segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mixtape da Semana // Week 32

A Mixtape da Semana traz-vos, para a sua edição número 32, uma playlist dedicada às músicas instrumentais. Sem letras e sem vozes (tirando os eventuais gritos e interjeições indistintas), esta colectânea irá com certeza fazer-vos levantar do chão e alegrar o vosso começo de semana.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Leaving Hope Nine Inch Nails
·         DMZ BADBADNOTGOOD
·         Day Four Explosions in the Sky
·         Sweet and Low Fugazi
·         Monsoon: Top to Bottom Portico Quartet
·         Saved by the Bell Miami Nights 1984
·         Pata Lenta Norberto Lobo
·         Raindance Lone
·         theseRIOTSareJUSTtheBEGGINING And So I Watch You From Afar
·         Oro y Sangre John Talabot


sábado, 20 de outubro de 2012

Curtas #4

awE naturalETHEESatisfaction [27 Mar]
- Um dos discos que mais buzz gerou na comunidade alternativa na primeira metade do ano, em grande parte devido ao “apadrinhamento” dos Shabazz Palaces, awE naturalE é o álbum de estreia das THEESatisfaction, duo norte-americano composto por Catahrine Harris-White e Stasia Irons. Editado pela Sub Pop, o LP desta dupla feminina traz-nos uma interessante mistura de Alternative Hip-Hop com R&B, Soul e Funk que consegue, de forma irreverente, mostrar uma atitude muito experimental e quebrar estereótipos do Hip-Hop. Porém, e apesar de todos os pontos positivos (com destaque para a produção, que mistura instrumentação analógica com um vasto uso de samples), não posso dizer que tenha fica muito impressionado com este disco das norte-americanas. É certo que é muito “outside the box” e mostra muito potencial, mas na minha opinião ficou bem abaixo das expectativas.
Pontos altos:
- Bitch
- God
- Enchantruss
Nota Final: 6.0/10

Portico Quartet Portico Quartet [30 Jan]
- Com os belíssimos Knee-deep in the North Sea (2007) e Isla (2009) os Portico Quartet foram, ao longo dos últimos anos, se afirmando como uma das mais interessantes bandas que o Jazz experimental da nova cena londrina tinha para oferecer, devido à forma única e progressiva com que olhavam para o género e o reinventavam a belo prazer. Porém, ao terceiro disco, os britânicos mostram uma clara quebra na criatividade que desilude quem tanto acreditou na sua promessa. Portico Quartet, homónimo lançado no início do ano, apresenta-se como uma ambiciosa tentativa de fundir uma Electronica minimal e cerebral com um Jazz instrumental e relaxante. No entanto, apesar da ambição, o LP acaba por se revelar numa autêntica montanha-russa, onde para cada ponto alto existe um ponto baixo, impedindo-o de criar momentum e se tornar verdadeiramente interessante. Fica a tristeza por um registo tão mediano, e a esperança de que os Portico Quartet consigam, num futuro próximo, voltar a encontrar o norte.
Pontos altos:
- Ruins
- Locker Boo
- City of Glass
Nota Final: 5.0/10

Boys & Girls Alabama Shakes [9 Abr]
- Com o seu EP homónimo, lançado no ano passado, os norte-americanos Alabama Shakes ficaram marcados como uma das grandes promessas que o Alternative Rock vindo do sul dos Estados Unidos tinha para nos dar, devido à sua interessante fusão da Soul da voz da frontwoman Brittany Howard com o Blues, o Garage Rock e o Rockabilly. No entanto, confesso que fiquei um pouco desapontado com o LP de estreia do quarteto, Boys & Girls. É certo que tenta trazer mais uma dose da mistura explosiva que fez do EP um verdadeiro encanto, mas na realidade acaba por, em vários momentos, se demonstrar num disco extremamente inconsistente e com canções muito pouco apelativas. É certo que não é, de todo, um mau registo, mas acaba por desiludir quando comparado com o hype que o rodeou. Fica para a próxima.
Pontos altos:
- Rise to the Sun
- I Ain’t the Same
- On Your Way
Nota Final: 6.5/10

