Com o final de ano a aproximar-se chega
também a altura de olhar para os últimos 12 meses e analisar os discos que
“escaparam” das malhas das reviews,
para poder ter um panorama mais completo do que foi a música de 2011. Para o MDC
esse trabalho é longo e árduo, e por isso inicio aqui uma rubrica que será
recorrente nos próximos dias, o Curtas 2011, que visa dar uma breve
vista de olhos pelos álbuns que, infelizmente, foram negligenciados aquando do
seu lançamento, mas que se vêem agora justiçados.
Father, Son, Holy Ghost – Girls (Setembro)
- Após o hype de Album (2009), LP de estreia dos Girls que fundia o Lo-fi tipicamente Indie com um leque vasto de influências como The Beach Boys, Elvis Costello ou Spiritualized, o grupo de Christopher Owens voltou este ano a estúdio para lançar este Father, Son, Holy Ghost,
um disco que traz algumas mudanças na sonoridade da banda. Uma produção mais
polida e com muito menos Lo-fi, e um
som fortemente influenciado pelos anos 60 e 70 (veja-se Die, que “tresanda” a Fleetwood Mac) traduzem-se num disco
que é, a meu ver, mais fraco que o seu antecessor, mas que ainda assim consegue
ser um belo registo, merecedor de atenção por parte dos melómanos fãs de Indie Rock.
Pontos
altos:
- Die
-
Vomit
-
Jamie Marie
Nota
Final: 7,0/10
Gloss Drop – Battles (Junho)
- Reflexo da saída do vocalista e
multi-instrumentalista Tyondai Braxton,
este Gloss
Drop revela-se como um álbum maioritariamente instrumental, se bem que
pontualmente polvilhado de (brilhantes) participações especiais de vocalistas
convidados (como Gary Numan em My Machines ou Matias Aguayo em Ice Cream).
No geral, o Math Rock dos
nova-iorquinos Battles surge em Gloss Drop mais fluído e solto do
que em Mirrored (2007), traduzindo-se num LP bastante experimental,
mas com uma enorme consistência ao nível da qualidade. Fica-se à espera do que
estes norte-americanos terão para dizer no próximo disco, mas a verdade é que
este Gloss
Drop colocou a fasquia num patamar bastante elevado.
Pontos
altos:
- Ice Cream
- Wall
Street
- White
Electric
Nota
Final: 8,3/10
James Blake – James Blake (Fevereiro)
- Visto por várias publicações de música
como o disco do ano, este primeiro LP do britânico James Blake veio surpreender muita gente com a forma como juntou Electronica e Post-Dubstep com Soul e R&B, cortando com a tendência que
tinha vindo a seguir nos EP’s que antecederam este James Blake. Contudo,
apesar da inovação ser bastante interessante, não posso dizer que este registo
me tenha conquistado por inteiro. É certo que estão aqui presentes canções de
grande nível, com uma sensibilidade tocante, mas a verdade é que, a meu ver,
algumas das faixas com maior potencial acabaram por ser “esmagadas” pelo
experimentalismo cego da sua Electronica
e o uso constante do Auto-Tune. Em
suma, não é uma má estreia, mas acabou por me parecer apenas uns furos acima do mediano.
Pontos
altos:
-
The Wilhelm Scream
-
Limit to Your Love
-
To Care (Like You)
Nota
Final: 6,8/10
The Hunter – Mastodon (Setembro)
- Quinto álbum de um dos nomes mais
sonantes do Sludge Metal, The
Hunter mostra uns Mastodon que decidiram fazer algumas
reestruturações na sua fórmula clássica. Mudando um cânone cujas origens
remontam a Remission (2002), The Hunter afasta os épicos
conceptuais “Prog-escos” de 15
minutos e aposta em 13 canções curtas, fortes e directas. Contudo, existe uma
certa continuidade, tanto na sonoridade de base (que se mantém numa fusão entr
o Sludge e o Progressive Metal) como nas líricas (que preservam a estética
baseada em grandes clássicos da literatura e mitologias ancestrais), que irá de
certo agradar à “velha guarda” dos fãs do grupo. Resumindo, The
Hunter é um belíssimo disco que veio trazer uma certa frescura a uma
fórmula vencedora.
Pontos
altos:
-
Black Tongue
-
Blasteroid
-
Dry Bone Valley
Nota
Final: 8,0
Metals – Feist (Outubro)
- Que seria difícil suceder ao
hiper-aclamado The Reminder (2007), já toda a gente sabia. Infelizmente, eu
não estava à espera de ficar tão desiludido com o quarto disco da canadiana Leslie Feist. Apesar de louvar a
tentativa de inovação, e da exploração de ambientes mais negros e
introspectivos, a verdade é que este Metals não consegue passar da
mediocridade, pois acaba por se tornar demasiado monótono e sonolento, devido
ao excessivo uso do “piano choradinho”, que falha em complementar bem as canções. Embora estejam também presentes algumas
peças de grande qualidade, que de facto mostram o quão talentosa Feist, a verdade é que este Metals
acaba por ser, na minha opinião, um grande retrocesso em relação ao trabalho
demonstrado em The Reminder.
