sexta-feira, 13 de abril de 2012

Something

Projecto Indie Pop fundado em 2005, pelas mãos de Caroline Polachek, Patrick Wimberly e Aaron Pfenning, os Chairlift conseguiram, com Bruises (hit-single do disco de estreia de 2008, Does You Inspire You), entrar na cabeça de muito boa gente. Pois bem, já sem Pfenning, o (agora) duo decidiu lançar o seu segundo LP, Something, disponível nas lojas desde 24 de Janeiro, e que será hoje analisado.

Confesso que, apesar da espectacular e viciante Bruises, não posso dizer que Does You Inspire You me tenha deixado grande impressão. Com uma Indie Pop repetitiva e vulgar, o disco de estreia dos norte-americanos não me deixou com grandes esperanças para um segundo álbum. Contudo, depois de ter visto o hype que este Something estava a ter, decidi dar uma segunda oportunidade aos Chairlift, algo de que não me arrependo nem por um segundo. Apesar de não ser brilhante, Something consegue ser um disco bastante bom, e que demonstra uma banda de cara totalmente renovada.

Apesar de se manterem firmes no território da Indie Pop, os Chairlift mostram, com este segundo disco, uma maior maturidade e ambição. Indo buscar grande parte da inspiração para este álbum aos anos 80, mais propriamente à New Wave e ao Post-Punk anglo-saxónico de nomes como Talking Heads, Brian Eno ou até Devo, Polachek e Wimberly criaram, em Something, um álbum tudo menos banal, que consegue misturar de forma quase perfeita o encanto imediato da Pop com o desafio cerebral da música mais experimental.

Ao nível da produção, a cargo de Dan Carey e Alan Moulder, Something traz uma estética muito próxima da sonoridade dos anos 80; significa isto que, apesar de ser fundamentalmente polida e bem definida, não desdenha de algumas incursões num terreno mais abrasivo e “difícil”. No departamento lírico, dá-se a primazia aos temas introspectivos, surreais, e por vezes abstractos. Apesar de, em raras excepções, os Chairlift acabarem por escrever sobre clichés amorosos (como acontece em I Belong In Your Arms ou Take It Out On Me), não é nada que ponha em causa a qualidade das canções.

Na dinâmica das vozes, o que vemos em Something é um corte com o que foi feito em Does You Inspire You, com o desaparecimento quase total dos duetos entre Caroline e Patrick. Assim, assistimos a Caroline Polachek a assumir uma preponderância muito maior do que vimos em 2008, e notamos uma evolução (positiva) no registo da norte-americana. Mais doce, terna e até, por vezes, sedutora, Polachek consegue, com a sua voz, complementar de forma espantosa as linhas de baixo cheias de groove e os sintetizadores atmosféricos e tresloucados de Something.

Contudo, há alguns senãos neste LP. Apesar de ser um bom disco, Something falha, a meu ver, em manter a consistência ao logo de toda a sua duração, acabando por perder algum do seu apelo a partir da segunda metade. Essa falta de brio, aliada a uma certa homogeneidade que se torna, por vezes, um pouco excessiva, faz com que, apesar do potencial que promete, Something não atinja um patamar de excelência.

Na hora de escolher os pontos altos deste disco, a hipnotizante e enigmática Sidewalk Safari, a cerebral e cativante Wrong Opinion, a viciante e fresca I Belong In Your Arms, a gingona e quente Take It Out On Me ou a contagiante e convidativa Amanaemonesia, todas elas me enchem por completo as medidas. No outro lado do espectro, Cool As A Fire, Frigid Spring ou Turning são, a meu ver, as faixas menos conseguidas de Something.

Resumindo, com Something os norte-americanos Chairlift trazem-nos um disco que demonstra uma evolução notável no que à arte de fazer música diz respeito. Mais maduros, mais experientes e mais ousados, Caroline Polachek e Patrick Wimberly conseguiram assinar, em Something, um álbum de que podem ter orgulho. Pode não ser uma obra-prima, mas a sua audácia, a sua inovação e a sua qualidade no geral fazem com que este seja um belíssimo LP, e que garante entretenimento a todos os que gostam de experimental algo de diferente. Agora só espero que os Chairlift não demorem mais quatro anos a dar seguimento a este belo trabalho.

Nota Final: 8,0/10

João Morais

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