Home Again Michael Kiwanuka [12 Mar]
- Novo “pretty boy” da Pop britânica, Michael Kiwanuka subiu à ribalta em 2011 com a sua música de fusão da Soul inspirada em Otis Redding com a Folk reminiscente de Van Morrison. Esta interessante combinação levou a que o inglês começasse a abrir concertos para a compatriota Adele e assinasse um contrato com a grande Polydor Records. A estreia em disco, Home Again, chegou-nos em Março, e nela vieram 10 bucólicas canções repletas de suavidade e finesse. A atenção ao detalhe, a produção clássica e cuidada e, sobretudo, a voz quente de Kiwuanuka fazem com que o primeiro disco do britânico seja uma verdadeira delícia de se ouvir. É certo que o hype foi um bocado exagerado e que o disco fica um bocado mortiço a partir da segunda parte, mas a verdade é que Home Again é tudo o que um LP de estreia deve ser: um belo cartão-de-visita que cria grandes expectativas para o futuro.
Pontos altos:
- I’m Getting Ready
- Home Again
- Any Day Will do Fine
Nota Final: 7.0/10

Between the Times and the TidesLee Ranaldo [21 Mar]
- Nestes tempos difíceis de “orfandade” que todos nós atravessamos com o hiato dos Sonic Youth, é bem sabido que cada disco a solo de um dos membros da mítica banda nova-iorquina deve ser recebido com entusiasmo e exaltação. Between the Times and the Tides, o mais recente álbum do guitarrista Lee Ranaldo, tinha tudo para confirmar esta regra; infelizmente, e a contrariar todas as expectativas, este é um LP bastante mediano. É certo que o Alternative Rock rico em influências variadas e em bom gosto está lá, assim como o experimentalismo Noise a lembrar os Sonic Youth e as canções mais estruturadas que puxam para o lado mais Pop. No entanto, o álbum acaba por ser demasiado desequilibrado ao longo dos seus 47 minutos. Resumindo, Between the Times and the Tides não é um mau álbum, mas esperava-se muitíssimo melhor de alguém com o génio de Lee Ranaldo.
Pontos altos:
- Angles
- Lost (Planet Nice)
- Tomorrow Never Comes
Nota Final: 6.4/10

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mixtape da Semana // Week 31

Na edição de hoje, a Mixtape da Semana traz-vos um exemplo daquilo que o MDC tem andado a ouvir nos últimos dias. Misturando lançamentos mais recentes (de reviews passadas ou futuras) com canções não tão “frescas” (para desenjoar), esta é mais uma playlist altamente recomendável e que promete afastar a vossa Segunda-Feira do aborrecimento.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Men’s NeedsThe Cribs
·         Hand in Glove The Smiths
·         Kinski Assassin Ariel Pink’s Haunted Graffiti
·         We Are Water HEALTH
·         Come Up and Get Me Death Grips
·         WOR Django Django
·         Heroes David Bowie
·         Please Don’t Go Away The Men
·         Heroin The Velvet Underground
·         Elephant Tame Impala


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mixtape da Semana // Week 30 [aniversário MDC]

Porque o destino tece as suas malhas de forma misteriosa e porque a preguiça e os outros afazeres têm um efeito bastante poderoso sobre as pessoas que laboram neste blog, a 30ª Mixtape da Semana calhou, de uma maneira bastante feliz, na data do 3º aniversário do Música Dot Com. Por isso, o MDC preparou uma pequena playlist para comemorar os seus 3 anos de longevidade (e que serve para substituir os party hats, o Champomy e a festa no Lounge com alguns nomes sonantes da “cena”).

Como anunciado, esta Mixtape contém nomes “repetidos” e que são habitués aqui da casa, assim como algumas canções mais clichés das bandas aqui colocadas. No entanto, e tendo em conta que é o aniversário do blog, mais vale dizer “Fuck it” e aceitar a predisposição natural que este que vos escreve tem para escolher determinados artistas.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Birthday The Beatles
·         Debaser Pixies
·         7/4 Shoreline Broken Social Scene
·         Beijinhos B Fachada
·         Subterranean Homesick Blues Bob Dylan
·         No Cars Go Arcade Fire
·         Family Business Kanye West
·         Little Fury Things Dinosaur Jr.
·         Idioteque Radiohead
·         Two-Headed Boy Pt. 2Neutral Milk Hotel


Parabéns, MDC

Este ano não temos discursos lamechas nem promessas de um mundo melhor. Apenas podemos dar a garantia de que a (reduzida) equipa do Música Dot Com irá continuar a trabalhar (quando for possível) para que este seja um espaço de amor por esta arte que tanta gente move. A mais 3 anos!

