Formados pelas mãos do veteraníssimo Jorge Cruz, em conjunto com outros nomes “sonantes” da música
alternativa nacional, como Bernardo
Barata e João Gil (dos Feromona), ou B Fachada
(que abandonou o grupo este ano), os Diabo na Cruz são, indubitavelmente,
um dos mais interessantes projectos que despontaram em Portugal nos últimos
anos. Depois da estreia com o muito aclamado Virou!, em 2009, o grupo
lançou a 23 de Abril deste ano o seu segundo LP, Roque Popular, e é dele que vamos falar hoje.
Apesar de já ser quase inútil fazer uma introdução aos Diabo
na Cruz, devido à grande popularidade que granjeiam desde o lançamento
do primeiro disco e das compridas tours
que se lhe seguiram, sinto que é meu dever tentar fazê-lo. Imaginem uma fusão
do Indie Rock anglo-saxónico dos anos
00 de grupos como The Strokes ou Franz Ferdinand com estruturas, sons
e instrumentos vindos da música tradicional portuguesa e um sentimento de
portugalidade muito bem vincado nas letras. O resultado é, mais coisa menos
coisa, a premissa inicial do grupo de Jorge
Cruz e que foi, na minha opinião, soberbamente executada em Virou!.
Por ter gostado tanto do primeiro álbum da banda, fiquei,
devo admitir, imensamente entusiasmado quando soube que os Diabo na Cruz se estavam
a preparar para lançar o seu sucessor, e nem as notícias da saída de B Fachada do grupo (sou fanboy assumido, lembram-se?) abalaram
as minhas expectativas. E depois de ouvir o disco, devo dizer: apesar de não
ser tão bom quanto Virou!, este Roque Popular é, na minha opinião,
um dos melhores LP's nacionais de 2012.
Mantendo intacta a base da fórmula de sucesso do seu
antecessor, de “casamento” do Indie Rock
com a música tradicional e folclórica, Roque Popular traz-nos, ainda assim,
algumas mudanças em relação a Virou!, sendo que a mais flagrante
é, sem dúvida, o facto de se apresentar num tom muito menos “gingão” e festivo.
Ao invés disso, vemos uma nova dinâmica na sonoridade do grupo, causada pela “bipolarização”
das canções: ora são mais “roqueiras” (e mais pesadas), ora são autênticas
baladas contemplativas.
Ao nível da produção, apesar de ser notório um maior
aprumo e uma maior utilização de sintetizadores, a estética dos Diabo
na Cruz mantém-se, na sua essência, muito directa e espartana, algo a
louvar. No departamento lírico, Jorge
Cruz volta a trazer-nos o seu olhar crítico sobre a sociedade portuguesa e
sobre as dicotomias “cidade/campo” e “litoral/interior”, conjugada com uma
entrega vocal crua e sentida, o que se traduz num registo muito honesto e
espontâneo.
No entanto, apesar de todas as suas características
positivas, Roque Popular fica aquém de ser um registo perfeito, tendo alguns
defeitos que, na minha opinião, o impedem de atingir um patamar mais elevado de
qualidade. O mais premente é, sem dúvida, o problema da perda do tom mais
animado presente em Virou!, que retira algum do encanto gingão da sonoridade dos Diabo
na Cruz. Aliado a isso está uma certa perda na dinâmica dos coros,
causada pela saída de B Fachada e do
seu registo sui generis, e a quebra
de ritmo, trazida pelo aumento dos temas mais baladeiros.
Quanto à escolha de pontos individuais, devo destacar a
incendiária Bomba-Canção, a
entusiasmante Baile na Eira, a
saltitona Estrela da Serra, a fresca Pioneiros e a animada Siga a Rusga como as melhores peças
deste Roque Popular. Quanto às faixas deste disco de que menos
gostei, aponto as insonsas Sete Preces,
Fronteira e Memorias dos Impotentes.
Concluindo, com o seu segundo álbum os Diabo
na Cruz trazem-nos uma abordagem mais séria e musculada à sonoridade
que nos mostraram em Virou!. Honesto, directo e sem
rodeios, Roque Popular traz exactamente aquilo que o seu título promete:
uma fusão do Rock mais alternativo e
independente com um sentimento de tradição popular portuguesa bem presente, que,
apesar de nem sempre estar perfeita, nunca o perde norte e mantém-se sempre fresca e
inovadora. Resumindo, com todas as suas perfeições e imperfeições, Roque Popular é uma forte prova de que os Diabo na Cruz continuam a ser um dos melhores grupos portugueses da actualidade.
Nota Final: 8.2/10
João Morais
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