The Man conseguiram superar-se?http://www.espalhafactos.com/wp-includes/js/tinymce/plugins/wordpress/img/trans.gif

Para mim, os Portugal. The Man são uma daquelas bandas bastante consistentes, que apesar de ainda não terem criado nenhuma “obra-prima”, também nunca desiludiram, mantendo sempre o nível de qualidade dos seus discos acima da “linha de água”. American Ghetto conseguiu subir ainda mais o patamar a que os norte-americanos nos tinham habituado, com uma produção mais rica e uma atitude ainda mais experimental, bem visível nos sintetizadores e nos ritmos que aproximaram a banda do Electronic Rock.

Em In the Mountain in the Cloud, porém, o grupo de John Gourley decidiu cortar com essa sonoridade, aproximando-se mais do Psychedelic Rock dos Flaming Lips, ou até de David Bowie (mais concretamente do disco Space Oddity, de 1969). É certo que existe uma certa continuidade, especialmente no que toca à produção, que se mantém bastante sólida e polida. No entanto, este é um álbum com uma sonoridade bastante diferente.

A aposta na instrumentação acústica é evidente: aqui não há guitarras eléctricas a “rasgar”, mas sim um som acústico a “piscar o olho” à Psychedelic Folk. Também temos uma forte presença de orquestração clássica, que dá uma maior riqueza ao som, sempre bem-vinda. Isto, com as letras alegres e bem-dispostas, cria um “ambiente” muito positivo. Confesso, gostei muito de ouvir estas inovações no som dos Portugal. The Man, que conseguiram criar em In the Mountain in the Cloud um disco que cai bem no ouvido.

Contudo, este disco também padece de falhas que, a meu ver, fazem com que este LP não consiga superar American Ghetto, a começar pela inconsistência; se é verdade este In the Mountain in the Cloud tem belíssimas canções, também não é mentira que, a meu ver, houve momentos de total marasmo, que fizeram com que me desligasse do disco.

Outro problema é a homogeneidade in extremis deste LP; apesar de apreciar discos que têm um “fio condutor” que se faz sentir ao longo de toda a obra, a verdade é que In the Mountain in the Cloud abusa desse “fio”, fazendo com que muitas canções soem exactamente às que as antecederam. Isto ajuda ao tal marasmo de que falei anteriormente.

Pela negativa, destacam-se Head Is a Flame (Cool With It), All Your Light (Times Like These) e Once Was One, canções a meu ver inferiores, e que contrastam com as belas So American, Senseless ou a minha favorita, Sleep Forever, que conseguem trazer qualidade a um álbum que seria, sem elas, medíocre.

Resumindo, In the Mountain in the Cloud não é um mau álbum, mas também não uma grande obra, e certamente que não é uma melhoria em relação a American Ghetto. Que o Psychedelic Rock lhes fica bem, quanto a isso não há dúvidas; porém, é preciso fazer discos mais sólidos e consistentes. Contudo, este LP não deixa de ser uma boa aposta para ouvir, especialmente no fim de tarde de Verão. Fica-se à espera do próximo álbum, que muito provavelmente sairá no próximo ano.

Nota Final: 7,2/10

João Morais



(Este texto foi publicado originalmente no Espalha Factos, e pode ser visto aqui)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Codes and Keys

Vindos do frio estado de Washington, os Death Cab for Cutie, de Ben Gibbard, são uma banda já bem conhecida dentro e fora da cena Indie Rock norte-americana. Começando em 1997, o grupo já assinou sete discos de estúdio, sendo o mais recente, Codes and Keys, que chegou às prateleiras das lojas de música em Maio deste ano, e que será hoje analisado pelo Música Dot Com.

Apesar de ter começado a ouvir a obra dos Death Cab for Cutie recentemente, reconheço que daquilo que ouvi, gostei, e muito. A sonoridade intimista e as letras tristonhas que povoam a maioria das canções do grupo podem não ser do gosto de todos, mas é certo que, a mim, atingem um ponto frágil no meu coração. Contudo, confesso que o sexto disco da banda, Narrow Stairs (2007), não foi muito do meu agrado. Por isso, este Codes and Keys tinha uma tarefa relativamente fácil para suplantar o seu antecessor.