João Morais

[PS: fiquem atentos, que mais para o final do dia há-de haver uma Mixtape, bem cheinha de canções repetidas e de clichés]

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

BBNG2

Formados por Matthew Tavares, Chester Hansen e Alexander Sowinski em 2010 na cidade canadiana de Toronto, os BADBADNOTGOOD são um trio de Jazz experimental que muito burburinho tem gerado na internet nos últimos tempos, em grande parte devido à sua ligação a nomes do Hip-Hop como Tyler, the Creator, Earl Sweatshirt ou Lil B. Depois de uma morna estreia em LP no ano passado, com o discreto BBNG, os BADBADNOTGOOD lançaram a 3 de Abril o seu segundo disco, BBNG2, e é dele que vamos falar hoje.

Apesar de não ter ficado muito convencido com BBNG, tenho de reconhecer o enorme valor simbólico que o disco de estreia dos BADBADNOTGOOD representou aquando do seu lançamento. Surgindo como uma espécie de “declaração de independência” do trio canadiano em relação ao passado do Jazz, BBNG mostrou uma visão inovadora e uma atitude irreverente que ignora o cânone do género e prefere abraçar o Hip-Hop como matriz de inspiração.

Contudo, e apesar de toda esta audácia e ousadia que acabei de descrever, confesso que não encontrei em BBNG um álbum que, do ponto de vista musical, me apelasse muito. Por isso, não posso dizer que tenha ficado propriamente entusiasmado quando soube que o grupo canadiano ia lançar este ano um sucessor. Porém, após ter visto uma encorajadora review por parte do The Needle Drop, decidi dar uma oportunidade a este BBNG2. E em boa hora o fiz, pois o segundo longa-duração dos BADBADNOTGOOD é das coisas mais entusiasmantes que já ouvi em 2012.

À primeira vista, e de um ponto de vista meramente “estrutural”, BBNG2 aparenta ser uma fotocópia em alta resolução do LP de estreia dos BADBADNOTGOOD: recheado com peças originais e covers de alguns dos nomes mais badalados do Hip-Hop e Electronica actual (clássicos do Jazz estão, obviamente, proibidos), o grupo repete a mistura de Jazz livre da vertente Post-Bop com Instrumental Hip-Hop do mais alto gabarito. No entanto, e apesar dos vários pontos de contacto com o álbum de estreia, BBNG2 demonstra um tremendo salto qualitativo em quase todos os níveis.

A começar está a questão estética; se em BBNG o trio se esforçava (sem grande sucesso) por impor um clima soturno, em BBNG2 vemos os canadianos a acertar na mouche e a conseguir estabelecer um ambiente verdadeiramente sombrio e intenso. Para isso contribui a grande melhoria na produção e no tratamento de som, levadas a cabo por Matt MacNeil, Jack Clow e os próprios BADBADNOTGOOD. Afastando-se da sonoridade meio “plástica” e amadora do primeiro disco, o som de BBNG2 mostra-se muito mais robusto e vigoroso, com os instrumentos a aparecerem, paradoxalmente, tanto quentes e vívidos como frios e distantes.

Outro aspecto que viu grande melhoria foi a proficiência musical do grupo. Nota-se uma maior química entre os canadianos, tanto nos solos como nos jams, e que se traduz numa sonoridade mais “solta” e efusiva. Desde as teclas certeiras de Matthew Tavares à bateria frenética de Alexander Sowinski, passando pelo baixo quente de Chester Hansen, é incrível o nível de musicalidade destes jovens músicos. Tudo isto, aliado às belíssimas participações especiais (Leland Whitty no saxofone e Luan Phung na guitarra eléctrica), faz com que BBNG2 seja um disco quase perfeito, onde os poucos defeitos são pequenos demais para manchar o brilho e a qualidade.