Pontos
altos:
- A
Commotion
-
Undiscovered First
-
Comfort Me
Nota
Final: 5,5/10
The Year of Hibernation – Youth Lagoon (Setembro)
- Projecto nascido da mente de Trevor Powers, Youth Lagoon é um dos nomes que mais hype tem gerado dentro da cena Indie
norte-americana. Com uma estética Chillwave
bem presente, The Year of Hibernation prima pelo tom intimista e tocante que
a mistura da Lo-fi, Synthpop e Dream Pop conferem à sonoridade deste disco. Contudo, esta pequena
pérola de 8 faixas não é perfeita, pelo que se nota alguma homogeneidade no
registo, que faz com que às vezes pareça que não há quase diferença entre
canções. Contudo, esta é uma bela estreia de Powers, que irá fazer as delícias de muito aficionado do Chillwave. Destaque também para 17, um dos grandes temas de 2011.
Pontos
altos:
-
Afternoon
-
17
-
Daydream
Nota
Final: 7,7/10
Bon Iver, Bon Iver – Bon Iver (Junho)
- Começando como projecto a solo do
norte-americano Justin Vernon, que
se tornou num dos grandes nomes do Indie em
2008 com o brilhante For Emma, Forever Ago, Bon
Iver
(agora em formato banda) regressou este ano com o duplamente homónimo Bon
Iver, Bon Iver, um disco que conseguiu surpreender toda a gente, pela
inesperada transição directa do Folk
para o Baroque Pop, o que acaba por
ser, para mim, tanto bom quanto mau. Apesar de apreciar a constante inovação e
renovação por parte dos artistas, a verdade é que a ruptura de um intimismo
solitário do duo cantautor/guitarra para uma panóplia imensa de sons e
instrumentos acaba por, em algumas ocasiões, “encher” o som e matar a
“sinceridade” que eu tanto apreciei em For Emma, Forever Ago. Conclusão: Bon
Iver, Bon Iver é um bom disco, mas confesso que esperava melhor.
Pontos altos:
-
Perth
-
Holocene
- Calgary
Nota
Final: 7,3/10
Goblin – Tyler, The Creator (Maio)
- Um dos principais membros dos Odd
Future (ou OFWGKTA), grupo de rappers
e produtores de Alternative Hip-Hop
californianos, Tyler, The Creator é,
provavelmente, o artista mais polémico de 2011, quer pelas acusações de
misoginia e homofobia de que é alvo, que pelos polémicos videoclips
que imagina para as suas canções. Este ano, lançou o sucessor de Bastard
(2009), Goblin, o seu segundo disco a solo, e cuja sonoridade se mantém
bem assente em letras provocantes e em ritmos electrónicos gélidos, mas que
acaba por falhar em suceder condignamente ao “primogénito”, devido à sua
gritante irregularidade ao nível da qualidade. É certo que algumas canções são
bastante boas, mas no geral confesso-me desiludido com este Goblin.
Pontos
altos:
- Yonkers
-
She
-
Sandwitches
Nota
Final: 5,3/10
Era Extraña – Neon Indian (Setembro)
- Para quem não conhece, os Neon
Indian são um dos grandes nomes do movimento Chillwave (a par de projectos como Toro Y Moi ou Washed Out), criado pelas mãos de Alan Palomo, e que se estreou em 2009,
com o mui badalado Psychic Chasms. Agora, em 2011, surge o segundo disco da banda,
Era
Extraña, que continua na linha de fusão do Indie Pop com a Lo-fi que
imperava em Psychic Chasms, mas de forma mais sólida e consistente, algo
que me agradou imenso. Os vocais etéreos, as batidas frenéticas, as distorções
hipnóticas,os samples de antigos
jogos de arcada (oiça-se Arcade Blues),
tudo se conjuga muito bem neste belíssimo Era Extraña.
Pontos
altos:
-
Polish Girl
-
Hex Girlfrend
-
Halogen (I Could Be A Shadow)
Nota
Final: 8,0/10
Ceremonials – Florence +
the Machine (Outubro)
- Confesso que não morri de amores por Lungs
(2009), álbum de estreia da britânica Florence Welch e da sua máquina que conseguiu arrebatar os corações
de muito boa gente. Por isso, não é de estranhar que não tenha ficado
propriamente entusiasmado com o lançamento do seu sucessor, Ceremonials,
mas ainda assim decidi dar-lhe uma chance e ouvi-lo. O resultado; apesar de
ainda não me ter convertido ao culto de seguidores da ruiva que reina no mundo
da Indie Pop, a verdade é que este
segundo LP mostra uma sonoridade mais madura, com uma produção mais aprumada e
com instrumentações mais bem conseguidas. É preciso dar crédito aonde ele é
merecido, e a verdade é que Ceremonials conseguiu subir a
fasquia para os Florence + the Machine,
mesmo que o som do grupo continue a soar-me bastante mediano. Talvez para a
próxima eu me deixe conquistar, mas até lá, continuamos assim.
Pontos
altos:
-
Shake It Out
-
No Light, No Light
-
Spectrum
Nota
Final: 5,8/10
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