sexta-feira, 5 de outubro de 2012

BBNG2

Formados por Matthew Tavares, Chester Hansen e Alexander Sowinski em 2010 na cidade canadiana de Toronto, os BADBADNOTGOOD são um trio de Jazz experimental que muito burburinho tem gerado na internet nos últimos tempos, em grande parte devido à sua ligação a nomes do Hip-Hop como Tyler, the Creator, Earl Sweatshirt ou Lil B. Depois de uma morna estreia em LP no ano passado, com o discreto BBNG, os BADBADNOTGOOD lançaram a 3 de Abril o seu segundo disco, BBNG2, e é dele que vamos falar hoje.

Apesar de não ter ficado muito convencido com BBNG, tenho de reconhecer o enorme valor simbólico que o disco de estreia dos BADBADNOTGOOD representou aquando do seu lançamento. Surgindo como uma espécie de “declaração de independência” do trio canadiano em relação ao passado do Jazz, BBNG mostrou uma visão inovadora e uma atitude irreverente que ignora o cânone do género e prefere abraçar o Hip-Hop como matriz de inspiração.

Contudo, e apesar de toda esta audácia e ousadia que acabei de descrever, confesso que não encontrei em BBNG um álbum que, do ponto de vista musical, me apelasse muito. Por isso, não posso dizer que tenha ficado propriamente entusiasmado quando soube que o grupo canadiano ia lançar este ano um sucessor. Porém, após ter visto uma encorajadora review por parte do The Needle Drop, decidi dar uma oportunidade a este BBNG2. E em boa hora o fiz, pois o segundo longa-duração dos BADBADNOTGOOD é das coisas mais entusiasmantes que já ouvi em 2012.

À primeira vista, e de um ponto de vista meramente “estrutural”, BBNG2 aparenta ser uma fotocópia em alta resolução do LP de estreia dos BADBADNOTGOOD: recheado com peças originais e covers de alguns dos nomes mais badalados do Hip-Hop e Electronica actual (clássicos do Jazz estão, obviamente, proibidos), o grupo repete a mistura de Jazz livre da vertente Post-Bop com Instrumental Hip-Hop do mais alto gabarito. No entanto, e apesar dos vários pontos de contacto com o álbum de estreia, BBNG2 demonstra um tremendo salto qualitativo em quase todos os níveis.

A começar está a questão estética; se em BBNG o trio se esforçava (sem grande sucesso) por impor um clima soturno, em BBNG2 vemos os canadianos a acertar na mouche e a conseguir estabelecer um ambiente verdadeiramente sombrio e intenso. Para isso contribui a grande melhoria na produção e no tratamento de som, levadas a cabo por Matt MacNeil, Jack Clow e os próprios BADBADNOTGOOD. Afastando-se da sonoridade meio “plástica” e amadora do primeiro disco, o som de BBNG2 mostra-se muito mais robusto e vigoroso, com os instrumentos a aparecerem, paradoxalmente, tanto quentes e vívidos como frios e distantes.

Outro aspecto que viu grande melhoria foi a proficiência musical do grupo. Nota-se uma maior química entre os canadianos, tanto nos solos como nos jams, e que se traduz numa sonoridade mais “solta” e efusiva. Desde as teclas certeiras de Matthew Tavares à bateria frenética de Alexander Sowinski, passando pelo baixo quente de Chester Hansen, é incrível o nível de musicalidade destes jovens músicos. Tudo isto, aliado às belíssimas participações especiais (Leland Whitty no saxofone e Luan Phung na guitarra eléctrica), faz com que BBNG2 seja um disco quase perfeito, onde os poucos defeitos são pequenos demais para manchar o brilho e a qualidade.

Quanto aos destaques deste álbum, aponto de forma positiva para a inquietante Vices (uma das minhas faixas favoritas de todo o 2012), a bipolar Bastard/Lemonade, a fluída DMZ, a inebriante CMYK e a desconcertante Flashing Lights. Quanto aos pontos fracos do disco, apenas tenho a assinalar a mediana Rotten Decay como a faixa de que menos gostei de BBNG2, porque no geral este é um LP que se pauta pela consistência.

Resumindo, riquíssimo em detalhes e em texturas bem trabalhadas, BBNG2 apresenta-se como um álbum mais sólido e bem composto do que o seu antecessor, conseguindo estabelecer de forma muito mais satisfatória o ambiente pretendido. Sombrio e arrepiante, o segundo LP dos BADBADNOTGOOD demonstra uma atitude muito mais madura, algo que contrasta com o disclaimer do álbum que avisa que ninguém com mais de 21 anos participou na “confecção” do mesmo. E essa maturidade vê-se quando estes três “putos” conseguem, no mesmo “caldeirão”, pôr canções de Tyler, the Creator, James Blake, Kanye West e My Bloody Valentine e fazer com que o resultado não soe nada desconexo. Há que admitir, é obra. E que bela obra.

Nota Final: 9.2/10

João Morais

[Para fazer o download legal e gratuito do disco, basta clicar aqui]

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