Things that Happen at Day / Things that Happen at Night – Milo [1 Jan]
- Depois do delicioso Milo takes Baths ter
aberto, no início do ano passado, novas portas ao jovem Milo nos meandros do Hip-Hop
de cariz mais independente, o rapper
norte-americano decidiu surpreender-nos a todos lançando, logo no primeiro dia
deste 2013, dois extended plays de
cariz mais conceptual: Things that Happen at Day e Things
that Happen at Night. Neste ambicioso empreendimento, que contou com a
engenhosa produção de Riley Lake (em
…Day)
e Analog(ue) Tape Dispenser (em …Night),
Milo traz-nos dois registos repletos
de um Hip-Hop intimista e
confessional, bem ao seu estilo costumeiro. Partindo duma base estética e
sonora bem minimalista, assente em beats
simples e samples inteligentes e
comedidos, …Day e …Night primam pelo seu tom
inteligente e arguto, cheio de jogos de palavras com duplos significados e
trocadilhos ardilosos, e onde as várias referências à pop culture (desde o wrestling
aos videojogos) conseguem estabelecer um raro grau de identificaão com a
geração geek nascida nos anos 90 e da
qual Milo faz parte.
Porém, como em
todas as coisas dadas em dose dupla, existe sempre a tendência para escolher um
dos lados da moeda como nosso preferido, e neste caso Things that Happen at Day
revela-se, para mim, substancialmente melhor que a sua contraparte, pela forma
mais delicada e subtil com que conjuga a simplicidade da produção com a
complexidade lírica de Milo. É certo
que podemos achar algo caricato este modelo de lançamento de …Day
e …Night,
e interrogarmo-nos sobre os porquês de estes não formarem antes um
longa-duração mais extenso e coeso; contudo, à medida que fui ouvindo estas
obras, tornou-se cada vez mais perceptível que aquilo que as envolve de brilho
acaba por ser a forma sui generis
como, apesar de separados, estes dois EP’s
conseguem estar ligados entre si de forma umbilical. E isso só serve para
esperar grandes coisas do génio inventivo de Milo.
Pontos altos (…Day):
- Almost Cut My Hair (for Crosby)
- Folk-Metaphysics
Pontos altos (...Night):
- Monologion
- Folk-Metaphysics, 2nd Ed.
Nota final (…Day): 4.5/5
Nota final (…Night): 3.2/5
[Bandcamp]
l-âmina – a-nimal [2 Fev]
- Segunda obra de originais deste trio sediado em Lisboa,
l-âmina
sucede a a-nimal [EP], lançado em 2012 (crítica aqui) e apresenta-se
como um admirável exercício de iconoclastia, invertendo algumas das concepções
sonoras que o EP de apresentação da
banda ajudou a formar. Puramente instrumental, por oposição ao modelo “panfletário”
presente nas letras de a-nimal [EP], l-âmina traz-nos uns a-nimal
apostados em aprofundar o seu experimentalismo e trilhar novos caminhos;
misturando a abrasividade do primeiro EP,
nascida da combinação de Alternative Rock,
Punk e Metal, com novos efeitos, texturas e ritmos mais próximos de um Post-Punk repleto de psicadelismo (e, a
espaços, com laivos de Shoegaze), l-âmina
consegue transmitir paisagens sonoras ainda mais desoladoras e enegrecer ainda
mais os tons com que a música dos a-nimal se reveste. É certo que não
é uma obra perfeita e que é notória, aqui e ali, alguma inconsistência. Porém,
no final de contas, l-âmina só vem reforçar a constante criatividade e imaginação
que está por detrás do projecto de João
Sousa, Zé Santos e André Calvário.
Pontos altos:
- l-âmina
- incógnito
Nota final: 4.2/5
[Bandcamp]
Capicua Goes West – Capicua [31 Jan]
- Para quem acompanhou este blog no ano passado o nome de Capicua
não será, certamente, uma novidade. Pois bem, depois da estreia em LP no ano passado, com o maravilhoso
homónimo Capicua (crítica aqui), a rapper
portuense decidiu lançar no início deste a sua segunda mixtape, Capicua Goes West, obra que, tal
como o próprio título indica, utiliza beats
“roubados” ao génio da produção que é o norte-americano Kanye West. O resultado é um EP
sólido e consistente, que traz um tom ainda mais incendiário e que conjuga de
forma perfeita o flow escorreito e o
estilo agressivo de Capicua com a
estética brilhante e lustrosa da produção de West (misturada com alguns samples
muito inteligentes e que só acrescentam personalidade ao registo). Apesar de
não estar, na minha opinião, ao nível do disco de 2012, este Capicua
Goes West é, ainda assim, um EP
que só vem reafirmar Capicua como um
dos nomes mais interessantes do Hip-Hop
nacional.
Pontos altos:
- Amigos
Imaginários
- Pedras da Calçada
Nota final: 4.0/5
Sem comentários:
Enviar um comentário