Quanto aos destaques deste álbum, aponto de forma positiva para a inquietante Vices (uma das minhas faixas favoritas de todo o 2012), a bipolar Bastard/Lemonade, a fluída DMZ, a inebriante CMYK e a desconcertante Flashing Lights. Quanto aos pontos fracos do disco, apenas tenho a assinalar a mediana Rotten Decay como a faixa de que menos gostei de BBNG2, porque no geral este é um LP que se pauta pela consistência.

Resumindo, riquíssimo em detalhes e em texturas bem trabalhadas, BBNG2 apresenta-se como um álbum mais sólido e bem composto do que o seu antecessor, conseguindo estabelecer de forma muito mais satisfatória o ambiente pretendido. Sombrio e arrepiante, o segundo LP dos BADBADNOTGOOD demonstra uma atitude muito mais madura, algo que contrasta com o disclaimer do álbum que avisa que ninguém com mais de 21 anos participou na “confecção” do mesmo. E essa maturidade vê-se quando estes três “putos” conseguem, no mesmo “caldeirão”, pôr canções de Tyler, the Creator, James Blake, Kanye West e My Bloody Valentine e fazer com que o resultado não soe nada desconexo. Há que admitir, é obra. E que bela obra.

Nota Final: 9.2/10

João Morais

[Para fazer o download legal e gratuito do disco, basta clicar aqui]

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mixtape da Semana // Week 29

Cores cinzentas, sons frios e gélidos e um uso extensivo de uma distorção crua e afiada, geralmente acompanhada por letras ricas em frustração, desespero e depressão. Foi com estas características que foi gerado, nos anos 70, o Post-Punk. Nascido nos bares e clubes de Nova Iorque, Londres e Manchester, juntamente com o Punk, o Post-Punk não conheceu grande popularidade nos primeiros tempos. Contudo, a verdade é que este género foi-se tornando, aos poucos, num dos mais importantes para a construção do Alternative Rock, e a sua importância e a dos seus pioneiros ainda hoje se sente, e muito, na música contemporânea.

Por isso mesmo, a 29ª Mixtape da Semana é dedicada a esta corrente musical e a alguns dos nomes que ajudaram a criá-la. Com nomes como Public Image Ltd., The Fall ou Pere Ubu, esta é mais uma playlist obrigatória.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         Public Image Public Image Ltd.
·         Pink Flag Wire
·         Mongoloid Devo
·         The Classical The Fall
·         Sketch For Summer The Durutti Column
·         Damaged Goods Gang of Four
·         Friction Television
·         Final Solution Pere Ubu
·         A Forest The Cure


domingo, 2 de setembro de 2012

Sweet Heart Sweet Light

Foi das cinzas dos Spacemen 3, um dos grupos mais inovadores e originais da música psicadélica britânica, que nasceram em 1990 os Spiritualized, projecto fruto da mente conturbada de Jason Pierce (aka J. Spaceman). Um dos nomes mais aclamados do Space Rock e do Psychedelic Rock dos anos 90 e 00, os Spiritualized contam já com sete discos de estúdio. O mais recente, Sweet Heart Sweet Light, viu a luz do dia a 16 de Abril, e é sobre ele que vamos falar hoje.

Se não conhecem os Spiritualized, façam-me um favor: parem de ler esta review e arranjem maneira de ouvir Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space, magnum opus dos Spiritualized e um dos melhores discos da colheita de 1997. Após essa experiência, é muito provável que acabem por comungar da admiração que sinto pelos Spiritualized de Jason Pierce e compreendam o porquê de todos os discos do grupo serem esperados com grande entusiasmo pelos fãs. Sweet Heart Sweet Light não foi excepção à regra, e foi sem dúvida um dos álbuns mais antecipados para 2012. E a verdade é que, depois de o ter ouvido, não pude deixar de me sentir satisfeito. Apesar de não conseguir repetir a proeza do LP de 1997, à semelhança de todos os registos que os Spiritualized têm lançado, o sétimo trabalho do grupo de J. Spaceman cumpre as expectativas e apresenta-se como um grande disco.

