sábado, 21 de abril de 2012

fIN

No “activo” desde 2009, foi apenas no ano seguinte, com Sunshine, que o catalão John Talabot começou a ganhar nome na cena da música Electronica, tendo atraído comparações com o canadiano Caribou. Pois bem, depois de mais alguns singles, chega-nos agora o début em longa-duração de Talabot, ƒIN, editado através da Permanent Records e lançado 14 de Fevereiro.

Admito que, até há bem pouco tempo, eu vivia na mais perfeita ignorância no que a John Talabot e à sua obra dizem respeito. Contudo, depois do hype tremendo à volta de fIN e de algumas reviews bastante favoráveis por parte de críticos que respeito bastante (mais propriamente, The Needle Drop e o The Guardian), fiquei decidido a ouvir este misterioso álbum do DJ e produtor catalão, tendo ficado muito espantado com o resultado; em poucas palavras, fIN é um verdadeiro regalo musical.

Uma das coisas que se destaca de imediato em fIN é o seu tom hipnótico e intimista, que se faz sentir ao longo de quase todo o disco. Através da sua House minimalista e de uma instrumentação electrónica subtil e cerebral, John Talabot consegue criar um álbum bastante desafiante e bem-pensado. Contudo, não se pense que em fIN o produtor catalão renega por completo o lado mais “físico” da House; com recurso a ritmos e melodias extremamente contagiantes e infecciosas, que conferem ao LP um groove e um chamamento da dança inegáveis, Talabot revela um jogo de equilíbrios notável, que faz com que fIN nunca cai em extremos.

Ao nível estético, Talabot traz-nos um disco que mostra uma aposta clara numa sonoridade angular e pouco polida, mas que ainda assim se recusa a entrar no campo do abrasivo, ficando confortavelmente num meio-termo muito bem conseguido entre o “cru” e o “bem-sonante”. Ao nível da produção, a conjugação dos samples com os sintetizadores e com os beats electrónicos é muito bem conseguida, fazendo lembrar o trabalho desenvolvido por Caribou em Swim (2010).

Na voz, o que vemos em fIN é um uso da mesma para fins unicamente musicais e sonoros, algo demonstrado pela aplicação de filtros e efeitos como o vocoder ou o reverb, que tornam impossível de perceber quase todas as letras (se é que as há). Esse detalhe faz com que as vozes complementem de forma perfeita o tom geral do álbum. Em suma, fIN está cheio de qualidades, que fazem com que este seja um disco que se queira ouvir repetidas vezes.

Contudo, nem tudo está perfeito neste LP de Talabot. A encabeçar a lista dos defeitos está, com certeza, a homogenia in extremis que fIN nos apresenta, que se pode tornar enjoativa para alguns. Essa sensação de “déjà vu interno”, aliado a uma certa inconsistência que se faz sentir em alturas pontuais do disco não fazem, no entanto, com que fIN deixe de ser um belíssimo disco.

Na hora de escolher aquelas que são, para mim, as melhores faixas deste álbum, a suave e efervescente Destiny, a sombria e contagiante Oro y Sangre, a estrondosa e viciante Last Land, a cerebral e apelativa When the Past Was Present ou a fria e espantosa So Will Be Now… surgiram-me de imediato no pensamento como os pontos mais altos de fIN. Quantos às de que menos gostei, Depak Ine, El Oeste ou H.O.R.S.E. são, a meu ver, as peças que se destacam pela negativa.

Em suma, com um groove viciante e umas melodias cerebrais e irresistíveis, fIN é um belo tratado de música House bem pensada e de muito bom gosto. Com um sentido estético admirável, ambientes calmos e relaxantes e um irresistível apelo para a dança, este LP mostra-nos também um Talabot bastante seguro de si, e digno de todo o hype com que tem sido bombardeado. Pode não ser uma obra perfeita, mas fIN faz com que fiquemos à espera para saber mais deste produtor catalão.

Nota Final: 8,7/10

João Morais

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