Projecto californiano formado por Zach Hill, Andy "Flatlander" Morin e MC Ride em 2010, os Death
Grips são um dos nomes que mais burburinho tem gerado na indústria
musical nos últimos tempos devido à irreverência que mostram no seu som, na
sua postura e no seu marketing.
Depois de uma mixtape lançada em
2011, Exmilitary, que lhes valeu um contrato com a Epic (subsidiária da Sony Music) e a atenção de muito boa
gente na “comunidade alternativa”, o trio norte-americano comprometeu-se a
editar este ano dois LP’s. O
primeiro, lançado a 21 de Abril, tem o título de The Money Store e é dele
que vamos hoje falar.
Apesar de não ter ficado totalmente rendido a Exmilitary
(como as 3 pessoas que acompanharam as Curtas do final de 2011 bem sabem),
admito que fiquei bastante interessado na invulgar mistura de Industrial e Noise com Hip-Hop dos Death
Grips e que vi neles um grande talento e um tremendo potencial. Por
isso mesmo não é de estranhar que The Money Store estivesse num lugar
bem cimeiro da minha lista de discos mais esperados para 2012, algo que só foi
exacerbado quando as primeiras canções do álbum começaram a surgir na internet.
Porém, por muito elevadas que estivessem as minhas
expectativas, tenho de confessar que nada me preparou para a autêntica bomba
que me rebentou no colo no momento em que The Money Store me passou pelos
ouvidos pela primeira vez. Com os seus 41 minutos recheados de caos, rebeldia e
experimentação absolutamente viciantes, o primeiro LP dos Death Grips arrebatou-me o coração quase por completo e
depressa se tornou num dos discos mais rodados dos últimos meses aqui em casa
(para grande infelicidade dos vizinhos). Resumindo, The Money Store é um dos
meus discos favoritos deste ano.
Quem ouviu Exmilitary sabe que uma das suas características
mais fortes foi a forma como fundiu uma agressividade sonora cega com uma incrível
sensibilidade Pop para criar versos
infecciosos e memoráveis. Em The Money Store, o que assistimos
não é a uma alteração deste esquema mas sim à sua afinação: a abrasividade e a
agressividade aparecem de forma mais forte e direccionada, e os refrães e os hooks são ainda mais catchy. Ao nível da produção, a cargo de Zach Hill e Flatlander, assistimos
à mistura de vários samples e loops com instrumentação mais “analógica”
(sobretudo bateria e sintetizadores), o que ajuda a dar ao disco o aspecto
duma “colagem sonora” que, com a estética suja e crua, assume tonalidades muito
negras e sombrias.
Quanto às letras, vemos em The Money Store uma
composição por camadas: se à superfície temos MC Ride a encarnar um mero vagabundo violento, à medida que vamos
mergulhando na lírica do disco vamos compreendo que, mais do que um mero
delinquente, a personagem do álbum assume-se como uma espécie de “oráculo” das
ruas que, para resumir, já viu e sofreu muita merda marada, desde crimes a
brutalidade policial. Para além disso existem múltiplas referências à Pop culture actual (Lady Gaga ou WikiLeaks,
por exemplo) que dão ao disco uma grande actualidade e uma dimensão de crítica
social mordaz bem vincada. Isso, quando aliado à entrega vocal brutal e furiosa
de MC Ride, dá a The
Money Store uma força que vem não só da violência sonora mas também da
violência do conteúdo conceptual, o que separa os Death Grips de quase tudo
o que se faz actualmente no Hip-Hop.
No que toca aos defeitos, a minha única queixa a fazer a The
Money Store é o facto de estarem incluídas no disco algumas faixas que, a
meu ver, não se encaixam bem e que, por retirarem algum do ritmo ao álbum,
podiam muito bem ser retiradas que daí não viria mal nenhum. Se não fosse esse
problema, e uma ou outra aresta que poderia ter sido limada, e este The
Money Store seria um LP
perfeito e de excepção.
Quanto às escolhas de canções individuais, no rol das
minhas favoritas incluem-se a demolidora The
Fever (Aye Aye), a desconcertante Hustle
Bones, a contagiante I’ve Seen
Footage, a esquizofrénica Punk Weight
e a viciante Hacker. Quanto às peças
de que menos gostei, Lost Boys, Blackjack e Fuck That são tudo canções que, como já referi anteriormente, por
mim poderiam nem estar presentes no disco.
Resumindo, com The Money Store os Death
Grips vêm chocar grande parte da cena alternativa e afirmam-se como
um dos mais interessantes, inovadores e thought
provoking da música actual. Mesclando Experimental
Hip-Hop com Noise, Industrial e uma atitude muito digna do DYI e do Punk, o trio norte-americano consegue, com o seu primeiro LP,
esbater as fronteiras do Hip-Hop e
alargar os seus alcances. É certo que não é um álbum perfeito e que, devido à
sua aspereza e abrasividade, acaba por ser um “gosto adquirido” que não é
facilmente entendível por todos. Mas a verdade é que, ainda que não chegue a
toda a gente, The Money Store é um dos poucos álbuns que consegue abalar as
fundações de um género por completo.
Nota Final: 9.0/10
João Morais
Sem comentários:
Enviar um comentário