Assumidamente mais Pop do que os seus antecessores, Sweet Heart Sweet Light é um disco que mostra um lado mais acessível do Psychedelic Rock dos Spiritualized, tal como foi admitido por J. Spaceman. No entanto, e apesar de ser notório que este álbum “entra” de forma mais rápida e escorreita nos ouvidos, não se pode dizer que este sétimo registo do grupo é um álbum “fácil” de se ouvir. Pelo contrário, as cacofonias sinfónicas, os ruídos à lá Noise, as distorções abrasivas e os efeitos psicadélicos continuam bem patentes na sonoridade dos Spiritualized e mantêm-se no papel de “contraponto” dos arranjos orquestrais grandiosos, dos ritmos épico, das partes mais Blues-y e dos coros Gospel; simplesmente existe aqui uma certa sensação de “leveza” nunca antes vista na obra dos Spiritualized.

Essa “leveza” transparece claramente para as letras de Jason Pierce, que assina em Sweet Heart Sweet Light algumas das suas criações mais upbeat e solarengas da sua carreira. Apesar de continuar a versar de forma ligeiramente depressiva sobre os mesmos temas (em poucas palavras: Deus, drogas, dor, morte, vida e amor), a verdade é que também existem pequenos rasgos de esperança e vitalidade na dialéctica de J. Spaceman, algo que nunca esperava ver e que honestamente me agradou bastante.

Ao nível da produção, é de notar um ligeiro aumento na clareza e aprumo do som, e que se traduz numa estética que vai jogando muito bem entre o “grão” das malhas mais Rock e o brilho imaculado das canções mais opulentas e épicas. Quanto à voz de Pierce, esta mantém-se no seu registo bem fino e grave, mas aparece de forma bem mais límpida e definida do que o costume. No geral, Sweet Heart Sweet Light traz alguma frescura, mas mantém bem patente a identidade muito própria da sonoridade dos Spiritualized.

No entanto, nem tudo é agradável nesta obra, e existem alguns defeitos que acabam por “manchar” o bom trabalho desenvolvido por J. Spaceman e companhia. A começar, está uma certa inconsistência que se vai sentido em certos momentos do álbum e que por vezes chega a retirar-lhe o ímpeto. Outro problema é o facto deste Sweet Heart Sweet Light acabar por depender de certos “mecanismos” que se tornaram clichés da música dos Spiritualized: a orquestra grandiosa, a relação muito sui generis com deus e as drogas e o psicadelismo pseudo-medicinal. Apesar de apreciar, e muito, a sonoridade do grupo, a verdade é que já se começa a sentir falta duma injecção radical de originalidade.

Quanto às melhores canções deste disco, a multifacetada Hey Jane, a agridoce Get What You Deserve, a cativante Get What You Deserve Now, a tocante Freedom ou a hipnotizante I Am What I Am são, a meu ver, pontos totalmente obrigatórios. Quanto às canções que menos me cativaram, Little Girl, Too Late e Life is a Problem são peças que na minha opinião revelam uma qualidade inferior à do potencial de J. Spaceman e que demonstram bem o problema da inconsistência acima referido.

Resumindo, ao sétimo álbum os Spiritualized continuam a apostar na receita que tão bem conhecem de Psychedelic Rock espacial com infusões de Gospel e Blues, e isso traduz-se num Sweet Heart Sweet Light que, apesar dos ligeiros twists, irá agradar os fãs mais “velha guarda” da banda. É certo que tem os seus maus momentos e que demonstra que a fórmula utilizada por J. Spaceman está a começar a ficar um bocado gasta, batida e sem surpresas. Porém, a verdade é que, no geral, Sweet Heart Sweet Light é um disco muito bom e isso é o que mais conta no final.

Nota Final: 8.0/10

João Morais

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Entrevista: Linda Martini

Os Linda Martini são um quarteto lisboeta composto por André Henriques, Hélio Morais, Pedro Geraldes e Cláudia Guerreiro. Formados em 2003, produziram o seu primeiro registo em 2005, o EP homónimo Linda Martini, onde nasceram faixas como Este Mar e a célebre Amor Combate.

