Formados por Matthew
Tavares, Chester Hansen e Alexander Sowinski em 2010 na cidade
canadiana de Toronto, os BADBADNOTGOOD são um trio de Jazz experimental que muito burburinho
tem gerado na internet nos últimos tempos, em grande parte devido à sua ligação
a nomes do Hip-Hop como Tyler, the Creator, Earl Sweatshirt ou Lil B. Depois de uma morna estreia em LP no ano passado, com o discreto BBNG, os BADBADNOTGOOD
lançaram a 3 de Abril o seu segundo disco, BBNG2, e é dele que vamos falar
hoje.
Apesar de não ter ficado muito convencido com BBNG,
tenho de reconhecer o enorme valor simbólico que o disco de estreia dos BADBADNOTGOOD
representou aquando do seu lançamento. Surgindo como uma espécie de “declaração
de independência” do trio canadiano em relação ao passado do Jazz, BBNG mostrou uma visão
inovadora e uma atitude irreverente que ignora o cânone do género e prefere
abraçar o Hip-Hop como matriz de
inspiração.
Contudo, e apesar de toda esta audácia e ousadia que
acabei de descrever, confesso que não encontrei em BBNG um álbum que, do
ponto de vista musical, me apelasse muito. Por isso, não posso dizer que tenha
ficado propriamente entusiasmado quando soube que o grupo canadiano ia lançar
este ano um sucessor. Porém, após ter visto uma encorajadora review por parte do The Needle Drop, decidi dar uma oportunidade a este BBNG2.
E em boa hora o fiz, pois o segundo longa-duração dos BADBADNOTGOOD é das
coisas mais entusiasmantes que já ouvi em 2012.
À primeira vista, e de um ponto de vista meramente
“estrutural”, BBNG2 aparenta ser uma fotocópia em alta resolução do LP de estreia dos BADBADNOTGOOD: recheado
com peças originais e covers de
alguns dos nomes mais badalados do Hip-Hop
e Electronica actual (clássicos do Jazz estão, obviamente, proibidos), o
grupo repete a mistura de Jazz livre
da vertente Post-Bop com Instrumental Hip-Hop do mais alto
gabarito. No entanto, e apesar dos vários pontos de contacto com o álbum de
estreia, BBNG2 demonstra um tremendo salto qualitativo em quase todos os
níveis.
A começar está a questão estética; se em BBNG
o trio se esforçava (sem grande sucesso) por impor um clima soturno, em BBNG2
vemos os canadianos a acertar na mouche
e a conseguir estabelecer um ambiente verdadeiramente sombrio e intenso. Para
isso contribui a grande melhoria na produção e no tratamento de som, levadas a
cabo por Matt MacNeil, Jack Clow e os próprios BADBADNOTGOOD.
Afastando-se da sonoridade meio “plástica” e amadora do primeiro disco, o som
de BBNG2
mostra-se muito mais robusto e vigoroso, com os instrumentos a
aparecerem, paradoxalmente, tanto quentes e vívidos como frios e distantes.
Outro aspecto que viu grande melhoria foi a proficiência
musical do grupo. Nota-se uma maior química entre os canadianos, tanto nos
solos como nos jams, e que se traduz
numa sonoridade mais “solta” e efusiva. Desde as teclas certeiras de Matthew Tavares à bateria frenética de Alexander Sowinski, passando pelo baixo
quente de Chester Hansen, é incrível
o nível de musicalidade destes jovens músicos. Tudo isto, aliado às belíssimas
participações especiais (Leland Whitty
no saxofone e Luan Phung na guitarra
eléctrica), faz com que BBNG2 seja um disco quase perfeito,
onde os poucos defeitos são pequenos demais para manchar o brilho e a
qualidade.
Quanto aos destaques deste álbum, aponto de forma
positiva para a inquietante Vices
(uma das minhas faixas favoritas de todo o 2012), a bipolar Bastard/Lemonade, a fluída DMZ, a inebriante CMYK e a desconcertante Flashing
Lights. Quanto aos pontos fracos do disco, apenas tenho a assinalar a
mediana Rotten Decay como a faixa de
que menos gostei de BBNG2, porque no geral este é um LP que se pauta pela consistência.
Resumindo, riquíssimo em detalhes e em texturas bem
trabalhadas, BBNG2 apresenta-se como um álbum mais sólido e bem composto do
que o seu antecessor, conseguindo estabelecer de forma muito mais satisfatória
o ambiente pretendido. Sombrio e arrepiante, o segundo LP dos BADBADNOTGOOD demonstra uma atitude muito mais madura, algo que
contrasta com o disclaimer do álbum
que avisa que ninguém com mais de 21 anos participou na “confecção” do mesmo. E
essa maturidade vê-se quando estes três “putos” conseguem, no mesmo “caldeirão”,
pôr canções de Tyler, the Creator, James Blake, Kanye West e My Bloody Valentine e fazer com que o resultado não soe nada desconexo. Há que admitir, é obra. E que bela obra.
Nota Final: 9.2/10
João Morais
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