Se em Narrow Stairs assistíamos a um certo “negrume” nos riffs e nas letras, com a guitarra a ter bastante destaque, neste Codes and Keys encontramos uma banda com uma sonoridade muito mais “luminosa” e com letras mais alegres, com o piano a roubar o “papel principal”. Ocasionalmente, também encontramos uma instrumentação mais orquestral, e de quando em vez, o sintetizador também decide aparecer, explorando a sonoridade electro-acústica característica do outro projecto de Gibbard, os agora abandonados The Postal Service.

A produção deste disco também corta com o anterior Narrow Stairs, que tinha uma sonoridade mais suja e crua. Pelo contrário, este Codes and Keys utiliza um som mais límpido. Admito, sou fã de LP’s mais crus, mas este só ficou a ganhar com esta produção, que encaixa bem com a disposição geral do álbum. Todos estes factores fazem com que Codes and Keys seja um disco de grande qualidade.

No entanto, existem alguns defeitos. Se é verdade que esta faceta mais feliz de Gibbard traz consigo um som mais luminoso, a verdade é que discos como Something About Airplanes (1998) ou Transatlanticism (2003) conseguiam criar uma maior ligação com o ouvinte, devido às suas canções intimistas e enternecedoras. Não digo que os Death Cab for Cutie devessem manter-se sempre no mesmo registo, mas a verdade é que por vezes, esta alegria soa “forçada”, quando a tristeza lhes saía muito mais naturalmente.

Outra questão é a da falta de consistência que às vezes se sente; enquanto que canções como Codes and Keys (a belíssima faixa-título) ou Doors Unlocked and Open estão cheias de energia e brilho, faixas como Home is a Fire (que abre mal o disco, na minha opinião) ou St. Peter’s Cathedral acabam por despertar indiferença em mim, devido à falta de algo que agarre a minha atenção.

Destaco pela positiva a vibrante Doors Unlocked and Open, a poderosa Underneath the Sycamore, ou a minha favorita, You Are a Tourist, o primeiro single a ser extraído deste Codes and Keys, e que prima pela sua beleza em estado puro. Pela negativa, devo referir, Home is a Fire, Unobstructed Views, e St. Peter’s Cathedral, que a meu ver impedem que este disco atinja um patamar mais alto de qualidade.

Concluíndo, Codes and Keys é, a meu ver, uma melhoria em relação a Narrow Stairs, mas a verdade é que a alegria que preenche este disco, apesar de soar bem ao ouvido, ainda está um pouco longe do pico de qualidade alcançado pela banda em tempos anteriores. Fico à espera que, no próximo disco, os Death Cab for Cutie consigam trazer-nos um álbum ainda melhor. Contudo, não ficamos mal servidos com este Codes and Keys.

Nota Final: 7,8/10

João Morais

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Comunicado

Caros leitores,

Se por acaso são visitantes regulares do Música Dot Com, (tanto do blog como das redes sociais em que estamos presentes), já devem ter reparado na recente inactividade a que o MDC tem estado submetido. Começo, por isso, por pedir desculpas. No entanto, esta “hibernação” tem a sua razão de ser, e vou passar a explicá-la.

Para quem não sabe, eu, o criador do Música Dot Com, comecei a trabalhar para um jornal online chamado Espalha Factos (http://www.espalhafactos.com), onde vou passar a fazer basicamente o que faço aqui: reviews a discos e concertos dos mais variados géneros, em princípio duas vezes por semana. Por isso, tenho estado a concentrar-me nesse novo “posto”, daí que o Música Dot Com tenha ficado, nos últimos tempos, um bocado esquecido. Contudo, se pensam que este blog vai acabar, não se apoquentem; o MDC vai perdurar, pois todos os textos que eu escrever lá irão ser publicados (com algum atraso, como é evidente) aqui, no bom e velho blog que tem sido a nossa casa desde 8 de Outubro de 2009. Também irei escrever, quando o tempo me permitir, críticas a álbuns que não possa analisar no EF (especialmente os que estão mais atrasados, por desleixo meu).

Posto isto, espero que continuem a ser fiéis leitores deste nosso canto aonde nos dedicamos à belíssima arte que é a música. Espero também que tentem acompanhar os meus textos no Espalha Factos, para poderem saber em primeira-mão quais os meus pensamentos em relação aos mais variados discos.

