Como forma de despachar serviço para poder lançar os tops
e listas de final de ano, aqui ficam as pequenas reviews a 6 discos que, na minha opinião, são completamente
“obrigatórios” para quem quiser ouvir algumas das melhores obras de 2012. Bem
sei que é manhoso e que estes álbuns mereciam críticas “inteiras”, mas
infelizmente não há tempo: o ano novo já chegou e com ele vem também uma grande
carga de trabalho.
Tramp – Sharon Van Etten [7 Fev]
- Terceiro álbum de Sharon
Van Etten, Tramp é o disco de consagração da norte-americana e traz-nos a
artista naquela que é, discutivelmente, a sua melhor forma até agora. Carregado
duma sonoridade Indie Rock/Folk tensa e sedutora, bem complementada
pela estética enevoada e misteriosa (fruto da sublime produção de Aaron Dessner, dos The National) e pela voz honesta
e sentida de Sharon, este Tramp
revela-se como um disco sólido e cheio de emoções fortes e arrepios na espinha.
Pode não ser perfeito, mas o terceiro LP
de Sharon Van Etten é um dos
portentos de 2012 que não vamos esquecer tão cedo.
Pontos altos:
- Give Out
- Serpents
- Ask
Nota Final: 8.1/10
Myth – Geographer [28 Fev]
- Depois da tímida estreia com Innocent Ghosts (2008) e
do morno EP Animal Shapes (2010),
este trio norte-americano formado por Michael
Deni (voz/guitarras/sintetizadores), Nathan
Blaz (violoncelo/sintetizadores) e Brian
Ostreicher (bateria) regressou, no início do ano passado, com seu segundo LP, de seu título Myth. Produzido por Eli Crews e misturado por Chris Zane (que também trabalhou com tUnE-yArDs
e Passion
Pit), este álbum apresenta-nos uma sonoridade dividida entre a Indie Pop e a Electronica, numa deliciosa mistura que se situa a meio caminho
entre os sintetizadores melancolicamente frenéticos dos New Order e as
orquestrações alegres e radiosas dos The Flaming Lips. Viciante e
carregado de texturas riquíssimas, este Myth acaba por ser, ainda assim,
algo inconstante e heterogéneo. Contudo, apesar das falhas, este LP acaba por ser das coisas mais frescas
que 2012 nos trouxe.
Pontos altos:
- Blinders
- Lover’s Game
- Kites
Nota Final: 8.5/10
Turbulence – Miami Nights 1984 [8 Mar]
- Fundador da editora Rossa
Corsa, Michael Glover é um
produtor canadiano que assina, desde 2010, com o nome de Miami Nights 1984. Após a estreia no ano passado, com Early
Summer, Glover lançou em
Março, com o projecto MN84, este Turbulence,
disco que nos traz uma sonoridade reminiscente da Synthpop e Italo-Disco
dos anos 80. Indo buscar influências directas a nomes como Giorgio Moroder ou Harold
Faltermeyer, Turbulence é rico em sintetizadores cativantes, solos
frenéticos e batidas contagiantes, num estilo muito próximo daquilo que o
francês Kavinsky tem vindo a fazer. Apesar
de não ser um LP propriamente
inovador ou brilhante, o segundo álbum de Miami
Nights 1984 consegue fazer algo que muitos querem e não conseguem: “roubar”
descaradamente às bandas-sonoras dos filmes de acção série B dos anos 80 e
voltar de lá sem o kitsch e a
foleirice.
Pontos altos:
- Ocean Drive
- New Tomorrow
- Saved by the Bell
Nota Final: 8.5/10
[Bandcamp]
kin – iamamiwhoami [11 Jun]
- Criado em 2009, iamamiwhoami é um projecto
audiovisual encabeçado pela cantautora Jonna
Lee e que conta com a participação do produtor Claes Björklund e duma equipa responsável pelo aspecto gráfico e
cinematográfico. Depois duma série de vídeos virais lançados no YouTube e dum grande secretismo em
relação aos artistas envolvidos, o projecto lançou no início do Verão passado o
seu primeiro LP, kin. Uma obra conceptual
que gira à volta da relação entre o artista e o público, kin traz-nos um “melting pot” de Electronica, Synthpop e Trip-Hop, resultando numa Pop cerebral, bem-pensada e
incrivelmente bela. Com sintetizadores quentes e veludosos, a contrastar com a
voz fria e certeira de Lee, este kin
é uma obra desconcertante que, apesar de “quebrada” na sua qualidade (com a segunda
metade a ser muito menos apelativa que a primeira), consegue surpreender quem a
ouve de coração aberto e demonstra-se, acima de tudo, como um grande disco para
cabeças pensantes e corpos dançantes.
Pontos altos:
- Drops
- Good Worker
- Play
Nota Final: 8.3/10
1999 – Joey Bada$$ [12 Jun]
- Mixtape
lançada de forma gratuita na internet, 1999 foi a obra que fez de Joey Bada$$, rapper e produtor com apenas 17 anos, uma das grandes revelações de
2012. Criado com os The Pro Era, colectivo nova-iorquino “encabeçado” por Bada$$, este registo traz-nos uma
sonoridade que remete quase de imediato para o Hip-Hop “clássico” dos anos 80 e 90, época dourada do género. Revivalista
mas, simultaneamente, incrivelmente fresco, 1999 revela uma grande
inspiração em nomes como Notorious
B.I.G. ou Nas, tanto na
brilhante produção e escolha dos beats
e samples como no irrepreensível flow e nas letras bem pensadas. É certo
que não é uma obra-prima e não traz nada de revolucionário ao Hip-Hop, mas a verdade é que 1999
deixou-me cheio de esperanças para o promissor futuro de Joey Bada$$.
Pontos altos:
- Survival Tactics
- Don’t Front
- Righteous Minds
Nota Final: 8.3/10
Nocturne – Wild Nothing [28 Ago]
- Depois do mediano Gemini (2010), confesso que já não
tinha grandes esperanças para os Wild Nothing. Porém, depois de ouvir
Nocturne,
segundo trabalho do projecto liderado pelo norte-americano Jack Tatum, fui obrigado a fazer o acto de contrição; com uma
sonoridade Dream Pop com forte
influência do Indie Pop britânico dos
anos 80 (ver C-86 para mais referência), Nocturne apresenta-se
como uma obra fresca e açucarada capaz de conquistar até os corações mais
empedernidos. Muito mais consistente que o seu antecessor, Nocturne larga também
alguns dos sintetizadores de Gemini, apostando muito mais no
baixo viciante e cheio de groove e
nas guitarras jangly e solarengas,
com tudo a ser complementado de forma perfeita pela produção cheia de reverb, a cargo de Nicolas Vernhes. Apesar das canções finais serem um bocado
desapontantes e de por vezes poder parecer uma obra em que as influências estão
muito à flor da pele, Nocturne é um disco cheio de vida e
magia, que demonstra uma enorme evolução por parte de Jack Tatum e companhia.
Pontos altos:
- Nocturne
- Only Heather
- Counting Days
Nota Final: 8.4/10
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