Com uma curta carreira, iniciada em 2010, a canadiana Grimes pode gabar-se de ser uma artista
bastante prolífica, tendo lançado já dois LP’s
em nome próprio (Geidi Primes e Halfaxa, ambos em 2010) e um Split EP (Darkbloon, de 2011) em
colaboração com d’Eon. Recentemente,
no passado dia 31 de Janeiro, Claire
Boucher lançou Visions, o seu terceiro disco de originais, que será hoje
analisado no Música Dot Com.
Confesso que apenas recentemente ouvi falar de Grimes, uma jovem que tem gerado algum hype por entre os círculos da internet que se dedicam à música
independente (Olá, Pitchfork!).
Depois de ter feito o meu trabalho de casa e de ter escutado as obras que
antecederam este LP, fiquei bastante
agradado com a Synthpop experimental
fortemente influenciada pela Electronica
que Grimes teve para oferecer nesses
3 registos. Contudo, confesso que nada me preparou para o “embate” com Visions,
um álbum que me impressionou e deixou-me a pedir por mais.
Com uma Synthpop
atmosférica e etérea, Visions apresenta-se, a meu ver,
como o melhor LP de Grimes até à data, com uma sonoridade
que joga num equilíbrio entre a continuidade dos discos anteriores e uma
abordagem mais arrojada e inovadora. Com uma Electronica claustrofóbica que consegue evocar de forma bastante
eficaz ambientes negros e frios, Visions tem a capacidade de
demonstrar, simultaneamente, um toque de revivalismo dos anos 80 e uma postura
de Pop futurista.
Ao nível dos vocais, Grimes
traz o seu já característico registo (extremamente) agudo, com uma voz tão fina
e frágil que chega a ser fantasmagoricamente inquietante, e que revela
influências da K-Pop sul-coreana. Ao
nível da lírica, Claire Boucher, nas
letras que consegui perceber através da voz desvanecida da cantora, aborda primordialmente temas bastante
abstractos e surrealistas, numa tentativa sólida de estabelecer um universo
sórdido e noire exclusivo da artista.
No que toca à produção, levada a cabo pela própria Grimes, assistimos a um tratamento do som que mistura eficazmente a
polidez e a crueza, numa estética que captura a aura dos anos 80 de forma
(quase) perfeita.
No entanto, apesar de toda a sua qualidade, Visions
não consegue, a meu ver, ser uma obra totalmente imaculada, tendo alguns
defeitos que minam o desempenho geral do disco. A encabeçar a lista está, sem
dúvida, uma homogeneidade um bocado excessiva e que infelizmente torna o álbum
um bocado repetitivo depois de algumas audições. É certo que a coerência
temática do LP é bastante positiva,
mas confesso que Visions só teria beneficiado de um bocadinho mais de variedade
nos sons explorados.
Outro problema que encontrei em Visions foi a
inconsistência, com uma disparidade algo pronunciada entre as melhores e as
piores canções do disco, e que a meu ver mostra algum laxismo e falta de
trabalho nas peças inferiores. Esta inconsistência é mais notória sobretudo na
segunda metade do álbum, com uma quebra de momentum
evidente e que faz com que o LP
pareça bastante bipolar e desigual. Contudo, estes “problemas” não conseguem
ofuscar o brilhantismo que Grimes demonstra em Visions.
Na hora de destacar aquelas que são, para mim, as
melhores faixas deste álbum, sinto-me compelido a indicar a electrizante Circumambient, a penumbrosa Visiting Statue ou a minha favorita, a
sombria e contagiante Oblivion. No
outro lado do espectro, Colour Moonlight
(Antiochus), Symphonia IX (My Wait is U) e Skin
são as faixas que aponto como inferiores neste Visions.
Em suma, ao terceiro LP
a canadiana Claire Boucher tira da
cartola um belíssimo disco, que é um autêntico tratado de inovação e ousadia na
música Pop actual. Alternativa q.b. e
sem nunca perder de vista a suas referências, Grimes cria em Visions o seu melhor álbum, e que
eleva a fasquia para um patamar bastante elevado. É certo que algumas falhas
aqui e ali impedem que esta seja uma obra-prima absoluta, mas a verdade é que a
qualidade que encontrei neste LP faz
com que Visions seja dos melhores e mais interessantes registos que já ouvi
em 2012. Totalmente aprovado e largamente recomendado.
Nota Final: 8,4/10
João Morais
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