Atenciosamente,

João Morais


(A minha primeira publicação no Espalha Factos pode ser vista aqui)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pala

“Friendly Fires”, a obra homónima de 2008, valeu-lhes elogios da crítica (foi nomeado para o prestigiado Mercury Prize), pela forma como cria uma sonoridade que ousa misturar a Sythpop e o Dance Rock, através dos seus ritmos animados e fervilhantes. Agora, em 2011, os britânicos Friendly Fires voltam com um segundo disco, “Pala”, saído a 16 de Maio. Hoje, o Música Dot Com traz-vos a análise deste álbum. Preparados?

Começo por dizer que gostei do primeiro disco, “Friendly Fires”. Apesar de não ser nenhum LP brilhante, é “fresco” e soa bem, cumprindo os requisitos mínimos para ser considerado uma boa estreia. Logo, quando soube que iria sair um segundo registo da banda oriunda de Hertfordshire, fiquei curioso. Não chego ao ponto de dizer que estava ansioso, mas é certo que fiquei à espera para ver o que dali saía. E a verdade é que não fiquei nada mal impressionado com “Pala”, um disco que, a meu ver, consegue estar um patamar acima do álbum de estreia.

Se “Friendly Fires” já passava um certo “calor” na sua sonoridade, então “Pala” é um disco que “tresanda” a Verão passado à beira da piscina, com canções como “Live Those Days Tonight” ou “Hawaiian Air” a mostrarem um “mergulho” ainda mais profundo para a Pop amiga das pistas de dança. Enquanto que o disco de estreia ainda tinha uma certa influência do Post Punk ou até do Shoegaze, neste “Pala” essas influências desvaneceram quase por completo, para o espaço ser agora ocupado pela Electronica, que é extremamente visível através de um (ainda) maior número de sintetizadores e ritmos computadorizados. É certo que por vezes o Dance Rock ainda faz sentir a sua presença (especialmente em “Running Away” ou no refrão frenético de “Blue Cassette”), mas a verdade é que este disco mostra uns Friendly Fires com ainda mais apetência para a discoteca. Confesso que esta mudança é bem-vinda, pois se há coisa que estes britânicos fazem bem é pôr toda a gente a dançar, algo que vai ser ainda mais fácil com este belo LP.

Contudo, “Pala” está longe de ser um álbum perfeito. Uma das primeiras coisas que reparei neste disco foi a sua grande homogeneidade, que é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o seu maior defeito; se é verdade que nas primeiras reproduções escutei um disco extremamente coeso, cativante e apelativo, também constatei que esse brilho vai-se aos poucos desvanecendo quando repetimos variadas vezes as audições, fazendo-me reparar que o disco soa todo muito semelhante. Não quero com isto dizer que condeno os álbuns que têm um som que é transversal a todo o registo, mais este “Pala” podia ter um pouco mais de variedade, para evitar cair na redundância. Também tenho a criticar a escolha de “Helpless” para o fecho do LP, a meu ver uma música mais pobre em termos de qualidade, e que acaba por deixar o disco “mal resolvido”. Estas falhas, apesar de fazerem a diferença, não fazem com que “Pala” seja um mau álbum, mas que apenas poderia ser melhor.

Entre as minhas canções favoritas estão “Live Those Days Tonight” (que abre o disco de forma extremamente energética), “Pala” (a faixa-título, que conta com um beat mais lento, que monta uma atmosfera muito interessante) e aquela que é, para mim, a melhor canção do registo, “Hawaiian Air” (uma peça extremamente poderosa, com um ritmo que faz com que seja impossível ficar quieto). Entre as menos boas contam-se “Helpless”, “Chimes” e “True Love”, peças medianas que não ficam bem no meio de canções que se destacam pela positiva.

Em suma, “Pala” é um bom álbum, e que eleva a fasquia em relação ao homónimo disco de estreia. Não sendo um disco brilhante, é um LP bastante bom para dançar, especialmente nestas noites de Verão. Fica-se à espera de mais e melhor destes meninos para a próxima vez que entrarem em estúdio, mas por agora, a gente contenta-se com este “Pala”.

Nota Final: 7,8/10

João Morais