Desde muito cedo cultivam uma vasta legião de fãs, sempre pronta a prestar-lhes culto, e que só aumentou com a estreia nos LP’s, em 2006, com o sublime Olhos de Mongol. Sempre com uma sonoridade própria, com uma entrega imensa e com os lirismos muito bem conseguidos, foram acumulando notoriedade e  popularidade junto do público através dos lançamentos dos EP’s Marsupial e Intervalo.

Se eram já uma das bandas mais adoradas no panorama alternativo português, Casa Ocupada, lançado em 2010, catapultou-os ainda mais para o topo, quer em termos de fãs quer em termos qualitativos. De promessa, rapidamente se consolidaram como uma das melhores bandas portuguesas de todos os tempos. São os Linda Martini, e o Música Dot Com falou com eles:

Os Linda Martini surgiram depois dos elementos da banda terem andado na estrada com projectos musicais que enveredavam uma vertente mais marcada pelo hardcore e pelo punk. De que modo julgam estarem presentes estes géneros musicais na vossa sonoridade?
Linda Martini: Na maneira como fazemos e encaramos a música, essencialmente. Temos sempre a última palavra nas decisões que afectam a carreira da banda. Não temos um manager omnipotente. Estamos sempre por dentro de todas as decisões, sejam elas de edição, promoção, merchandising, etc. E no gostarmos de tocar alto e sujo, claro.

Na vossa já longa carreira [contam com quase 10 anos de existência] sucederam-se já algumas peripécias relevantes que sentenciaram os Linda Martini tal qual como são hoje. Uma dessas situações foi a saída do Sérgio, membro fundador do grupo, e as razões para esse afastamento nunca foram muito explícitas. Que circunstâncias ditaram a sua saída?
LM: Nenhuma circunstância especial que mereça grandes comentários. A vida é feita de amores e desamores, de vontades simultâneas e de vontades desencontradas. O Sérgio seguiu um caminho, a dada altura, e os restantes membros seguiram outro. Simples, sem grandes dramas. Mantemos contacto.

A vossa música prima pela sua originalidade e criatividade. Notam-se suaves aromas de bandas como Sonic Youth, At The Drive-in, ou até mesmo, e numa dose menos carregada, Nirvana, mas o que é facto é que vocês conseguem fazer do vosso som, um som único. Se vos pedissem para caracterizar o vosso género musical, como o classificariam?
LM: Rock!

Contam, até agora, com uma discografia constituída por três EP’s (Linda Martini, Marsupial e Intervalo) e com dois LP’s (Olhos de Mongol e Casa Ocupada). Nestes 9 anos de Linda Martini qual foi o registo que mais vos deu prazer em trabalhar, e porquê?
LM: Todos eles foram especiais à sua maneira. O Linda Martini foi o início e por isso tem logo uma carga muito forte. O Olhos de Mongol foi um disco em que conseguimos explorar várias coisas que queriamos experimentar. O Marsupial foi um disco mais tranquilo, em que deixámos as canções respirarem um pouco mais e foi um disco em que compusemos bastante já no estúdio. O Intervalo foi o disco em que decidimos convidar aqueles que nos acompanham nos concertos, para fazerem parte desse mesmo registo e foi igualmente o disco que nos fez perceber que gostamos de gravar em registo directo. O Casa Ocupada foi o disco mais directo e intenso que gravámos e foi também em registo directo, pelo que nos fez sentir uma banda mais coesa, logo na gravação. Quando o gravámos, já sabiamos tocar as músicas bem.
São cada vez mais idolatrados no panorama musical português. São constantemente invadidos pelo carinho do público, o que é notório nos vossos concertos ao vivo. Foi neste contexto que decidiram elaborar um registo mais «ao vivo» como Casa Ocupada, criando um ambiente propício a estabelecer-se uma simbiose perfeita entre a banda e o público com momentos como, por exemplo, a faixa Cem Metros Sereia a servir de mote?
LM: Não pensámos muito no Casa Ocupada. Na verdade, as primeiras quatro músicas que fizemos foram a Belarmino Vs., a Ameaça menor, a Queluz menos luz e a S de Jéssica. Portanto poderíamos ter ido num registo mais instrumental ou mais rock, nessa fase. Intuitivamente, acabámos por ir no sentido mais rock do material que tínhamos na altura.

