sábado, 17 de março de 2012

Visions

Com uma curta carreira, iniciada em 2010, a canadiana Grimes pode gabar-se de ser uma artista bastante prolífica, tendo lançado já dois LP’s em nome próprio (Geidi Primes e Halfaxa, ambos em 2010) e um Split EP (Darkbloon, de 2011) em colaboração com d’Eon. Recentemente, no passado dia 31 de Janeiro, Claire Boucher lançou Visions, o seu terceiro disco de originais, que será hoje analisado no Música Dot Com.

Confesso que apenas recentemente ouvi falar de Grimes, uma jovem que tem gerado algum hype por entre os círculos da internet que se dedicam à música independente (Olá, Pitchfork!). Depois de ter feito o meu trabalho de casa e de ter escutado as obras que antecederam este LP, fiquei bastante agradado com a Synthpop experimental fortemente influenciada pela Electronica que Grimes teve para oferecer nesses 3 registos. Contudo, confesso que nada me preparou para o “embate” com Visions, um álbum que me impressionou e deixou-me a pedir por mais.

Com uma Synthpop atmosférica e etérea, Visions apresenta-se, a meu ver, como o melhor LP de Grimes até à data, com uma sonoridade que joga num equilíbrio entre a continuidade dos discos anteriores e uma abordagem mais arrojada e inovadora. Com uma Electronica claustrofóbica que consegue evocar de forma bastante eficaz ambientes negros e frios, Visions tem a capacidade de demonstrar, simultaneamente, um toque de revivalismo dos anos 80 e uma postura de Pop futurista.

Ao nível dos vocais, Grimes traz o seu já característico registo (extremamente) agudo, com uma voz tão fina e frágil que chega a ser fantasmagoricamente inquietante, e que revela influências da K-Pop sul-coreana. Ao nível da lírica, Claire Boucher, nas letras que consegui perceber através da voz desvanecida da cantora, aborda primordialmente temas bastante abstractos e surrealistas, numa tentativa sólida de estabelecer um universo sórdido e noire exclusivo da artista. No que toca à produção, levada a cabo pela própria Grimes, assistimos a um tratamento do som que mistura eficazmente a polidez e a crueza, numa estética que captura a aura dos anos 80 de forma (quase) perfeita.

No entanto, apesar de toda a sua qualidade, Visions não consegue, a meu ver, ser uma obra totalmente imaculada, tendo alguns defeitos que minam o desempenho geral do disco. A encabeçar a lista está, sem dúvida, uma homogeneidade um bocado excessiva e que infelizmente torna o álbum um bocado repetitivo depois de algumas audições. É certo que a coerência temática do LP é bastante positiva, mas confesso que Visions só teria beneficiado de um bocadinho mais de variedade nos sons explorados.

Outro problema que encontrei em Visions foi a inconsistência, com uma disparidade algo pronunciada entre as melhores e as piores canções do disco, e que a meu ver mostra algum laxismo e falta de trabalho nas peças inferiores. Esta inconsistência é mais notória sobretudo na segunda metade do álbum, com uma quebra de momentum evidente e que faz com que o LP pareça bastante bipolar e desigual. Contudo, estes “problemas” não conseguem ofuscar o brilhantismo que Grimes demonstra em Visions.

Na hora de destacar aquelas que são, para mim, as melhores faixas deste álbum, sinto-me compelido a indicar a electrizante Circumambient, a penumbrosa Visiting Statue ou a minha favorita, a sombria e contagiante Oblivion. No outro lado do espectro, Colour Moonlight (Antiochus), Symphonia IX (My Wait is U) e Skin são as faixas que aponto como inferiores neste Visions.

Em suma, ao terceiro LP a canadiana Claire Boucher tira da cartola um belíssimo disco, que é um autêntico tratado de inovação e ousadia na música Pop actual. Alternativa q.b. e sem nunca perder de vista a suas referências, Grimes cria em Visions o seu melhor álbum, e que eleva a fasquia para um patamar bastante elevado. É certo que algumas falhas aqui e ali impedem que esta seja uma obra-prima absoluta, mas a verdade é que a qualidade que encontrei neste LP faz com que Visions seja dos melhores e mais interessantes registos que já ouvi em 2012. Totalmente aprovado e largamente recomendado.

Nota Final: 8,4/10

João Morais

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