terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Roque Popular

Formados pelas mãos do veteraníssimo Jorge Cruz, em conjunto com outros nomes “sonantes” da música alternativa nacional, como Bernardo Barata e João Gil (dos Feromona), ou B Fachada (que abandonou o grupo este ano), os Diabo na Cruz são, indubitavelmente, um dos mais interessantes projectos que despontaram em Portugal nos últimos anos. Depois da estreia com o muito aclamado Virou!, em 2009, o grupo lançou a 23 de Abril deste ano o seu segundo LP, Roque Popular, e é dele que vamos falar hoje.

Apesar de já ser quase inútil fazer uma introdução aos Diabo na Cruz, devido à grande popularidade que granjeiam desde o lançamento do primeiro disco e das compridas tours que se lhe seguiram, sinto que é meu dever tentar fazê-lo. Imaginem uma fusão do Indie Rock anglo-saxónico dos anos 00 de grupos como The Strokes ou Franz Ferdinand com estruturas, sons e instrumentos vindos da música tradicional portuguesa e um sentimento de portugalidade muito bem vincado nas letras. O resultado é, mais coisa menos coisa, a premissa inicial do grupo de Jorge Cruz e que foi, na minha opinião, soberbamente executada em Virou!.

Por ter gostado tanto do primeiro álbum da banda, fiquei, devo admitir, imensamente entusiasmado quando soube que os Diabo na Cruz se estavam a preparar para lançar o seu sucessor, e nem as notícias da saída de B Fachada do grupo (sou fanboy assumido, lembram-se?) abalaram as minhas expectativas. E depois de ouvir o disco, devo dizer: apesar de não ser tão bom quanto Virou!, este Roque Popular é, na minha opinião, um dos melhores LP's nacionais de 2012.

Mantendo intacta a base da fórmula de sucesso do seu antecessor, de “casamento” do Indie Rock com a música tradicional e folclórica, Roque Popular traz-nos, ainda assim, algumas mudanças em relação a Virou!, sendo que a mais flagrante é, sem dúvida, o facto de se apresentar num tom muito menos “gingão” e festivo. Ao invés disso, vemos uma nova dinâmica na sonoridade do grupo, causada pela “bipolarização” das canções: ora são mais “roqueiras” (e mais pesadas), ora são autênticas baladas contemplativas.

Ao nível da produção, apesar de ser notório um maior aprumo e uma maior utilização de sintetizadores, a estética dos Diabo na Cruz mantém-se, na sua essência, muito directa e espartana, algo a louvar. No departamento lírico, Jorge Cruz volta a trazer-nos o seu olhar crítico sobre a sociedade portuguesa e sobre as dicotomias “cidade/campo” e “litoral/interior”, conjugada com uma entrega vocal crua e sentida, o que se traduz num registo muito honesto e espontâneo.

No entanto, apesar de todas as suas características positivas, Roque Popular fica aquém de ser um registo perfeito, tendo alguns defeitos que, na minha opinião, o impedem de atingir um patamar mais elevado de qualidade. O mais premente é, sem dúvida, o problema da perda do tom mais animado presente em Virou!, que retira algum do encanto gingão da sonoridade dos Diabo na Cruz. Aliado a isso está uma certa perda na dinâmica dos coros, causada pela saída de B Fachada e do seu registo sui generis, e a quebra de ritmo, trazida pelo aumento dos temas mais baladeiros.  

Quanto à escolha de pontos individuais, devo destacar a incendiária Bomba-Canção, a entusiasmante Baile na Eira, a saltitona Estrela da Serra, a fresca Pioneiros e a animada Siga a Rusga como as melhores peças deste Roque Popular. Quanto às faixas deste disco de que menos gostei, aponto as insonsas Sete Preces, Fronteira e Memorias dos Impotentes.

Concluindo, com o seu segundo álbum os Diabo na Cruz trazem-nos uma abordagem mais séria e musculada à sonoridade que nos mostraram em Virou!. Honesto, directo e sem rodeios, Roque Popular traz exactamente aquilo que o seu título promete: uma fusão do Rock mais alternativo e independente com um sentimento de tradição popular portuguesa bem presente, que, apesar de nem sempre estar perfeita, nunca o perde norte e mantém-se sempre fresca e inovadora. Resumindo, com todas as suas perfeições e imperfeições, Roque Popular é uma forte prova de que os Diabo na Cruz continuam a ser um dos melhores grupos portugueses da actualidade.

Nota Final: 8.2/10

João Morais 

Sem comentários:

Enviar um comentário