Existe muita gente que vos apelida de “Os Sonic Youth Portugueses”. A faixa Juventude Sónica, de Casa Ocupada, é, de algum modo, uma crítica a essa opinião? Com que atitude encaram essa comparação?
LM: Sempre achámos um pouco redutora a comparação. Quando fizemos a Juventude Sónica, foi a primeira vez que pensámos: “Hey! Isto lembra um pouco Sonic Youth”. E por isso decidimos facilitar o trabalho a quem está sempre à procura de algo para criticar.

Quem é o principal responsável pelas letras das músicas dos Linda Martini?
LM: O André.

As vossas letras apresentam, quase todas elas, um lirismo simples e uma estrutura reduzida. Faixas (de sucesso estrondoso) como Dá-me a tua melhor faca ou Elevador são exemplos máximos disso mesmo. É na premissa de dar alento ao vosso poder instrumental que optam por composições líricas mais pequenas ou existe uma segunda intenção como, por exemplo, criar, através dessas mesmas letras, uma atitude introspectiva no ouvinte?
LM: Há sobretudo uma preocupação de não escrever só por escrever. Se a música pede só um verso, é isso que lhe damos. Se uma frase sozinha fala pela música toda, não vamos estar a inventar mais e com isso retirar força a essa mesma frase. É algo também muito intuitivo.

Qual o concerto que, até hoje, mais tiveram prazer em dar e qual o vosso palco de sonho?
LM: É um pouco complicado escolher um. Já fomos muito felizes em Paredes de Coura (das duas vezes), no Optimus Alive de 2009, no Ritz (este ano), nas Noites Ritual (2011), na ZDB (2011), etc. Palco de sonho, acho que não temos. Até porque às vezes, um palco de sonho pode-se revelar num pesadelo de concerto.

Actuaram, há pouquíssimo tempo, no San Miguel Primavera Sound, em Barcelona. Como foi tocar ao lado de bandas tão icónicas como, por exemplo, Mudhoney ou The Cure? E qual foi a reacção de nuestros hermanos à vossa performance? E quanto à actuação de Paus, alguma coisa a dizer?
LM: Não chegámos a estar sequer em contacto com essas bandas, ainda que tenhamos tocado no mesmo palco que The xx e afins. Somente nos cruzámos com os Friends. Quanto à reacção, foi a esperada; as pessoas estavam-nos a conhecer e ainda que não interagissem durante as músicas como estamos habituados em Portugal, entre elas eram bastante carinhosos e batiam bastantes palmas. PAUS também foi um bom concerto e divertiram-se todos bastante.

Quando pretendem matar a fome dos fãs com um lançamento de mais algum álbum ou de algum EP? Estão previstos, para breve, novos projectos?
LM: Estamos neste momento a fazer o terceiro longa duração. A ideia é gravar lá para o fim do ano e editar em 2013, para comemorar 10 anos de Linda Martini. Mas é acompanhar o nosso Facebook, para se saber de como as coisas estão a correr.

Entrevista realizada por mail por Emanuel Graça
Fotos da autoria de Paulo Segadães, gentilmente cedidas pela banda.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mixtape da Semana // Week 28

Com a chegada de mais uma Segunda-Feira já se sabe que vem sempre mais uma Mixtape da Semana, trazida aqui pelo Música Dot Com para vos entreter os ouvidos com grandes doses de qualidade musical. As escolhas da 28ª playlist são, mais uma vez, sem tema definido, mas prometem pôr-vos a cantar e a abanar a cabeça que nem uns doidos ao fim de algumas canções. Com nomes como Feist, TV on the Radio ou The Libertines, não há como falhar.

Esta Mixtape conta com as seguintes faixas:
·         A Commotion Feist
·         John Wayne Gacy, Jr. Sufjan Stevens
·         Like Dylan in the Movies Belle & Sebastian
·         Wolf Like Me TV on the Radio
·         Breakthrough Modest Mouse
·         Break my Body Pixies
·         Extreme Ways Moby
·         Repeaterbeater Mew
·         Tell the King The Libertines
·         Borboleta Foge Foge Bandido