No “activo” desde 2009, foi apenas no ano seguinte, com Sunshine, que o catalão John Talabot começou a ganhar nome na
cena da música Electronica, tendo
atraído comparações com o canadiano Caribou.
Pois bem, depois de mais alguns singles,
chega-nos agora o début em
longa-duração de Talabot, ƒIN,
editado através da Permanent Records
e lançado 14 de Fevereiro.
Admito que, até há bem pouco tempo, eu vivia na mais
perfeita ignorância no que a John
Talabot e à sua obra dizem respeito. Contudo, depois do hype tremendo à volta de fIN e de algumas reviews bastante
favoráveis por parte de críticos que respeito bastante (mais propriamente, The Needle Drop e o The Guardian), fiquei decidido a
ouvir este misterioso álbum do DJ e
produtor catalão, tendo ficado muito espantado com o resultado;
em poucas palavras, fIN é um verdadeiro regalo musical.
Uma das coisas que se destaca de imediato em fIN
é o seu tom hipnótico e intimista, que se faz sentir ao longo de quase todo o
disco. Através da sua House minimalista
e de uma instrumentação electrónica subtil e cerebral, John Talabot consegue criar um álbum bastante desafiante e
bem-pensado. Contudo, não se pense que em fIN o produtor catalão renega por
completo o lado mais “físico” da House;
com recurso a ritmos e melodias extremamente contagiantes e infecciosas, que
conferem ao LP um groove e um chamamento da dança
inegáveis, Talabot revela um jogo de
equilíbrios notável, que faz com que fIN nunca cai em extremos.
Ao nível estético, Talabot
traz-nos um disco que mostra uma aposta clara numa sonoridade angular e pouco
polida, mas que ainda assim se recusa a entrar no campo do abrasivo, ficando
confortavelmente num meio-termo muito bem conseguido entre o “cru” e o “bem-sonante”.
Ao nível da produção, a conjugação dos samples
com os sintetizadores e com os beats
electrónicos é muito bem conseguida, fazendo lembrar o trabalho desenvolvido
por Caribou em Swim (2010).
Na voz, o que vemos em fIN é um uso da mesma
para fins unicamente musicais e sonoros, algo demonstrado pela aplicação de
filtros e efeitos como o vocoder ou o
reverb, que tornam impossível de
perceber quase todas as letras (se é que as há). Esse detalhe faz com que as
vozes complementem de forma perfeita o tom geral do álbum. Em suma, fIN
está cheio de qualidades, que fazem com que este seja um disco que se queira
ouvir repetidas vezes.
Contudo, nem tudo está perfeito neste LP de Talabot. A encabeçar a lista dos defeitos está, com certeza, a
homogenia in extremis que fIN
nos apresenta, que se pode tornar enjoativa para alguns. Essa sensação de “déjà vu interno”, aliado a uma certa
inconsistência que se faz sentir em alturas pontuais do disco não fazem, no
entanto, com que fIN deixe de ser um belíssimo disco.
Na hora de escolher aquelas que são, para mim, as
melhores faixas deste álbum, a suave e efervescente Destiny, a sombria e contagiante Oro y Sangre, a estrondosa e viciante Last Land, a cerebral e apelativa When the Past Was Present ou a fria e espantosa So Will Be Now… surgiram-me de imediato no
pensamento como os pontos mais altos de fIN. Quantos às de que menos gostei,
Depak Ine, El Oeste ou H.O.R.S.E.
são, a meu ver, as peças que se destacam pela negativa.
Em suma, com um groove
viciante e umas melodias cerebrais e irresistíveis, fIN é um belo tratado de
música House bem pensada e de muito
bom gosto. Com um sentido estético admirável, ambientes calmos e relaxantes e
um irresistível apelo para a dança, este LP
mostra-nos também um Talabot
bastante seguro de si, e digno de todo o hype
com que tem sido bombardeado. Pode não ser uma obra perfeita, mas fIN
faz com que fiquemos à espera para saber mais deste produtor catalão.
Nota Final: 8,7/10
João Morais
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